O Cachimbo de Magritte: Rompendo o voto de silêncio (2)

23-12-2009
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O Vasco Barreto diz que não expliquei "como deve Bento XVI resolver o problema" do bispo negacionista nem o que penso concretamente sobre isso. Vou tentar ser mais claro. Prometo até nem falar do Concílio de Trento, embora lamente que o interesse do Vasco pela Igreja católica se esgote em bispos que negam o Holocausto. Para abreviar razões, o que penso é que o caso só poderia ter a solução que lhe deu o Papa. Recordo que a excomunhão do cismático Williamson é uma coisa e a sua negação do Holocausto outra. Não há relação entre as duas. A primeira, matéria de obediência a Roma, cai sob a disciplina eclesiástica; a segunda, matéria de evidência científica, não. Já lá vai o tempo em que o Papa era o referee mais solicitado do Ocidente. A negação do Holocausto é um disparate científico, mas a Igreja não excomunga todos os católicos que dizem disparates científicos. Se algum bispo, padre ou leigo sustenta que a molécula da água tem três átomos de hidrogénio, não incorre por isso em excomunhão. Evidentemente que, além de um disparate científico, o negacionismo é também uma ofensa aos judeus e um embaraço para a Igreja. Não há, porém, nenhuma pena canónica contra ofensas e embaraços.O máximo que Ratzinger pode fazer é pedir perdão aos ofendidos (como fez) e exigir ao ofensor que se retracte (como também fez). Sem grande sucesso, diga-se de passagem. Mas os mesmos que o acusam de transigência, aqui para nós, viriam logo acusá-lo de intransigência se as ovelhas fossem outras. Quanto ao embaraço, a Igreja está habituadíssima a passar vergonhas pelo comportamento dos católicos. Aliás, tem um nome para isso: pecado. Desde o primeiro Papa, que negou Cristo, ao último padre pedófilo, só lhes pede que se arrependam e "não voltem a pecar" - mais excomunhão, menos excomunhão. Eu também fico embaraçado quando o José Manuel Pureza põe a etiqueta de católico e faz campanha pelo Bloco de Esquerda. Suspeito, no entanto, que o Vasco não vê aí um "problema". Os problemas da Igreja são como os animais da quinta: uns mais iguais do que outros. E isto para não falar do Concílio de Trento, claro.


O Vasco Barreto diz que não expliquei "como deve Bento XVI resolver o problema" do bispo negacionista nem o que penso concretamente sobre isso. Vou tentar ser mais claro. Prometo até nem falar do Concílio de Trento, embora lamente que o interesse do Vasco pela Igreja católica se esgote em bispos que negam o Holocausto. Para abreviar razões, o que penso é que o caso só poderia ter a solução que lhe deu o Papa. Recordo que a excomunhão do cismático Williamson é uma coisa e a sua negação do Holocausto outra. Não há relação entre as duas. A primeira, matéria de obediência a Roma, cai sob a disciplina eclesiástica; a segunda, matéria de evidência científica, não. Já lá vai o tempo em que o Papa era o referee mais solicitado do Ocidente. A negação do Holocausto é um disparate científico, mas a Igreja não excomunga todos os católicos que dizem disparates científicos. Se algum bispo, padre ou leigo sustenta que a molécula da água tem três átomos de hidrogénio, não incorre por isso em excomunhão. Evidentemente que, além de um disparate científico, o negacionismo é também uma ofensa aos judeus e um embaraço para a Igreja. Não há, porém, nenhuma pena canónica contra ofensas e embaraços.O máximo que Ratzinger pode fazer é pedir perdão aos ofendidos (como fez) e exigir ao ofensor que se retracte (como também fez). Sem grande sucesso, diga-se de passagem. Mas os mesmos que o acusam de transigência, aqui para nós, viriam logo acusá-lo de intransigência se as ovelhas fossem outras. Quanto ao embaraço, a Igreja está habituadíssima a passar vergonhas pelo comportamento dos católicos. Aliás, tem um nome para isso: pecado. Desde o primeiro Papa, que negou Cristo, ao último padre pedófilo, só lhes pede que se arrependam e "não voltem a pecar" - mais excomunhão, menos excomunhão. Eu também fico embaraçado quando o José Manuel Pureza põe a etiqueta de católico e faz campanha pelo Bloco de Esquerda. Suspeito, no entanto, que o Vasco não vê aí um "problema". Os problemas da Igreja são como os animais da quinta: uns mais iguais do que outros. E isto para não falar do Concílio de Trento, claro.

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