No Cesto da Gávea: Obama não devolve a piscadela, por Uri Avnery

18-12-2009
marcar artigo


NB: Este texto é datado de 13 de Junho, ou seja, foi escrito cerca de 24 horas antes do discurso de Binyamin Netanyahu.Recordam-se de Dov Weisglass [1]? O que disse que a paz tem de esperar até que os palestinos se tornem finlandeses? Que falou sobre a preservação do processo de paz em formol? Contudo Weisglass será menos lembrado pela sua boca do que pelos seus olhos. Weisglass é o Rei da Piscadela. Esta semana, Binyamin Netanyahu chamou-o para consultas urgentes. Ele precisava de uma lição em como “trabalhar com os olhos” (como se diz “fazer batota”, em calão, no Hebraico moderno). A piscadela é o principal instrumento no projecto de colonização. O piscar é o verdadeiro pai dos colonatos. Os colonos piscam. O governo pisca. O funcionário não emite uma licença, mas pisca. Eles dizem que não, e piscam. Piscam e constroem. Piscam e ligam à electricidade e à água. Piscam e enviam soldados para proteger os postos avançados, e também para eliminar os palestinos dos campos adjacentes e dos olivais. A piscadela é também o principal instrumento da diplomacia israelita. Tudo é feito por piscadelas. Os americanos exigem um congelamento dos colonatos - e piscam. Os israelitas concordam com o congelamento - e devolvem a piscadela. O problema é que não há qualquer símbolo para piscadela. O computador não tem nenhum símbolo standard. Assim, Hillary Clinton poderá honestamente afirmar esta semana que a piscadela não está documentada em qualquer acordo assinado por Israel e os E.U.A. Nem qualquer memorando de conversações. Portanto, não há entendimentos. Não existe rasto de uma piscadela em qualquer arquivo ou documento. Pior: parece que, na cultura afro-americana a piscadela é desconhecida. Quando Netanyahu chegou à Casa Branca e piscou o olho - Barack Obama não respondeu. Piscou novamente e novamente Obama não entendeu. Piscou e piscou e piscou. até o seu rosto doer – e nada. Obama pensou que Netanyahu talvez tivesse um tique nervoso. Realmente embaraçoso. O que se pode fazer com alguém que não pisca? Como, pelo amor de Deus, se consegue que ele devolva a piscadela? ESTE É o principal problema do Primeiro-Ministro de Israel. No domingo ele irá fazer um Importante Discurso. Não apenas grande, Histórico. A sua resposta ao retumbante discurso de Obama no Egipto. Tudo foi feito para colocar os dois eventos no mesmo nível. Obama falou na Universidade do Cairo? Netanyahu vai falar na Universidade Bar-Ilan, a instituição religiosa de direita que alimentou o assassino de Yitzhak Rabin. Mas essa é a única semelhança. Obama delineou os contornos de um novo Médio Oriente? Netanyahu irá delinear os contornos do Antigo Médio Oriente. Obama falou de um futuro de paz, cooperação e respeito mútuo? Netanyahu vai falar de um passado de Holocausto, violência, ódio e medo. O maior problema de Netanyahu é fazer crer que o velho é novo. Para fazer que os velhos e cansados clichês soem como o toque de reunir para o futuro. Mas como fazer isso sem usar piscadelas, enfrentando uma pessoa que não entende piscadelas? Como falar sobre o "crescimento natural" dos colonatos sem piscar? Como falar de um Estado palestino sem piscar? Como falar de acelerar as negociações de paz com os palestinos sem piscar? A maioria dos peritos alfaiates foram chamados para aconselhamento sobre as novas roupas do imperador. Ministros e membros Knesset, professores e mágicos e, naturalmente, Shimon Peres. Todos eles se juntaram à chamada: talhar um belo manto, calças à moda e uma gravata colorida – que só os mais sábios entre todos verão. Desde que pudessemos contar com o Holocausto. Dissemos Holocausto, e a sala ficou silenciosa. Podemos reprimir os palestinos, roubar as suas terras, criar colonatos, espalhar postos de controle por toda parte como excrementos de moscas, bloquear Gaza e assim por diante. Quando o Gentio [Goyim: não-judeu] abriu a boca para protestar, gritamos "Holocausto" - e as palavras congelaram nos seus lábios. Então o que fazer com alguém que fala incessantemente sobre o Holocausto e denuncia os seus negacionistas? Alguém que realmente