XimPi: A solução populista, segundo Rui Teixeira Santos

27-12-2009
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A solução populista.por Rui Teixeira Santos. Desta vez, a solução populista não conseguirá ganhar votos no centro-direita. Cada vez que a direita for populista, Sócrates ocupará mais o centro, o espaço natural do humanismo e do respeito pela cidadania. A direita para voltar ao poder não tem que ser populista: tem que estar apta para governar. Tem que provar competência, apesar dos desastres dos governos anteriores. Tem que ser capaz. Porque quando o populismo combate o populismo, acaba, sempre, por ganhar quem está no poder, em última análise, quem passa o cheque.. Desta vez, a solução populista não conseguirá ganhar votos no centro-direita. Cada vez que a direita for populista, Sócrates ocupará mais o centro, o espaço natural do humanismo e do respeito pela cidadania. A direita para voltar ao poder não tem que ser populista: tem que estar apta para governar. Tem que provar competência, apesar dos desastres dos governos anteriores. Tem que ser capaz. Porque quando o populismo combate o populismo, acaba, sempre, por ganhar quem está no poder, em última análise, quem passa o cheque..O populismo foi essencial contra Guterres.É verdade - e fomos os primeiros a defendê-lo - que a componente populista foi necessária para o centro-direita voltar ao poder, em 2001, contra António Guterres. Mas, agora, depois do fracasso dos governos do PSD, foi a esquerda que se colocou no Governo e iniciou um processo de refundação do Estado - e não de mero reformismo, conforme o mandato do eleitorado - legitimado até pelo dramatismo e alarme criados no País pela governação de Durão Barroso/Ferreira Leite e pelo "monstro" de Cavaco Silva.. Há que ter claro algumas ideias, agora que se reanima a luta pelas lideranças no CDS e no PSD. .José Sócrates não está a reformar o Estado Social: o primeiro-ministro está a refundar o Estado - um novo Regime - num modelo neo-socialista, que coloca o Estado-Leviatão, acima dos cidadãos, da República, desumanizando o Direito e a Justiça e desarticulando a iniciativa nacional. .Basicamente, o processo das urgências nos hospitais, com a sua desumanidade contabilística, contra a qual se revolta, para além dos sindicatos e dos médicos, a própria Maçonaria; a reforma da Administração Pública, com o contrato individual, contra o qual se fazem manifestações com 120 mil pessoas, e a redefinição das funções essenciais do Estado (numa espécie de reforma constitucional sem "Revisão da Constituição", curiosamente deixando cair a antiga designação política das funções de soberania, para poder excluir a Justiça); a reforma das polícias, com a concentração de poderes, num processo equivalente ao do cruzamento de dados - uma clara ameaça aos direitos privativos dos cidadãos; e, finalmente, em nome do novo ciclo económico, o crescimento do desemprego e o aumento da presença do capital estrangeiro (nisto, a natureza do regime rompe com o tradicional nacionalismo do populismo, actualizando-se na globalização, sucedâneo liberal do internacionalismo socialista)..Para além do apoio das elites (que estão sempre do lado do poder), o novo Estado de Sócrates é tolerado pelas classes médias, que acham mesmo que não há alternativa. Que tem que ser assim. Que é altura de sacrifícios. .E, é neste estado de espírito que entra depois o poder paternalista do Estado: a verdadeira revolução cultural que é dar qualificação aos portugueses, mas, desta vez, ao contrário do que fez Barroso com o 9.º ano obrigatório, com recursos suficientes e o cheque formador. O salário mínimo que cria desemprego mas limita a pobreza; ou ainda a reforma do cálculo das pensões que dá sustentabilidade à Segurança Social. De um lado, a tirania do necessário, do outro o necessário da tirania..Ora, contra este estado de coisas na sociedade e no Estado, a solução alternativa não pode ser populista. Cada vez que a direita é populista, o PS é centrista e, mais, José Sócrates entra na base social de apoio dos partidos da direita..Regressar ao humanismo e à competência.Contra o neo-socialismo, que acredita no Estado-Leviatão - gigantesco e que manda penhorar as contas de quem não paga todos os exagerados impostos - o centro-direita tem que retornar ao humanismo, que permite colocar o homem no lugar onde o neoliberalismo barrosista colocou o capital e o dinheiro, ou onde o neo-socialismo de Sócrates coloca o Estado e os impostos. .Do mesmo modo que a oposição ao eng. Guterres teve que ter uma componente populista, agora, a direita não regressa ao poder se