O Cachimbo de Magritte: O PSD é o único partido político onde ainda existe política.

26-01-2011
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Ler os Clássicos:«A política propriamente dita.Eu juro que não percebo: o PSD dá mostras de uma extenuante vida política - fibra, incerteza e drama - e o País, amansado por cinco anos de paroquialismo rosa, anda por aí a rir pelos cantos, verberando a triste sorte da São Caetano à Lapa. O PSD é um buraco, uma tenda, um caos desfeito em cacos. Durão é mole, trémulo, perdido ou fraco. Santana é firme, desvairado, temperamental, oportunista nato. Por amor de Deus: no PSD faz-se, coisa raríssima, política sem ser para o retrato. E política no sentido mais nobre, mais elevado e mais clássico. No PSD discute-se, como sempre se discutiu, o velho problema do poder. Sem maneiras, sem peneiras, sem penachos. Como conquistar o poder, pensa Santana. E como o conservar, pensa Durão. Tão simples, tão heróico e, por isso mesmo, tão estranho. Habituados à demagogia, à suavidade e à falácia, esquecemos como as coisas são. Ou, pelo menos, como as coisas deveriam ser. Leiam Mário e Sila na República Romana. E depois, com os devidos acertos, olhem cá para dentro. Parem. Escutem. E pasmem. Não se trata, como no PS, de gerir iniquidades, substituir nulidades e prometer leviandades. Nem se confunde com o PP, o casebre triste de uma vida triste, pobre e apagada. Uma vida à imagem dos fatos: cinzenta e listada.Pelo contrário: no PSD a liderança é importante. O cerco a Durão não é imaginário: ele existe e já corre pela estrada. Santana deseja, tão prosaicamente, o poder - e, note-se, não tem vergonha em afirmá-lo. Não deseja mudar o País, a Europa, o Mundo e a Humanidade. Não há vigarices, promessas, compromissos, pactos ou palavras. Santana quer o partido, ponto final. E parte para a conquista dele. As três mil assinaturas, ao contrário do que se diz, são um acto de coragem, de megalomania e de brutalidade. Mais: Santana quer a liderança porque, atenção ao termo, sentiu um desafio. Eu repito: um desafio - que delicioso anacronismo romântico! Ou, então, na versão mais mística (que eu prefiro) ,porque ouviu a vontade subterrânea, e anónima, e telúrica das massas. A chamar por ele. Santana, Santana. Já agora, e se me permitem: a chamar por ele em noites de insónia e tempestade. Será verdade? Será mentira? Será loucura? E isso interessa a alguém?Interessa: a Durão. Ao pobre dr. Durão, a mais genuína figura trágica. Um homem só, ferido e encurralado. À entrada para o Conselho Nacional, ouviu-se a pergunta da imprensa: «o senhor pensa demitir-se?» Pausa. Glacial pausa. Genial pausa. Prolongada pausa. E do fundo, do fundo do poço, um sorriso esboçado. Durão a voltar à tona da água, meio-vivo, meio-morto, meio-nada. Em directo, o milagre da morte e da ressurreição. Perfeito. Ou quase. Diga lá, dr. Durão:- Eu gostaria de agradecer à minha mãezinha por este prémio, e o diabo a quatro.Bravo, dr. Durão. Houvesse pelo meio uma cena de soco, uma amante ladina, um caso vulgar de paternidade - e o País, este manso e pobre País, estaria redimido e resgatado.Os militantes do PSD não devem desesperar. Se o partido não regressa rapidamente a São Bento, mostra, pelo menos, que a política não é uma lide para sopeirinhas e outras donas de casa. É uma actividade onde há luta, estratégia, ambição e muito drama. Aqueles que riem do PSD não percebem o essencial: o PSD é o único partido político onde ainda existe política. A boa e velha política. Aquela que diverte e comove, surpreende e inflama.»João Pereira Coutinho, Janeiro de 2000


Ler os Clássicos:«A política propriamente dita.Eu juro que não percebo: o PSD dá mostras de uma extenuante vida política - fibra, incerteza e drama - e o País, amansado por cinco anos de paroquialismo rosa, anda por aí a rir pelos cantos, verberando a triste sorte da São Caetano à Lapa. O PSD é um buraco, uma tenda, um caos desfeito em cacos. Durão é mole, trémulo, perdido ou fraco. Santana é firme, desvairado, temperamental, oportunista nato. Por amor de Deus: no PSD faz-se, coisa raríssima, política sem ser para o retrato. E política no sentido mais nobre, mais elevado e mais clássico. No PSD discute-se, como sempre se discutiu, o velho problema do poder. Sem maneiras, sem peneiras, sem penachos. Como conquistar o poder, pensa Santana. E como o conservar, pensa Durão. Tão simples, tão heróico e, por isso mesmo, tão estranho. Habituados à demagogia, à suavidade e à falácia, esquecemos como as coisas são. Ou, pelo menos, como as coisas deveriam ser. Leiam Mário e Sila na República Romana. E depois, com os devidos acertos, olhem cá para dentro. Parem. Escutem. E pasmem. Não se trata, como no PS, de gerir iniquidades, substituir nulidades e prometer leviandades. Nem se confunde com o PP, o casebre triste de uma vida triste, pobre e apagada. Uma vida à imagem dos fatos: cinzenta e listada.Pelo contrário: no PSD a liderança é importante. O cerco a Durão não é imaginário: ele existe e já corre pela estrada. Santana deseja, tão prosaicamente, o poder - e, note-se, não tem vergonha em afirmá-lo. Não deseja mudar o País, a Europa, o Mundo e a Humanidade. Não há vigarices, promessas, compromissos, pactos ou palavras. Santana quer o partido, ponto final. E parte para a conquista dele. As três mil assinaturas, ao contrário do que se diz, são um acto de coragem, de megalomania e de brutalidade. Mais: Santana quer a liderança porque, atenção ao termo, sentiu um desafio. Eu repito: um desafio - que delicioso anacronismo romântico! Ou, então, na versão mais mística (que eu prefiro) ,porque ouviu a vontade subterrânea, e anónima, e telúrica das massas. A chamar por ele. Santana, Santana. Já agora, e se me permitem: a chamar por ele em noites de insónia e tempestade. Será verdade? Será mentira? Será loucura? E isso interessa a alguém?Interessa: a Durão. Ao pobre dr. Durão, a mais genuína figura trágica. Um homem só, ferido e encurralado. À entrada para o Conselho Nacional, ouviu-se a pergunta da imprensa: «o senhor pensa demitir-se?» Pausa. Glacial pausa. Genial pausa. Prolongada pausa. E do fundo, do fundo do poço, um sorriso esboçado. Durão a voltar à tona da água, meio-vivo, meio-morto, meio-nada. Em directo, o milagre da morte e da ressurreição. Perfeito. Ou quase. Diga lá, dr. Durão:- Eu gostaria de agradecer à minha mãezinha por este prémio, e o diabo a quatro.Bravo, dr. Durão. Houvesse pelo meio uma cena de soco, uma amante ladina, um caso vulgar de paternidade - e o País, este manso e pobre País, estaria redimido e resgatado.Os militantes do PSD não devem desesperar. Se o partido não regressa rapidamente a São Bento, mostra, pelo menos, que a política não é uma lide para sopeirinhas e outras donas de casa. É uma actividade onde há luta, estratégia, ambição e muito drama. Aqueles que riem do PSD não percebem o essencial: o PSD é o único partido político onde ainda existe política. A boa e velha política. Aquela que diverte e comove, surpreende e inflama.»João Pereira Coutinho, Janeiro de 2000

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