“A candidata socialista disse ontem que estava disposta a ‘perder a gamela de Bruxelas para vir para o Porto’. Para Elisa Ferreira, esta é uma vantagem sobre os outros candidatos. O i procurou o significado de ‘gamela’. O que a deputada quis dizer foi: Estou disposta a perder a ‘vasilha de madeira que dá de comer a porcos e outros animais’ de Bruxelas” (no i de hoje, pp. 2 e 12). Os dotes linguísticos que Elisa Ferreira revela são naturalmente de enaltecer. Mas os elogios ficam por aqui. Não faz qualquer sentido andarmos todos a tentar ser convencidos de que votar é um dever de cidadania, designadamente nas eleições europeias, para depois ouvirmos uma deputada, recentemente eleita, confessar o inconfessável. Que a generalidade dos portugueses tenha o preconceito de que os partidos e as pessoas que deles fazem parte se servem dos cargos políticos para aceder aos cofres do Estado, é uma coisa; que os próprios responsáveis políticos recorram a este tipo de retórica, é outra bem diferente. Mais ainda, quando é evidente que a metáfora da gamela serve apenas o propósito de Elisa Ferreira conquistar votos na corrida para a Câmara do Porto, eventualmente o lugar onde terá à sua disposição uma gamela ainda mais apetecida. Sinceramente, tendo para mim que a falta de respeito institucional é uma das principais causas e sintomas da grave crise política que o País atravessa, de modo algum posso dizer que fiquei espantado com a tirada de Elisa Ferreira. Como também não fiquei espantado, durante os últimos dias, com a falta de respeito com que os críticos de Cavaco Silva se dirigiram ao mais alto magistrado da Nação; motivo de espanto só encontrei quando verifiquei que as críticas a Cavaco Silva iam sendo feitas sob o pretexto de que o Presidente República – apenas porque é o Presidente da República? – poderia e deveria ser diferente dos restantes portugueses. No fundo, no fundo, para além da falta de respeito institucional que nos caracteriza, nós somos é uns grandessíssimos sonsos.
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“A candidata socialista disse ontem que estava disposta a ‘perder a gamela de Bruxelas para vir para o Porto’. Para Elisa Ferreira, esta é uma vantagem sobre os outros candidatos. O i procurou o significado de ‘gamela’. O que a deputada quis dizer foi: Estou disposta a perder a ‘vasilha de madeira que dá de comer a porcos e outros animais’ de Bruxelas” (no i de hoje, pp. 2 e 12). Os dotes linguísticos que Elisa Ferreira revela são naturalmente de enaltecer. Mas os elogios ficam por aqui. Não faz qualquer sentido andarmos todos a tentar ser convencidos de que votar é um dever de cidadania, designadamente nas eleições europeias, para depois ouvirmos uma deputada, recentemente eleita, confessar o inconfessável. Que a generalidade dos portugueses tenha o preconceito de que os partidos e as pessoas que deles fazem parte se servem dos cargos políticos para aceder aos cofres do Estado, é uma coisa; que os próprios responsáveis políticos recorram a este tipo de retórica, é outra bem diferente. Mais ainda, quando é evidente que a metáfora da gamela serve apenas o propósito de Elisa Ferreira conquistar votos na corrida para a Câmara do Porto, eventualmente o lugar onde terá à sua disposição uma gamela ainda mais apetecida. Sinceramente, tendo para mim que a falta de respeito institucional é uma das principais causas e sintomas da grave crise política que o País atravessa, de modo algum posso dizer que fiquei espantado com a tirada de Elisa Ferreira. Como também não fiquei espantado, durante os últimos dias, com a falta de respeito com que os críticos de Cavaco Silva se dirigiram ao mais alto magistrado da Nação; motivo de espanto só encontrei quando verifiquei que as críticas a Cavaco Silva iam sendo feitas sob o pretexto de que o Presidente República – apenas porque é o Presidente da República? – poderia e deveria ser diferente dos restantes portugueses. No fundo, no fundo, para além da falta de respeito institucional que nos caracteriza, nós somos é uns grandessíssimos sonsos.