Alguém se recorda?

26-05-2011
marcar artigo

NUMA NOITE de finais de Novembro de 1967, uma tromba de água, que assolou Lisboa e os seus arredores, provocou um número indeterminado de mortos. Sabe-se apenas que foram largas centenas, tendo a Censura feito os possíveis e os impossíveis para impedir a sua divulgação. E percebia-se porque o fazia: é que às causas naturais haviam-se somado as humanas: a construção das casas (frágil, caótica e em leitos de cheia), os esgotos (mal dimensionados, entupidos ou mesmo inexistentes), as ribeiras bloqueadas (com vegetação, detritos e lixo) - tudo isso junto com a miséria e a ausência de planos de emergência eficazes só podia ter dado o que deu.Houve ainda uma outra variável que enfureceu o regime: as Associações de Estudantes mobilizaram-se rapidamente, e milhares de jovens acorreram às zonas atingidas - muitos deles (oriundos da burguesia urbana) tomando, pela primeira vez e de forma traumática, contacto com a realidade portuguesa.Integrado nesse movimento, estive em Queijas e em Alhandra, e fiquei com a impressão de que, especialmente na primeira, muitas das vítimas devem ter morrido sem perceberem o que lhes estava a acontecer: uma enxurrada de lama, vinda de noite e inesperadamente, havia entrado pelas casas adentro (atingindo os tectos), soterrando tudo e todos.

NUMA NOITE de finais de Novembro de 1967, uma tromba de água, que assolou Lisboa e os seus arredores, provocou um número indeterminado de mortos. Sabe-se apenas que foram largas centenas, tendo a Censura feito os possíveis e os impossíveis para impedir a sua divulgação. E percebia-se porque o fazia: é que às causas naturais haviam-se somado as humanas: a construção das casas (frágil, caótica e em leitos de cheia), os esgotos (mal dimensionados, entupidos ou mesmo inexistentes), as ribeiras bloqueadas (com vegetação, detritos e lixo) - tudo isso junto com a miséria e a ausência de planos de emergência eficazes só podia ter dado o que deu.Houve ainda uma outra variável que enfureceu o regime: as Associações de Estudantes mobilizaram-se rapidamente, e milhares de jovens acorreram às zonas atingidas - muitos deles (oriundos da burguesia urbana) tomando, pela primeira vez e de forma traumática, contacto com a realidade portuguesa.Integrado nesse movimento, estive em Queijas e em Alhandra, e fiquei com a impressão de que, especialmente na primeira, muitas das vítimas devem ter morrido sem perceberem o que lhes estava a acontecer: uma enxurrada de lama, vinda de noite e inesperadamente, havia entrado pelas casas adentro (atingindo os tectos), soterrando tudo e todos.

marcar artigo