não conseguir criar uma solução alternativa credível, séria e competente, distante do populismo que resultou há seis anos, mas falhou depois no Governo. .Não se combate o eng. Sócrates dizendo que está tudo mal, como faz Marques Mendes. Nem lhe antecipando medidas, sem um estudo aturado e prévio que fundamente as propostas, como aconteceu com a sugestão de descida dos impostos por parte do PSD. É evidente que os impostos devem descer e, nisso, intuitivo como ninguém em política, Marcelo foi o primeiro a passar a dica a Marques Mendes. Mas, o importante era que Marques Mendes dissesse em quanto e quando, fundamentadamente e com credibilidade apresentasse uma alternativa ao Orçamento de Teixeira dos Santos. (E também não ajuda a falta de sensibilidade política de Ferreira Leite, quando chama de irresponsável o líder do partido por si eleito.).Não basta dizer que estamos a crescer pouco. É preciso ser competente na análise. O investimento em obras públicas e construção civil está, de facto, a cair, tal como o de aquisição de material rodoviário. Mas, nos bens de equipamento o aumento é superior a 6%. O que é bom, pois significa que o investimento que cresce é aquele que cria riqueza e permite exportações. .É evidente que, no longo prazo, estaremos todos mortos. E que o que interessa aos desempregados é um trabalho hoje, aqui e agora, nem que seja o Estado a pagar a abertura de buracos para, depois, pagar o seu fecho - no caso, os aeroportos da Ota e o TGV....O crescimento é pago pelos espanhóis.Mas, é preciso não ser demagógico na análise. É muito mais sério reconhecer que, neste momento, o PIB - aliás, como aconteceu com a Irlanda, que nos serviu de modelo - já é superior ao rendimento nacional (em cerca de 10%), o que prova que são os estrangeiros que estão a investir, o que dá a medida de quem é o dono do capital. .Há que reconhecer que Sócrates está a dar "tapete encarnado" para os investimentos estrangeiros e, sobretudo, ao investimento espanhol (à Repsol, a quem se deu o gás, à Aventis, à Abertis - a quem se deu a plataforma logística Tejo Sul - ou a Pesca Nova - a quem se concessionou as melhores águas da Ria Formosa) mas também alemão - como na AutoEuropa - com todas as isenções, que nenhum empresário local pode ter. Basicamente são os espanhóis que pagam o crescimento económico e investem no Estado de Sócrates, para já não falar na iniciativa do Santander que, com o seu papel nas OPA, trouxe um pouco de modernidade ao nosso fechado mundo empresarial..Para a direita ser alternativa a este poder eficaz do primeiro-ministro teria que apostar nos portugueses, limitar o privilégio dado ao capital estrangeiro e denunciar o Estado monstruoso que mata o mercado livre, esmaga as liberdades e garantias dos cidadãos e pouco respeita a dignidade humana, em nome da segurança e da sua voracidade irracional para controlar tudo e crescer. (Já não bastava a declaração dos depósitos acima de 10.000 euros ao Banco Central. Agora, até voltamos ao cúmulo de ter que declarar, na alfândega, a moeda que se leva para o estrangeiro, como nos anos oitenta antes da revolução financeira do fim do século passado.) .E, por outro lado, mostrar o que está mal, mas também aplaudir o que está bem, deveria ser o método para o novo humanismo do centro-direita, diferentemente do oportunismo cavaquista, da incompetência de Durão Barroso ou do populismo de Paulo Portas.. Júdice ataca Santana Lopes.Só por aqui se poderá construir uma alternativa ao eng. Sócrates. E, nesta matéria, o primeiro a perceber isso foi o inteligentíssimo José Miguel Júdice, na entrevista que deu ao "Expresso". (Ele está com 60 anos, a caminho da reforma e sabe que só trabalhará até ao fim da sua carreira com o eng. Sócrates - até porque admite que ele repetirá em 2009 a maioria absoluta. Desfiliou-se do PSD, provavelmente para assegurar a boa vontade do poder socrático... - Também o conhecemos como as palmas das mãos!).Mas, Júdice, brilhante, disse algo de certeiro: o seu objectivo, obviamente, era cercar Santana Lopes. Santana Lopes e o dito "populismo santanista" são o perigo maior para um homem que entende a política e para a concepção que tem da dialéctica do poder. Sem alternativa, José Sócrates perpetua-se no poder, até porque o sabe exercer e está a neutralizar as resistências. (A biografia apologética do "Sol", por todos criticada, obedece às mesmas regras de propaganda que deram 12 anos de poder a Cavaco Silva.).José Sócrates anulou o Partido Socialista (já nem serve para agência de emprego no Estado), comprou os adversários internos (por exemplo, os ferristas estão no