O Cachimbo de Magritte: Desculpas de mau pagador

28-12-2009
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Num pequeno artigo publicado hoje na p. 8 do i, Pedro Adão e Silva apresenta três razões para tentar justificar que a liberdade de escolha da escola pelas famílias não resolve(ria) os problemas das escolas que manifestamente denotam falta de qualidade. Estou a citar: “Desde logo porque nem todas as famílias estão na posse da informação que permite escolher de modo adequado, mas, acima de tudo, há poucos professores bons que queiram leccionar nas escolas más e não há oferta de qualidade que se queira deslocar para os lugares mais difíceis.” Percebe-se a perspectiva mas soa a desculpa de mau pagador. O problema da falta de informação pode facilmente ser resolvido através de um sistema de apoio às famílias gerido localmente. O problema dos professores existe mas não nos moldes referidos: há, certamente, de entre os bons professores, muitos dispostos a leccionar em escolas problemáticas precisamente porque são problemáticas e se sentem especialmente vocacionados e preparados para leccionar nelas (é claro que, para isto ser possível, tudo teria de mudar no esquema actual de colocação de professores); o problema maior dos professores não é o dos bons não quererem leccionar em escolas problemáticas mas antes o de nem todos os professores serem bons. Finalmente, também não é verdade que não haja oferta de qualidade nos lugares mais difíceis; e, acima de tudo, não é verdade que não haja mais escolas a querer deslocar-se para os lugares mais difíceis, uma vez o Estado esteja disposto a cumprir as suas obrigações. Nos EUA, para dar apenas um exemplo, as escolas católicas estão presentes nos lugares mais difíceis e conseguem ter excelentes resultados. Por cá, Pedro Adão e Silva, entre outros, continua empenhado em criticar os rankings das escolas, esquecendo que, para além da transparência associada à sua publicação, têm o mérito de, uma vez por ano, pôr os portugueses a discutir a qualidade das escolas. Portugal não precisa de menos rankings; pelo contrário, precisa de mais e mais transparência e publicação dos dados estatísticos de educação. É o que os países mais desenvolvidos andam a fazer e nós tardamos a compreender. Entretanto, por muito que custe a muitos, os rankings mostram que as crianças e adolescentes da classe média e alta continuam favorecidas, ora porque frequentam as escolas privadas, ora porque frequentam as melhores escolas estatais, localizadas nos melhores bairros; inversamente, as restantes crianças e adolescentes continuam condenadas a frequentar as piores escolas estatais. Esta é a realidade e ainda bem que há os rankings para nos lembrar isso mesmo, pelo menos uma vez por ano.


Num pequeno artigo publicado hoje na p. 8 do i, Pedro Adão e Silva apresenta três razões para tentar justificar que a liberdade de escolha da escola pelas famílias não resolve(ria) os problemas das escolas que manifestamente denotam falta de qualidade. Estou a citar: “Desde logo porque nem todas as famílias estão na posse da informação que permite escolher de modo adequado, mas, acima de tudo, há poucos professores bons que queiram leccionar nas escolas más e não há oferta de qualidade que se queira deslocar para os lugares mais difíceis.” Percebe-se a perspectiva mas soa a desculpa de mau pagador. O problema da falta de informação pode facilmente ser resolvido através de um sistema de apoio às famílias gerido localmente. O problema dos professores existe mas não nos moldes referidos: há, certamente, de entre os bons professores, muitos dispostos a leccionar em escolas problemáticas precisamente porque são problemáticas e se sentem especialmente vocacionados e preparados para leccionar nelas (é claro que, para isto ser possível, tudo teria de mudar no esquema actual de colocação de professores); o problema maior dos professores não é o dos bons não quererem leccionar em escolas problemáticas mas antes o de nem todos os professores serem bons. Finalmente, também não é verdade que não haja oferta de qualidade nos lugares mais difíceis; e, acima de tudo, não é verdade que não haja mais escolas a querer deslocar-se para os lugares mais difíceis, uma vez o Estado esteja disposto a cumprir as suas obrigações. Nos EUA, para dar apenas um exemplo, as escolas católicas estão presentes nos lugares mais difíceis e conseguem ter excelentes resultados. Por cá, Pedro Adão e Silva, entre outros, continua empenhado em criticar os rankings das escolas, esquecendo que, para além da transparência associada à sua publicação, têm o mérito de, uma vez por ano, pôr os portugueses a discutir a qualidade das escolas. Portugal não precisa de menos rankings; pelo contrário, precisa de mais e mais transparência e publicação dos dados estatísticos de educação. É o que os países mais desenvolvidos andam a fazer e nós tardamos a compreender. Entretanto, por muito que custe a muitos, os rankings mostram que as crianças e adolescentes da classe média e alta continuam favorecidas, ora porque frequentam as escolas privadas, ora porque frequentam as melhores escolas estatais, localizadas nos melhores bairros; inversamente, as restantes crianças e adolescentes continuam condenadas a frequentar as piores escolas estatais. Esta é a realidade e ainda bem que há os rankings para nos lembrar isso mesmo, pelo menos uma vez por ano.

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