bem pelo contrário: O futuro está aí

28-05-2010
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E promete ser brilhante, se se tiver em conta a entrevista/reportagem do "Expresso" sobre José Moura Soeiro, a nova coqueluche do parlamento. Soeiro chegou à bancada parlamentar do Bloco de Esquerda através de uma daquelas manobras absurdas dos partidos que permitem que pessoas não eleitas pelo voto acabem por ocupar cargos públicos eleitos (neste caso acho que chamam à coisa “mecanismo de rotatividade”, o que apesar de ter toda a aparência de ser inconstitucional, soa muito bem). A particularidade deste deputado é que acabou de completar 23 anos. 23 anos, leram bem. Ah, esta juventude precoce!E quais são as opiniões deste rapaz prodígio sobre o nosso parlamento? Está “dominado por cinquentões enfatiotados que não representam a sociedade”. Vai daí e o José decidiu, para “quebrar a rotina”, segundo o próprio, trazer “jeans” e “sweat-shirt” para a Assembleia. Faltou-lhe a coragem num último momento e acabou por se cobrir com uma “camisa de ganga” (“para não chocar os mais conservadores”, acrescenta a jornalista). Todavia, José já deu o grito do Ipiranga: não contem com ele para usar camisa! Ou, na sua douta formulação, “o esforço de contemporazição com o sistema vigente atingiu o limite”. E que esforço, meus senhores, e que esforço!Quais são as suas ideias políticas fortes? Para além da lenga-lenga habitual do Bloco (liberalização das drogas, oposição à “globalização capitalista”, libertação sexual e outras grandes questões do nosso tempo), essencialmente duas: a Educação e a Cultura. E que propõe o dr. Soeiro? Defende “o direito ao sucesso para todos”. Por quem sois, José, por quem sois! Vamos decretar já esse direito, mas depressinha que se faz tarde! Pode ser que o doutor descubra que, à data do seu nascimento, a educação já era livre para todos em Portugal há quase dez anos...E o que pretende o senhor na Cultura? A “democratização do acesso aos bens culturais”. Ora bem, a colecção do Berardo já é de graça. A Gulbenkian oferece bilhetes ao preço da chuva. O cinema custa menos que um whiskey. Ah, já sei: borlas para o São Carlos! Disto é que a malta precisa! Não? O doutor Soeiro diz que não adere aos espectáculos “mainstream”, preferindo uma “agenda alternativa”? Aqui entre nós, parece-me que essa dita “agenda” já está suficientemente “democratizada”: basta uma camisola colorida, barba farta e tranças por lavar.No final da reportagem, o deputado Soeiro fala-nos do momento-chave da sua vida política: a invasão do Rivoli, no Porto. Atentem na descrição na primeira pessoa: “Foi uma acção poético-política”. Importa-se de repetir? “Foi uma acção poético-política. Entre os que estavam cá fora, como eu, e os ocupantes do teatro circularam poemas a toda a hora. Foram momentos muito felizes”. Bravo, doutor, bravo! Esta foi de fazer chorar as pedras da calçada. Acreditem: este homem vai longe...

E promete ser brilhante, se se tiver em conta a entrevista/reportagem do "Expresso" sobre José Moura Soeiro, a nova coqueluche do parlamento. Soeiro chegou à bancada parlamentar do Bloco de Esquerda através de uma daquelas manobras absurdas dos partidos que permitem que pessoas não eleitas pelo voto acabem por ocupar cargos públicos eleitos (neste caso acho que chamam à coisa “mecanismo de rotatividade”, o que apesar de ter toda a aparência de ser inconstitucional, soa muito bem). A particularidade deste deputado é que acabou de completar 23 anos. 23 anos, leram bem. Ah, esta juventude precoce!E quais são as opiniões deste rapaz prodígio sobre o nosso parlamento? Está “dominado por cinquentões enfatiotados que não representam a sociedade”. Vai daí e o José decidiu, para “quebrar a rotina”, segundo o próprio, trazer “jeans” e “sweat-shirt” para a Assembleia. Faltou-lhe a coragem num último momento e acabou por se cobrir com uma “camisa de ganga” (“para não chocar os mais conservadores”, acrescenta a jornalista). Todavia, José já deu o grito do Ipiranga: não contem com ele para usar camisa! Ou, na sua douta formulação, “o esforço de contemporazição com o sistema vigente atingiu o limite”. E que esforço, meus senhores, e que esforço!Quais são as suas ideias políticas fortes? Para além da lenga-lenga habitual do Bloco (liberalização das drogas, oposição à “globalização capitalista”, libertação sexual e outras grandes questões do nosso tempo), essencialmente duas: a Educação e a Cultura. E que propõe o dr. Soeiro? Defende “o direito ao sucesso para todos”. Por quem sois, José, por quem sois! Vamos decretar já esse direito, mas depressinha que se faz tarde! Pode ser que o doutor descubra que, à data do seu nascimento, a educação já era livre para todos em Portugal há quase dez anos...E o que pretende o senhor na Cultura? A “democratização do acesso aos bens culturais”. Ora bem, a colecção do Berardo já é de graça. A Gulbenkian oferece bilhetes ao preço da chuva. O cinema custa menos que um whiskey. Ah, já sei: borlas para o São Carlos! Disto é que a malta precisa! Não? O doutor Soeiro diz que não adere aos espectáculos “mainstream”, preferindo uma “agenda alternativa”? Aqui entre nós, parece-me que essa dita “agenda” já está suficientemente “democratizada”: basta uma camisola colorida, barba farta e tranças por lavar.No final da reportagem, o deputado Soeiro fala-nos do momento-chave da sua vida política: a invasão do Rivoli, no Porto. Atentem na descrição na primeira pessoa: “Foi uma acção poético-política”. Importa-se de repetir? “Foi uma acção poético-política. Entre os que estavam cá fora, como eu, e os ocupantes do teatro circularam poemas a toda a hora. Foram momentos muito felizes”. Bravo, doutor, bravo! Esta foi de fazer chorar as pedras da calçada. Acreditem: este homem vai longe...

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