Governo e Ferro na OCDE) e tomou por suas as medidas da oposição (desde a Saúde à Justiça, passando pelo Educação e pela reforma da Administração Pública). Ou seja, neutralizou o discurso ligeiro do PSD e do PP, mas, sobretudo, pôde ser mais populista que Paulo Portas ou que Santana Lopes..José Miguel Júdice percebeu isso como ninguém e foi mais longe: obviamente, Marcelo Rebelo de Sousa é a solução. Não é! - e Júdice sabe-o como ninguém. Marcelo é ligeiro de mais, perde sempre e não é confiável. .Só que, neste momento, não é a liderança de Marcelo ou a conquista do poder que está em causa, para Júdice: o problema é a marcação do espaço de Santana Lopes, esse sim, uma ameaça ao actual regime, a esta democracia de partidos, onde, por acaso, nem Marcelo, nem ninguém inspirado por Belém conseguirá ganhar "directas", controladas por Alberto João Jardim e por Menezes e pelas dezenas de militantes telecomandados que têm sabido inscrever nas suas concelhias do PSD. . A comunicação como arma ideológica da maioria.Apesar da sua origem social e política, o primeiro-ministro acaba por ser refém do sistema centralizado que criou e onde o imperativo democrático das eleições é apenas parte do processo de consolidação do seu poder. O entendimento que faz com o capital estrangeiro - sobretudo, espanhol, repito - e também com a alta burguesia financeira e especuladora - como se verificou no caso da PT - condena-o não só à paralisia, mas à repetição do mesmo mal que sofreu o guterrismo com Pina Moura. E, ainda por cima, o estado das mentalidades do PS e das estruturas políticas que apoiam o primeiro-ministro mostram a incapacidade de reformar o sistema, empurrando o País para o abismo de uma implosão ou, pior que isso, para o silêncio dos que já nada mais têm para perder - a pobreza. (O blog de António Costa é já a prova dessa incapacidade de ir até ao fim e a percepção do papel da propaganda e da comunicação como arma ideológica legítima.).Mas, ninguém tenha ilusões e Júdice, avisado, percebeu, também, isso: Sócrates vai ganhar as próximas eleições legislativas, sem alternativa, nem contraditório, porque tem os mecanismos de poder para tanto, enquanto a direita, autista, se perde em derivas mais ou menos populistas, ou em táctica contabilística para desalojar lideranças interinas..in Semanário - 2007-03-15 23:46..


A solução populista.por Rui Teixeira Santos. Desta vez, a solução populista não conseguirá ganhar votos no centro-direita. Cada vez que a direita for populista, Sócrates ocupará mais o centro, o espaço natural do humanismo e do respeito pela cidadania. A direita para voltar ao poder não tem que ser populista: tem que estar apta para governar. Tem que provar competência, apesar dos desastres dos governos anteriores. Tem que ser capaz. Porque quando o populismo combate o populismo, acaba, sempre, por ganhar quem está no poder, em última análise, quem passa o cheque.. Desta vez, a solução populista não conseguirá ganhar votos no centro-direita. Cada vez que a direita for populista, Sócrates ocupará mais o centro, o espaço natural do humanismo e do respeito pela cidadania. A direita para voltar ao poder não tem que ser populista: tem que estar apta para governar. Tem que provar competência, apesar dos desastres dos governos anteriores. Tem que ser capaz. Porque quando o populismo combate o populismo, acaba, sempre, por ganhar quem está no poder, em última análise, quem passa o cheque..O populismo foi essencial contra Guterres.É verdade - e fomos os primeiros a defendê-lo - que a componente populista foi necessária para o centro-direita voltar ao poder, em 2001, contra António Guterres. Mas, agora, depois do fracasso dos governos do PSD, foi a esquerda que se colocou no Governo e iniciou um processo de refundação do Estado - e não de mero reformismo, conforme o mandato do eleitorado - legitimado até pelo dramatismo e alarme criados no País pela governação de Durão Barroso/Ferreira Leite e pelo "monstro" de Cavaco Silva.. Há que ter claro algumas ideias, agora que se reanima a luta pelas lideranças no CDS e no PSD. .José Sócrates não está a reformar o Estado Social: o primeiro-ministro está a refundar o Estado - um novo Regime - num modelo neo-socialista, que coloca o Estado-Leviatão, acima dos cidadãos, da República, desumanizando o Direito e a Justiça e desarticulando a iniciativa nacional. .Basicamente, o processo das urgências nos hospitais, com a sua desumanidade contabilística, contra a qual se revolta, para além dos sindicatos e dos médicos, a própria Maçonaria; a reforma da Administração Pública, com o contrato individual, contra