Ferreira de Castro: O jovem Castro #1

20-01-2011
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Vim: -- e a pena, aza sublime do Sonho, transformou-se em instrumento de suplicio: -- e a mesa de trabalho em cadafalso inexoravel.E no meu isolamento, que seria completo se as minhas condições de vida m'o permitissem, a luta principiou. A pena entra em labor: -- percorre de manhã á noite: -- percorre até de madrugada, até á hora em que nos bancos publicos os miseraveis adormecem trespassados de frio e nos palacetes suntuosos se deixam tombar, vencidas pelo sono, deliciosas cabeças femininas, a estepe do papel em branco.[...]O artista multiplica-se: -- força a sua sensibilidade: -- deambula como uma mariposa perseguida, por todas as paisagens literarias: -- é folhetinista, novelista, cronista, ensaísta: -- contraria o seu temperamento e ora cultiva a comedia ora o drama: -- e por fim, ante a enorme produccção, ele queda-se assombrado: -- para logo deixar florescer nos labios um sorriso de desdem.Essa obra dispersa não o interessa: -- não merece a sua simpatia: -- são folhas que se desprenderam da frondosa arvore da sua personalidade: -- folhas predestinadas a serem devoradas por todos os rebanhos da Vulgaridade: -- esses rebanhos cujas preferencias o artista, preso na contemplação dos seus panoramas intimos, repudia.A Boca da Esfinge (de parceria com Eduardo Frias), Lisboa, Aillaud e Bertrand, 1924, pp. 7-8.


Vim: -- e a pena, aza sublime do Sonho, transformou-se em instrumento de suplicio: -- e a mesa de trabalho em cadafalso inexoravel.E no meu isolamento, que seria completo se as minhas condições de vida m'o permitissem, a luta principiou. A pena entra em labor: -- percorre de manhã á noite: -- percorre até de madrugada, até á hora em que nos bancos publicos os miseraveis adormecem trespassados de frio e nos palacetes suntuosos se deixam tombar, vencidas pelo sono, deliciosas cabeças femininas, a estepe do papel em branco.[...]O artista multiplica-se: -- força a sua sensibilidade: -- deambula como uma mariposa perseguida, por todas as paisagens literarias: -- é folhetinista, novelista, cronista, ensaísta: -- contraria o seu temperamento e ora cultiva a comedia ora o drama: -- e por fim, ante a enorme produccção, ele queda-se assombrado: -- para logo deixar florescer nos labios um sorriso de desdem.Essa obra dispersa não o interessa: -- não merece a sua simpatia: -- são folhas que se desprenderam da frondosa arvore da sua personalidade: -- folhas predestinadas a serem devoradas por todos os rebanhos da Vulgaridade: -- esses rebanhos cujas preferencias o artista, preso na contemplação dos seus panoramas intimos, repudia.A Boca da Esfinge (de parceria com Eduardo Frias), Lisboa, Aillaud e Bertrand, 1924, pp. 7-8.

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