A Cinco Tons: Responsabilidade política

05-08-2010
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Sou dos que não entende que os políticos tenham de ser pessoas puras ou incapazes de “pisar o risco”. Mas acho que devem ter um bom comportamento cívico e político, insusceptível de gerar desconfiança nos cidadãos. António Guterres demitiu-se por considerar que o país estava a entrar num pântano. António Vitorino demitiu-se por terem levantado dúvidas sobre o pagamento da sisa de uma propriedade que comprou. Jorge Coelho demitiu-se na sequência do acidente na ponte de Entre-os-Rios. Carlos Borrego e Manuel Pinho demitiram-se ou foram demitidos por graçolas. Murteira Nabo e Miguel Cadilhe demitiram-se ou foram demitidos por não terem pago o devido valor de Sisa. Outros exemplos se poderiam dar de demissões de governantes devido a impotência política face a problemas da governação com que se defrontaram ou por comportamentos cívicos e políticos menos correctos. É neste quadro, e apesar de sermos uma nação de brandos costumes, que devemos analisar os “casos” que, cada vez mais, atingem a imagem e a honorabilidade de José Sócrates. O seu nome tem sido envolvido em inúmeros “casos”, que não só põem em causa o seu carácter mas também, e principalmente, a sua acção enquanto ministro e primeiro-ministro, chegando ao ponto de um juiz considerar que podia estar a desrespeitar o estado de direito democrático. É aqui, que nos devemos concentrar, na avaliação da responsabilidade política de José Sócrates. “À mulher de César não basta ser séria, tem de parecer que é séria” é uma frase antiga, repetida vezes sem conta. É também isso que se espera de um primeiro-ministro. Ele até pode ser sério, mas cada vez há mais gente que não acredita na sua seriedade, incluindo muitos dos que têm apoiado a sua acção, quer enquanto líder do PS quer como primeiro-ministro. Será que perante esta perda progressiva de confiança que José Sócrates tem vindo a registar, se as oposições se apresentassem com alternativas credíveis ele ainda se mantinha como primeiro-ministro e, até, como líder do PS? Não creio. Julgo que os portugueses estão a ser tolerantes com os alegados “crimes de corrupção e de lesa estado de direito democrático” com base no mesmo princípio que reelegem autarcas e outros líderes “corruptos” ou acusados dos mais variados crimes, ou seja, o do mal menor. A questão que se coloca, face a esta situação, é a de saber até quando José Sócrates vai continuar a ser considerado um “mal menor” e passa a ser considerado “o mal maior”. Ou se, inspirado em António Guterres, considera que já está demasiado “atascado no pântano” e dá o lugar a outro. Se já o tivesse feito ou se ainda lhe restar algum “benefício da dúvida” talvez o PS pudesse continuar a governar com outro primeiro-ministro. Será que o PS é capaz de fazer esta avaliação?


Sou dos que não entende que os políticos tenham de ser pessoas puras ou incapazes de “pisar o risco”. Mas acho que devem ter um bom comportamento cívico e político, insusceptível de gerar desconfiança nos cidadãos. António Guterres demitiu-se por considerar que o país estava a entrar num pântano. António Vitorino demitiu-se por terem levantado dúvidas sobre o pagamento da sisa de uma propriedade que comprou. Jorge Coelho demitiu-se na sequência do acidente na ponte de Entre-os-Rios. Carlos Borrego e Manuel Pinho demitiram-se ou foram demitidos por graçolas. Murteira Nabo e Miguel Cadilhe demitiram-se ou foram demitidos por não terem pago o devido valor de Sisa. Outros exemplos se poderiam dar de demissões de governantes devido a impotência política face a problemas da governação com que se defrontaram ou por comportamentos cívicos e políticos menos correctos. É neste quadro, e apesar de sermos uma nação de brandos costumes, que devemos analisar os “casos” que, cada vez mais, atingem a imagem e a honorabilidade de José Sócrates. O seu nome tem sido envolvido em inúmeros “casos”, que não só põem em causa o seu carácter mas também, e principalmente, a sua acção enquanto ministro e primeiro-ministro, chegando ao ponto de um juiz considerar que podia estar a desrespeitar o estado de direito democrático. É aqui, que nos devemos concentrar, na avaliação da responsabilidade política de José Sócrates. “À mulher de César não basta ser séria, tem de parecer que é séria” é uma frase antiga, repetida vezes sem conta. É também isso que se espera de um primeiro-ministro. Ele até pode ser sério, mas cada vez há mais gente que não acredita na sua seriedade, incluindo muitos dos que têm apoiado a sua acção, quer enquanto líder do PS quer como primeiro-ministro. Será que perante esta perda progressiva de confiança que José Sócrates tem vindo a registar, se as oposições se apresentassem com alternativas credíveis ele ainda se mantinha como primeiro-ministro e, até, como líder do PS? Não creio. Julgo que os portugueses estão a ser tolerantes com os alegados “crimes de corrupção e de lesa estado de direito democrático” com base no mesmo princípio que reelegem autarcas e outros líderes “corruptos” ou acusados dos mais variados crimes, ou seja, o do mal menor. A questão que se coloca, face a esta situação, é a de saber até quando José Sócrates vai continuar a ser considerado um “mal menor” e passa a ser considerado “o mal maior”. Ou se, inspirado em António Guterres, considera que já está demasiado “atascado no pântano” e dá o lugar a outro. Se já o tivesse feito ou se ainda lhe restar algum “benefício da dúvida” talvez o PS pudesse continuar a governar com outro primeiro-ministro. Será que o PS é capaz de fazer esta avaliação?

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