o qual se fazem manifestações com 120 mil pessoas, e a redefinição das funções essenciais do Estado (numa espécie de reforma constitucional sem "Revisão da Constituição", curiosamente deixando cair a antiga designação política das funções de soberania, para poder excluir a Justiça); a reforma das polícias, com a concentração de poderes, num processo equivalente ao do cruzamento de dados - uma clara ameaça aos direitos privativos dos cidadãos; e, finalmente, em nome do novo ciclo económico, o crescimento do desemprego e o aumento da presença do capital estrangeiro (nisto, a natureza do regime rompe com o tradicional nacionalismo do populismo, actualizando-se na globalização, sucedâneo liberal do internacionalismo socialista)..Para além do apoio das elites (que estão sempre do lado do poder), o novo Estado de Sócrates é tolerado pelas classes médias, que acham mesmo que não há alternativa. Que tem que ser assim. Que é altura de sacrifícios. .E, é neste estado de espírito que entra depois o poder paternalista do Estado: a verdadeira revolução cultural que é dar qualificação aos portugueses, mas, desta vez, ao contrário do que fez Barroso com o 9.º ano obrigatório, com recursos suficientes e o cheque formador. O salário mínimo que cria desemprego mas limita a pobreza; ou ainda a reforma do cálculo das pensões que dá sustentabilidade à Segurança Social. De um lado, a tirania do necessário, do outro o necessário da tirania..Ora, contra este estado de coisas na sociedade e no Estado, a solução alternativa não pode ser populista. Cada vez que a direita é populista, o PS é centrista e, mais, José Sócrates entra na base social de apoio dos partidos da direita..Regressar ao humanismo e à competência.Contra o neo-socialismo, que acredita no Estado-Leviatão - gigantesco e que manda penhorar as contas de quem não paga todos os exagerados impostos - o centro-direita tem que retornar ao humanismo, que permite colocar o homem no lugar onde o neoliberalismo barrosista colocou o capital e o dinheiro, ou onde o neo-socialismo de Sócrates coloca o Estado e os impostos. .Do mesmo modo que a oposição ao eng. Guterres teve que ter uma componente populista, agora, a direita não regressa ao poder se não conseguir criar uma solução alternativa credível, séria e competente, distante do populismo que resultou há seis anos, mas falhou depois no Governo. .Não se combate o eng. Sócrates dizendo que está tudo mal, como faz Marques Mendes. Nem lhe antecipando medidas, sem um estudo aturado e prévio que fundamente as propostas, como aconteceu com a sugestão de descida dos impostos por parte do PSD. É evidente que os impostos devem descer e, nisso, intuitivo como ninguém em política, Marcelo foi o primeiro a passar a dica a Marques Mendes. Mas, o importante era que Marques Mendes dissesse em quanto e quando, fundamentadamente e com credibilidade apresentasse uma alternativa ao Orçamento de Teixeira dos Santos. (E também não ajuda a falta de sensibilidade política de Ferreira Leite, quando chama de irresponsável o líder do partido por si eleito.).Não basta dizer que estamos a crescer pouco. É preciso ser competente na análise. O investimento em obras públicas e construção civil está, de facto, a cair, tal como o de aquisição de material rodoviário. Mas, nos bens de equipamento o aumento é superior a 6%. O que é bom, pois significa que o investimento que cresce é aquele que cria riqueza e permite exportações. .É evidente que, no longo prazo, estaremos todos mortos. E que o que interessa aos desempregados é um trabalho hoje, aqui e agora, nem que seja o Estado a pagar a abertura de buracos para, depois, pagar o seu fecho - no caso, os aeroportos da Ota e o TGV....O crescimento é pago pelos espanhóis.Mas, é preciso não ser demagógico na análise. É muito mais sério reconhecer que, neste momento, o PIB - aliás, como aconteceu com a Irlanda, que nos serviu de modelo - já é superior ao rendimento nacional (em cerca de 10%), o que prova que são os estrangeiros que estão a investir, o que dá a medida de quem é o dono do capital. .Há que reconhecer que Sócrates está a dar "tapete encarnado" para os investimentos estrangeiros e, sobretudo, ao investimento espanhol (à Repsol, a quem se deu o gás, à Aventis, à Abertis - a quem se deu a plataforma logística Tejo Sul - ou a Pesca Nova - a quem se concessionou as melhores águas da Ria Formosa) mas também alemão - como na AutoEuropa - com todas as isenções, que nenhum empresário local pode ter. Basicamente são os espanhóis que pagam o crescimento económico e investem no Estado de Sócrates, para já não falar na iniciativa