se incomoda a visitar um campo de concentração e arrasta com ele o "Sr. Holocausto", Elie Wiesel, em pessoa? Não admira que o nosso Primeiro-Ministro dê voltas na sua cama e não encontre descanso para a sua alma. Netanyahu sem o Holocausto é como o Papa, sem a cruz. Netanyahu, sem um "segundo Holocausto" - como poderá falar sobre o Irão? O que poderá dizer sobre o Perigo Existencial, que nos impede de desmantelar cabanas na Judéia e choupanas na Samaria? (Graças a Deus pelas pequenas mercês: pelo menos Mahmoud Ahmadinejad, o nosso principal trunfo na região, foi reeleito.) ENTÃO, como vai Netanyahu armar o seu Histórico Discurso? Ele terá de tentar martelar uma cavilha quadrada num buraco redondo. Dizer Sim quando quer dizer Não. Isso é o que seus antecessores fizeram. Ehud Barak fê-lo. Ariel Sharon fê-lo. Ehud Olmert fê-lo. Com uma grande diferença: eles fizeram isso com uma leve piscadela. Netanyahu terá de fazê-lo com uma cara séria. Ele deve falar dos Dois Estados, sem mencionar os dois estados. Falar sobre o congelamento dos colonatos, enquanto as obras de construção estão em curso e a toda a velocidade. No passado, havia muitas maneiras de continuar a colonização. "O cérebro Judeu produz patentes", como uma popular canção Hebraica entoa. Novos bairros foram construídos sob a pretensão de que eram simplesmente uma extensão dos já existentes - a uma distância de dez metros, ou de cem, ou de mil ou de dois mil, desde que estivessem ao alcance da vista. Ou era dito que a actividade de construção tinha lugar dentro do perímetro dos colonatos existentes - ajudado pelo facto de que a área municipal do colonato de Maaleh Adumin, por exemplo, é oficialmente tão grande como toda a Tel-Aviv. Pode-se também brandir a famosa carta de George W. Bush, na qual ele expressou a sua opinião de que em qualquer futuro acordo de paz os “ existentes centros populacionais israelitas” devem ser ligados a Israel. Mas Bush não definiu os “centros populacionais” nem esboçou as suas fronteiras. E certamente não disse que estamos autorizados a construir lá antes da assinatura de um acordo final, incluindo a possível troca de território. Não que ele tivesse qualquer autoridade para decidir essas questões. Pode-se também falar de "crescimento natural". Não há problema: as mulheres podem ser transformadas em fábricas de crianças, de preferência gémeos e trigémeos. Além disso, podem adoptar crianças a partir da idade de 1 no até aos 101 anos. Afinal, se houver uma nova criança na família, precisa-se de construir um outro quarto, uma outra casa, um outro bairro. (Já agora o "crescimento natural" é, obviamente, um assunto estritamente judaico. Os árabes não têm qualquer crescimento natural. O seu crescimento é antinatural.) E SOBRE o Estado da Palestina, tal como projectado por Obama? A TV israelita fez um belo trabalho esta semana, quando nos lembrou o que Netanyahu disse há apenas seis anos atrás: "Um Estado palestino - NÃO!" porque "Um Sim a um Estado palestino, significa um Não ao Estado judeu." Netanyahu parece pensar que é apenas uma questão de forma. Pode até referir que, no passado, já aceitámos o Roteiro, que contém algo sobre um Estado palestino. É verdade, nós aceitámos, condicionando-o a 14 cláusulas restritivas, castrando-o e transformando-o num pedaço de papel inútil. Mas talvez Obama fique contente com isso. Resumindo: não há necessidade de falar sobre os Dois Estados, quando já foram mencionados no Roteiro (que o seu nome seja amaldiçoado), que declarámos morto há muito tempo, mas que agora considerámos vivo novamente, quando alguma coisa como dois estados é mencionada, por isso não há necessidade de repeti-lo - é suficiente a ele aludir de uma forma oblíqua. Mas que fazer se, apesar de tudo, os americanos insistirem que Netanyahu emita as duas palavras "Estado palestino" da sua própria boca? Se não houver saída, Netanyahu pode murmurar entre dentes de alguma maneira, silenciosamente acrescentando ora-ora e ruidosamente acrescentando qualificações que o esvaziem de todo o conteúdo. Foi o que Barak fez, e depois Sharon, e de seguida Olmert. As declarações de Tzipi Livni e do seu povo produzem a impressão