Abencerragem: clube de leitura

26-05-2011
marcar artigo


Assis Esperança, Viver!, Lisboa, Livrarias Aillaud e Bertrand, Lisboa, 1921.Dedicatória impressa: «a meu irmão / Julio d'Assis Esperança / / companheiro de todas as horas, na admiração profunda pela amizade de sempre.»Segundo título do escritor, depois da narrativa A Vertigem (1919).Protagonistas principais:Carlos d'Azevedo -- banqueiro, tuberculoso em estado adiantado. Casa com a filha do sócio, entretanto falecido.Alda -- Mulher de Carlos, jovem e abnegada. O marido oculta-lhe o estado de saúde, passível de contágio.Henrique -- braço direito de Carlos. Fora noivo de Alda, escondendo uma ligação paralela, que vem a ser descoberta. Revela escrúpulos e uma atitude altruísta pouco coerente com a deslealdade passada -- como se se tratasse duma redenção.O romance está construído como um longo testemunho de Carlos dirigido a Alda, redigido na prisão, após o assassínio de Henrique às suas mãos. Perturbado pelo interesse solícito de Henrique pela saúde da mulher, Carlos mata aquele, impedindo uma possível união de ambos após a sua morte.O estilo escorreito de Assis Esperança é prejudicado pelo vezo naturalista que encharca o texto, bebido certamente em muito Zola e Abel Botelho -- v.g. as copiosas referências médicas e respectivos tratados concernentes à enfermidade --, defeito de que o escritor rapidamente se libertará.Alguma ideologia libertária de Assis -- crítica à autoridade, à organização social, à família como instituição, à religião -- atravessa o relato de Carlos d' Azevedo, um homem do establishment que, dominado pela doença hereditária, é também um revoltado.Incipit -- A todos os magistrádos, por vontade dos homens, encarregados do meu julgamento, aos médicos, aos legisladôres; a ti, minha esposa, flôr d'altura, para que não me condenes antes de me ouvir; a toda essa coorte de inúteis, a toda essa caterva de animais feridos de morte, a toda essa legião de criminosos sem consciência, que são os incubadôres dum mal. Nota: o meu exemplar pertenceu a Julião Quintinha, escritor e jornalista, uma grande figura cultural do anarquismo português. Dedicatória autógrafa: Ao conterraneo / Julião Quintinha, com um grande abraço de muita admiração pelo seu talento / Assis EsperançaA capa (horrível) é de Lyster Franco.


Assis Esperança, Viver!, Lisboa, Livrarias Aillaud e Bertrand, Lisboa, 1921.Dedicatória impressa: «a meu irmão / Julio d'Assis Esperança / / companheiro de todas as horas, na admiração profunda pela amizade de sempre.»Segundo título do escritor, depois da narrativa A Vertigem (1919).Protagonistas principais:Carlos d'Azevedo -- banqueiro, tuberculoso em estado adiantado. Casa com a filha do sócio, entretanto falecido.Alda -- Mulher de Carlos, jovem e abnegada. O marido oculta-lhe o estado de saúde, passível de contágio.Henrique -- braço direito de Carlos. Fora noivo de Alda, escondendo uma ligação paralela, que vem a ser descoberta. Revela escrúpulos e uma atitude altruísta pouco coerente com a deslealdade passada -- como se se tratasse duma redenção.O romance está construído como um longo testemunho de Carlos dirigido a Alda, redigido na prisão, após o assassínio de Henrique às suas mãos. Perturbado pelo interesse solícito de Henrique pela saúde da mulher, Carlos mata aquele, impedindo uma possível união de ambos após a sua morte.O estilo escorreito de Assis Esperança é prejudicado pelo vezo naturalista que encharca o texto, bebido certamente em muito Zola e Abel Botelho -- v.g. as copiosas referências médicas e respectivos tratados concernentes à enfermidade --, defeito de que o escritor rapidamente se libertará.Alguma ideologia libertária de Assis -- crítica à autoridade, à organização social, à família como instituição, à religião -- atravessa o relato de Carlos d' Azevedo, um homem do establishment que, dominado pela doença hereditária, é também um revoltado.Incipit -- A todos os magistrádos, por vontade dos homens, encarregados do meu julgamento, aos médicos, aos legisladôres; a ti, minha esposa, flôr d'altura, para que não me condenes antes de me ouvir; a toda essa coorte de inúteis, a toda essa caterva de animais feridos de morte, a toda essa legião de criminosos sem consciência, que são os incubadôres dum mal. Nota: o meu exemplar pertenceu a Julião Quintinha, escritor e jornalista, uma grande figura cultural do anarquismo português. Dedicatória autógrafa: Ao conterraneo / Julião Quintinha, com um grande abraço de muita admiração pelo seu talento / Assis EsperançaA capa (horrível) é de Lyster Franco.

marcar artigo