do Santander que, com o seu papel nas OPA, trouxe um pouco de modernidade ao nosso fechado mundo empresarial..Para a direita ser alternativa a este poder eficaz do primeiro-ministro teria que apostar nos portugueses, limitar o privilégio dado ao capital estrangeiro e denunciar o Estado monstruoso que mata o mercado livre, esmaga as liberdades e garantias dos cidadãos e pouco respeita a dignidade humana, em nome da segurança e da sua voracidade irracional para controlar tudo e crescer. (Já não bastava a declaração dos depósitos acima de 10.000 euros ao Banco Central. Agora, até voltamos ao cúmulo de ter que declarar, na alfândega, a moeda que se leva para o estrangeiro, como nos anos oitenta antes da revolução financeira do fim do século passado.) .E, por outro lado, mostrar o que está mal, mas também aplaudir o que está bem, deveria ser o método para o novo humanismo do centro-direita, diferentemente do oportunismo cavaquista, da incompetência de Durão Barroso ou do populismo de Paulo Portas.. Júdice ataca Santana Lopes.Só por aqui se poderá construir uma alternativa ao eng. Sócrates. E, nesta matéria, o primeiro a perceber isso foi o inteligentíssimo José Miguel Júdice, na entrevista que deu ao "Expresso". (Ele está com 60 anos, a caminho da reforma e sabe que só trabalhará até ao fim da sua carreira com o eng. Sócrates - até porque admite que ele repetirá em 2009 a maioria absoluta. Desfiliou-se do PSD, provavelmente para assegurar a boa vontade do poder socrático... - Também o conhecemos como as palmas das mãos!).Mas, Júdice, brilhante, disse algo de certeiro: o seu objectivo, obviamente, era cercar Santana Lopes. Santana Lopes e o dito "populismo santanista" são o perigo maior para um homem que entende a política e para a concepção que tem da dialéctica do poder. Sem alternativa, José Sócrates perpetua-se no poder, até porque o sabe exercer e está a neutralizar as resistências. (A biografia apologética do "Sol", por todos criticada, obedece às mesmas regras de propaganda que deram 12 anos de poder a Cavaco Silva.).José Sócrates anulou o Partido Socialista (já nem serve para agência de emprego no Estado), comprou os adversários internos (por exemplo, os ferristas estão no Governo e Ferro na OCDE) e tomou por suas as medidas da oposição (desde a Saúde à Justiça, passando pelo Educação e pela reforma da Administração Pública). Ou seja, neutralizou o discurso ligeiro do PSD e do PP, mas, sobretudo, pôde ser mais populista que Paulo Portas ou que Santana Lopes..José Miguel Júdice percebeu isso como ninguém e foi mais longe: obviamente, Marcelo Rebelo de Sousa é a solução. Não é! - e Júdice sabe-o como ninguém. Marcelo é ligeiro de mais, perde sempre e não é confiável. .Só que, neste momento, não é a liderança de Marcelo ou a conquista do poder que está em causa, para Júdice: o problema é a marcação do espaço de Santana Lopes, esse sim, uma ameaça ao actual regime, a esta democracia de partidos, onde, por acaso, nem Marcelo, nem ninguém inspirado por Belém conseguirá ganhar "directas", controladas por Alberto João Jardim e por Menezes e pelas dezenas de militantes telecomandados que têm sabido inscrever nas suas concelhias do PSD. . A comunicação como arma ideológica da maioria.Apesar da sua origem social e política, o primeiro-ministro acaba por ser refém do sistema centralizado que criou e onde o imperativo democrático das eleições é apenas parte do processo de consolidação do seu poder. O entendimento que faz com o capital estrangeiro - sobretudo, espanhol, repito - e também com a alta burguesia financeira e especuladora - como se verificou no caso da PT - condena-o não só à paralisia, mas à repetição do mesmo mal que sofreu o guterrismo com Pina Moura. E, ainda por cima, o estado das mentalidades do PS e das estruturas políticas que apoiam o primeiro-ministro mostram a incapacidade de reformar o sistema, empurrando o País para o abismo de uma implosão ou, pior que isso, para o silêncio dos que já nada mais têm para perder - a pobreza. (O blog de António Costa é já a prova dessa incapacidade de ir até ao fim e a percepção do papel da propaganda e da comunicação como arma ideológica legítima.).Mas, ninguém tenha ilusões e Júdice, avisado, percebeu, também, isso: Sócrates vai ganhar as próximas eleições legislativas, sem alternativa, nem contraditório, porque tem os mecanismos de poder para tanto, enquanto a direita, autista, se perde em derivas mais ou menos populistas, ou em táctica contabilística para desalojar lideranças interinas..in Semanário - 2007-03-15 23:46..

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