de que estão presos no mesmo ponto. Eles também parecem estar convencidos de que podemos continuar a falar de dois estados e fazendo exactamente o contrário, de congelar os colonatos e continuando a construir. Nenhuma nova mensagem é proveniente deste campo, apenas críticas a Netanyahu por não mudar o seu estilo para agradar a Obama. MAS O QUE Obama está a pedir não é uma nova formulação dos antigos slogans. Ele exige a aceitação do princípio dos Dois Estados como uma base de acção concreta e rigorosa: alcançar um acordo sobre o estabelecimento de um Estado chamado Palestina, com capital em Jerusalém Oriental, sem colonatos e toda a outra parafernália da ocupação. Ele exige o início imediato das negociações, para que dentro de dois ou três anos - antes do final do seu mandato actual - uma verdadeira paz seja estabelecida, uma paz que garanta a existência e a segurança do "Estado judeu de Israel" (como George Mitchell pô-lo esta semana) e do estado árabe da Palestina, lado a lado. Tudo isso como parte de uma nova ordem para o Grande Médio Oriente, do Paquistão a Marrocos, e como parte de uma visão à escala mundial. Face a esta exigência, nem piscadelas a la Weisglass ou truques verbais a la Peres serão de qualquer proveito. No discurso de amanhã, [Domingo] Netanyahu terá de escolher entre três alternativas: uma colisão frontal com os Estados Unidos, uma total mudança na sua política, ou a demissão. A era das piscadelas acabou. [1] Dov Weisglass é um advogado e homem de negócios israelita que esteve intimamente ligado ao processo de paz no Médio Oriente, em particular durante o mandato do Primeiro-Ministro Ariel Sharon. Como chefe de gabinete foi o rosto de Sharon durante as negociações para a retirada de 2004 e o seu delegado diplomático nas negociações com o Secretário de Estado Colin Powell e com Condoleezza Rice, na altura consultora para a Segurança Nacional dos E.U.A. Para além das observações, definidoras dos seus “valores”, acima reproduzidas por Uri Avnery aqui fica uma outra sobre o bloqueio de Gaza: "pusemos-los a dieta” (In: Steel, M. The Independent 31 Dezembro de 2008).


NB: Este texto é datado de 13 de Junho, ou seja, foi escrito cerca de 24 horas antes do discurso de Binyamin Netanyahu.Recordam-se de Dov Weisglass [1]? O que disse que a paz tem de esperar até que os palestinos se tornem finlandeses? Que falou sobre a preservação do processo de paz em formol? Contudo Weisglass será menos lembrado pela sua boca do que pelos seus olhos. Weisglass é o Rei da Piscadela. Esta semana, Binyamin Netanyahu chamou-o para consultas urgentes. Ele precisava de uma lição em como “trabalhar com os olhos” (como se diz “fazer batota”, em calão, no Hebraico moderno). A piscadela é o principal instrumento no projecto de colonização. O piscar é o verdadeiro pai dos colonatos. Os colonos piscam. O governo pisca. O funcionário não emite uma licença, mas pisca. Eles dizem que não, e piscam. Piscam e constroem. Piscam e ligam à electricidade e à água. Piscam e enviam soldados para proteger os postos avançados, e também para eliminar os palestinos dos campos adjacentes e dos olivais. A piscadela é também o principal instrumento da diplomacia israelita. Tudo é feito por piscadelas. Os americanos exigem um congelamento dos colonatos - e piscam. Os israelitas concordam com o congelamento - e devolvem a piscadela. O problema é que não há qualquer símbolo para piscadela. O computador não tem nenhum símbolo standard. Assim, Hillary Clinton poderá honestamente afirmar esta semana que a piscadela não está documentada em qualquer acordo assinado por Israel e os E.U.A. Nem qualquer memorando de conversações. Portanto, não há entendimentos. Não existe rasto de uma piscadela em qualquer arquivo ou documento. Pior: parece que, na cultura afro-americana a piscadela é desconhecida. Quando Netanyahu chegou à Casa Branca e piscou o olho - Barack Obama não respondeu. Piscou novamente e novamente Obama não entendeu. Piscou e piscou e piscou. até o seu rosto doer – e nada. Obama pensou que Netanyahu talvez tivesse um tique nervoso. Realmente embaraçoso. O que se pode fazer com alguém que não pisca? Como, pelo amor de