Villa Cicogna-Mozzoni

21-05-2011
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Desta vez não pensava ir a Villa Cicogna-Mozzoni, mas um convite de Jacopo fez-me mudar de ideias. Para mim, é sempre um prazer revisitar a casa, os jardins e, sobretudo, rever os frescos que os irmãos Campi di Cremona ali executaram entre 1540 e 1550. E, claro, tomar um café com Jacopo ouvindo as inúmeras histórias de uma casa com séculos de História.

A primeira parte da casa foi construída nos primeiros anos de 1400 como pavilhão de caça. Na primavera, a família Cicogna abandonava Milão, convidava outros nobres lombardos e passava o Verão em caçadas ao urso e javali por terras de Bisuschio.

Em 1440, estando presente Galeazzo Maria Sforza, duque de Milão, o mais importante nobre de toda a Lombardia ( um destes dias deixarei aqui algumas imagens do extraordinário Castello Sforzesco ), este foi atacado por um urso ferido e enfurecido. Salvou-o a intervenção de Agostino Mozzoni que, juntamente com os seus cães, se interpôs e abateu a besta. Este facto contribuiu para o aumento exponencial da riqueza e influência dos Cicogna-Mozzoni que, ao longo dos séculos, ocuparam sempre os mais altos cargos na complexa geografia do poder dos países e famílias que compõem, hoje, a Itália. É, também, desse episódio que resulta Villa Cicogna, tal como a conhecemos no presente.

A partir de 1957 a Villa começou a receber visitantes e turistas, característica que permite, hoje, a sua manutenção e se tornou o centro da actividade da família. Jacopo dedica-se inteiramente à casa, digitaliza documentos antiquissímos, organiza um assombroso arquivo fotográfico que remonta a 1860, perde-se nas estufas e nos jardins, entre flores, plantas com cheiros que eu desconhecia e árvores de idade verdadeiramente respeitável.

Há uns anos a sua mãe preparou-nos um magnífico jantar que decorreu numa das varandas da casa onde habitam. Graves motivos de saúde afastaram-na da Villa e do seu dia a dia. Jacopo tem quarenta e poucos anos de idade e é, agora, o guardião de mais de seiscentos anos de História e de uma casa que é monumento nacional italiano. Tem uma preocupação que eu compreendo e tento imaginar: o actual conde de Cicogna-Mozzoni não tem filhos. Sentados na sua sala de estar, com um album de fotografias sobre o colo, vejo um homem confrontado com as malhas do tempo. Um longuíssimo passado às costas e um futuro que parece encurtar-se a cada dia.

Jacopo mostrando um dos arquivos de Villa Cicogna, organizados por pastas "como, hoje em dia, num computador". Neste caso trata-se de um documento do início de 1500.

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Desta vez não pensava ir a Villa Cicogna-Mozzoni, mas um convite de Jacopo fez-me mudar de ideias. Para mim, é sempre um prazer revisitar a casa, os jardins e, sobretudo, rever os frescos que os irmãos Campi di Cremona ali executaram entre 1540 e 1550. E, claro, tomar um café com Jacopo ouvindo as inúmeras histórias de uma casa com séculos de História.

A primeira parte da casa foi construída nos primeiros anos de 1400 como pavilhão de caça. Na primavera, a família Cicogna abandonava Milão, convidava outros nobres lombardos e passava o Verão em caçadas ao urso e javali por terras de Bisuschio.

Em 1440, estando presente Galeazzo Maria Sforza, duque de Milão, o mais importante nobre de toda a Lombardia ( um destes dias deixarei aqui algumas imagens do extraordinário Castello Sforzesco ), este foi atacado por um urso ferido e enfurecido. Salvou-o a intervenção de Agostino Mozzoni que, juntamente com os seus cães, se interpôs e abateu a besta. Este facto contribuiu para o aumento exponencial da riqueza e influência dos Cicogna-Mozzoni que, ao longo dos séculos, ocuparam sempre os mais altos cargos na complexa geografia do poder dos países e famílias que compõem, hoje, a Itália. É, também, desse episódio que resulta Villa Cicogna, tal como a conhecemos no presente.

A partir de 1957 a Villa começou a receber visitantes e turistas, característica que permite, hoje, a sua manutenção e se tornou o centro da actividade da família. Jacopo dedica-se inteiramente à casa, digitaliza documentos antiquissímos, organiza um assombroso arquivo fotográfico que remonta a 1860, perde-se nas estufas e nos jardins, entre flores, plantas com cheiros que eu desconhecia e árvores de idade verdadeiramente respeitável.

Há uns anos a sua mãe preparou-nos um magnífico jantar que decorreu numa das varandas da casa onde habitam. Graves motivos de saúde afastaram-na da Villa e do seu dia a dia. Jacopo tem quarenta e poucos anos de idade e é, agora, o guardião de mais de seiscentos anos de História e de uma casa que é monumento nacional italiano. Tem uma preocupação que eu compreendo e tento imaginar: o actual conde de Cicogna-Mozzoni não tem filhos. Sentados na sua sala de estar, com um album de fotografias sobre o colo, vejo um homem confrontado com as malhas do tempo. Um longuíssimo passado às costas e um futuro que parece encurtar-se a cada dia.

Jacopo mostrando um dos arquivos de Villa Cicogna, organizados por pastas "como, hoje em dia, num computador". Neste caso trata-se de um documento do início de 1500.

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