O Cachimbo de Magritte: A Politização da Esperança

07-08-2010
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Na retórica política contemporânea, há poucos lugares-comuns mais piegas que o apelo à esperança. Desde que Obama ganhou as eleições, passou a ser invocada por especialistas sérios, comentadores sábios e candidatos a estadistas mobilizadores. Ninguém resiste a diagnosticar que Portugal, na mais miserável das crises, precisa de esperança. É uma espécie de palavra milagrosa que arranca povos à morte e produz vitórias arrebatadoras. Presume-se que quem a não pronuncia com frequência é aliado secreto das trevas e do desespero. A coitada da esperança tem um passado glorioso. Antes de reclamada para a política, era virtude teologal, indispensável para a salvação da alma. Com o recuo da religião, politizou-se. Nalguns casos com efeito catastrófico, se recordarmos os messianismos políticos do séc. XX. A esperança na Revolução e na terra prometida pelo Líder deixou atrás de si um rasto de trevas. Mais recentemente, a esperança converteu-se no recurso psicológico por excelência da modesta democracia representativa. Portugal, arrastado pela moda, não fugiu à regra. Sucede que Portugal precisa não de esperança, mas de vitalidade histórica. O país dispensa miragens equivalentes a transes colectivos capazes de levitar os povos acima de problemas e perigos e a ilusão de que se acreditarmos todas as ameaças desaparecerão. O que já não dispensa é energia moral para olhar nos olhos ameaças que pendem sobre si. Não pode prescindir da vitalidade que nos sustenta quando combatemos perigos concretos. Vitalidade histórica é outra expressão para consciência da realidade, pés assentes na terra. Mas é mais que isso. É a força que nos permite ter confiança nos nossos esforços e não desistir diante da grandeza da tarefa. É o derradeiro antídoto contra a decadência..No i de hoje.


Na retórica política contemporânea, há poucos lugares-comuns mais piegas que o apelo à esperança. Desde que Obama ganhou as eleições, passou a ser invocada por especialistas sérios, comentadores sábios e candidatos a estadistas mobilizadores. Ninguém resiste a diagnosticar que Portugal, na mais miserável das crises, precisa de esperança. É uma espécie de palavra milagrosa que arranca povos à morte e produz vitórias arrebatadoras. Presume-se que quem a não pronuncia com frequência é aliado secreto das trevas e do desespero. A coitada da esperança tem um passado glorioso. Antes de reclamada para a política, era virtude teologal, indispensável para a salvação da alma. Com o recuo da religião, politizou-se. Nalguns casos com efeito catastrófico, se recordarmos os messianismos políticos do séc. XX. A esperança na Revolução e na terra prometida pelo Líder deixou atrás de si um rasto de trevas. Mais recentemente, a esperança converteu-se no recurso psicológico por excelência da modesta democracia representativa. Portugal, arrastado pela moda, não fugiu à regra. Sucede que Portugal precisa não de esperança, mas de vitalidade histórica. O país dispensa miragens equivalentes a transes colectivos capazes de levitar os povos acima de problemas e perigos e a ilusão de que se acreditarmos todas as ameaças desaparecerão. O que já não dispensa é energia moral para olhar nos olhos ameaças que pendem sobre si. Não pode prescindir da vitalidade que nos sustenta quando combatemos perigos concretos. Vitalidade histórica é outra expressão para consciência da realidade, pés assentes na terra. Mas é mais que isso. É a força que nos permite ter confiança nos nossos esforços e não desistir diante da grandeza da tarefa. É o derradeiro antídoto contra a decadência..No i de hoje.

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