Deus, se consegue que ele devolva a piscadela? ESTE É o principal problema do Primeiro-Ministro de Israel. No domingo ele irá fazer um Importante Discurso. Não apenas grande, Histórico. A sua resposta ao retumbante discurso de Obama no Egipto. Tudo foi feito para colocar os dois eventos no mesmo nível. Obama falou na Universidade do Cairo? Netanyahu vai falar na Universidade Bar-Ilan, a instituição religiosa de direita que alimentou o assassino de Yitzhak Rabin. Mas essa é a única semelhança. Obama delineou os contornos de um novo Médio Oriente? Netanyahu irá delinear os contornos do Antigo Médio Oriente. Obama falou de um futuro de paz, cooperação e respeito mútuo? Netanyahu vai falar de um passado de Holocausto, violência, ódio e medo. O maior problema de Netanyahu é fazer crer que o velho é novo. Para fazer que os velhos e cansados clichês soem como o toque de reunir para o futuro. Mas como fazer isso sem usar piscadelas, enfrentando uma pessoa que não entende piscadelas? Como falar sobre o "crescimento natural" dos colonatos sem piscar? Como falar de um Estado palestino sem piscar? Como falar de acelerar as negociações de paz com os palestinos sem piscar? A maioria dos peritos alfaiates foram chamados para aconselhamento sobre as novas roupas do imperador. Ministros e membros Knesset, professores e mágicos e, naturalmente, Shimon Peres. Todos eles se juntaram à chamada: talhar um belo manto, calças à moda e uma gravata colorida – que só os mais sábios entre todos verão. Desde que pudessemos contar com o Holocausto. Dissemos Holocausto, e a sala ficou silenciosa. Podemos reprimir os palestinos, roubar as suas terras, criar colonatos, espalhar postos de controle por toda parte como excrementos de moscas, bloquear Gaza e assim por diante. Quando o Gentio [Goyim: não-judeu] abriu a boca para protestar, gritamos "Holocausto" - e as palavras congelaram nos seus lábios. Então o que fazer com alguém que fala incessantemente sobre o Holocausto e denuncia os seus negacionistas? Alguém que realmente se incomoda a visitar um campo de concentração e arrasta com ele o "Sr. Holocausto", Elie Wiesel, em pessoa? Não admira que o nosso Primeiro-Ministro dê voltas na sua cama e não encontre descanso para a sua alma. Netanyahu sem o Holocausto é como o Papa, sem a cruz. Netanyahu, sem um "segundo Holocausto" - como poderá falar sobre o Irão? O que poderá dizer sobre o Perigo Existencial, que nos impede de desmantelar cabanas na Judéia e choupanas na Samaria? (Graças a Deus pelas pequenas mercês: pelo menos Mahmoud Ahmadinejad, o nosso principal trunfo na região, foi reeleito.) ENTÃO, como vai Netanyahu armar o seu Histórico Discurso? Ele terá de tentar martelar uma cavilha quadrada num buraco redondo. Dizer Sim quando quer dizer Não. Isso é o que seus antecessores fizeram. Ehud Barak fê-lo. Ariel Sharon fê-lo. Ehud Olmert fê-lo. Com uma grande diferença: eles fizeram isso com uma leve piscadela. Netanyahu terá de fazê-lo com uma cara séria. Ele deve falar dos Dois Estados, sem mencionar os dois estados. Falar sobre o congelamento dos colonatos, enquanto as obras de construção estão em curso e a toda a velocidade. No passado, havia muitas maneiras de continuar a colonização. "O cérebro Judeu produz patentes", como uma popular canção Hebraica entoa. Novos bairros foram construídos sob a pretensão de que eram simplesmente uma extensão dos já existentes - a uma distância de dez metros, ou de cem, ou de mil ou de dois mil, desde que estivessem ao alcance da vista. Ou era dito que a actividade de construção tinha lugar dentro do perímetro dos colonatos existentes - ajudado pelo facto de que a área municipal do colonato de Maaleh Adumin, por exemplo, é oficialmente tão grande como toda a Tel-Aviv. Pode-se também brandir a famosa carta de George W. Bush, na qual ele expressou a sua opinião de que em qualquer futuro acordo de paz os “ existentes centros populacionais israelitas” devem ser ligados a Israel. Mas Bush não definiu os “centros populacionais” nem esboçou as suas fronteiras. E certamente não disse que estamos autorizados a construir lá antes da assinatura de um acordo final, incluindo a possível troca de território. Não que ele tivesse qualquer autoridade para decidir essas questões. Pode-se também falar de "crescimento natural". Não há problema: as mulheres podem ser transformadas em fábricas de crianças, de preferência gémeos e trigémeos. Além disso, podem adoptar crianças a partir da idade de 1 no até aos 101 anos. Afinal, se houver uma nova criança na família, precisa-se de construir um outro quarto, uma outra casa, um outro bairro. (Já agora o "crescimento natural" é, obviamente, um assunto estritamente judaico. Os árabes não têm qualquer crescimento natural. O seu crescimento é antinatural.) E SOBRE o Estado da Palestina, tal como projectado por Obama? A TV israelita fez um belo trabalho esta semana, quando nos lembrou o que Netanyahu disse há apenas seis anos atrás: "Um Estado palestino - NÃO!" porque "Um Sim a um Estado palestino, significa um Não ao Estado judeu." Netanyahu parece pensar que é apenas uma questão de forma. Pode até referir que, no passado, já aceitámos o Roteiro, que contém algo sobre um Estado palestino. É verdade, nós aceitámos, condicionando-o a 14 cláusulas restritivas, castrando-o e transformando-o num pedaço de papel inútil. Mas talvez Obama fique contente com isso. Resumindo: não há necessidade de falar sobre os Dois Estados, quando já foram mencionados no Roteiro (que o seu nome seja amaldiçoado), que declarámos morto há muito tempo, mas que agora considerámos vivo novamente, quando alguma coisa como dois estados é mencionada, por isso não há necessidade de repeti-lo - é suficiente a ele aludir de uma forma oblíqua. Mas que fazer se, apesar de tudo, os americanos insistirem que Netanyahu emita as duas palavras "Estado palestino" da sua própria boca? Se não houver saída, Netanyahu pode murmurar entre dentes de alguma maneira, silenciosamente acrescentando ora-ora e ruidosamente acrescentando qualificações que o esvaziem de todo o conteúdo. Foi o que Barak fez, e depois Sharon, e de seguida Olmert. As declarações de Tzipi Livni e do seu povo produzem a impressão de que estão presos no mesmo ponto. Eles também parecem estar convencidos de que podemos continuar a falar de dois estados e fazendo exactamente o contrário, de congelar os colonatos e continuando a construir. Nenhuma nova mensagem é proveniente deste campo, apenas críticas a Netanyahu por não mudar o seu estilo para agradar a Obama. MAS O QUE Obama está a pedir não é uma nova formulação dos antigos slogans. Ele exige a aceitação do princípio dos Dois Estados como uma base de acção concreta e rigorosa: alcançar um acordo sobre o estabelecimento de um Estado chamado Palestina, com capital em Jerusalém Oriental, sem colonatos e toda a outra parafernália da ocupação. Ele exige o início imediato das negociações, para que dentro de dois ou três anos - antes do final do seu mandato actual - uma verdadeira paz seja estabelecida, uma paz que garanta a existência e a segurança do "Estado judeu de Israel" (como George Mitchell pô-lo esta semana) e do estado árabe da Palestina, lado a lado. Tudo isso como parte de uma nova ordem para o Grande Médio Oriente, do Paquistão a Marrocos, e como parte de uma visão à escala mundial. Face a esta exigência, nem piscadelas a la Weisglass ou truques verbais a la Peres serão de qualquer proveito. No discurso de amanhã, [Domingo] Netanyahu terá de escolher entre três alternativas: uma colisão frontal com os Estados Unidos, uma total mudança na sua política, ou a demissão. A era das piscadelas acabou. [1] Dov Weisglass é um advogado e homem de negócios israelita que esteve intimamente ligado ao processo de paz no Médio Oriente, em particular durante o mandato do Primeiro-Ministro Ariel Sharon. Como chefe de gabinete foi o rosto de Sharon durante as negociações para a retirada de 2004 e o seu delegado diplomático nas negociações com o Secretário de Estado Colin Powell e com Condoleezza Rice, na altura consultora para a Segurança Nacional dos E.U.A. Para além das observações, definidoras dos seus “valores”, acima reproduzidas por Uri Avnery aqui fica uma outra sobre o bloqueio de Gaza: "pusemos-los a dieta” (In: Steel, M. The Independent 31 Dezembro de 2008).

marcar artigo