NOVA ÁGUIA: REVISTA DE CULTURA PARA O SÉCULO XXI: "VIDAS DE HOMENS CÉLEBRES" (VIII)

30-05-2010
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VIII - ROBERT OWENRobert Owen (1771-1858) foi um activista social galês, sendo em geral considerado como o “pai do movimento cooperativo”. Na sua Biografia, destaca Agostinho da Silva, desde logo, a sua completude enquanto ser humano, bem patente, de forma inequívoca, desde a sua juventude: “O amor da leitura não fazia que Owen desprezasse toda a outra acti­vidade; ninguém pode compreender a humanidade, se não é ele próprio um ser humano, virado a tudo o que na vida palpita, sentindo ressoar em si próprio todos os defeitos e todas as qualidades dos irmãos homens; se meditava já, precocemente, nos problemas que levantavam os pre­gadores, era também um excelente jogador de foot-ball, corria e saltava como o mocinho da terra de mais propensões atléticas; era o melhor aluno da escola e igualmente um perfeito dançarino; nos bailes, de pequenos e de grandes, dançava ou tocava clarinete com igual à-von­tade; além de tudo, tinha a grande arte humana de ser simpático, de estabelecer facilmente relações, de fazer transparecer em toda a sua expressão a benevolência fundamental do seu carácter, o desejo de viver feliz na felicidade geral; todos o estimavam e todos desejavam que a vida lhe viesse a dar o ambiente necessário para que a sua acção não fosse inútil no mundo.”.Tendo sido um homem de múltiplos facetas, com muitos interesses, ele foi, de facto, sobretudo, um reformador social. Mas não propriamente um revolucionário – de tal modo que, como assinala Agostinho, “Robert Owen, sempre tão desperto para tudo o que era movi­mento humano, manteve-se singularmente indiferente perante a revo­lução francesa; o seu pensamento ia adquirindo cada vez mais um carác­ter económico e social e parecia-lhe que uma revolução não tem, para a evolução do mundo, uma importância extraordinária”. Ao invés, na sua visão, ainda nas palavras de Agostinho, “o mundo é uma empresa que temos, todos juntos, de levar a bom cabo, é uma habitação que temos de tornar o mais bela e o mais confortável que nos for possível, numa cooperação inteligente, corajosa e alegre, com todos os nossos companheiros; muitas gerações se hão-de passar antes que o homem faça da terra um lugar realmente humano, mas, pelo menos, que todos os sacrifí­cios que se fizerem se façam em comum e que levantemos da vida este peso, esta inquietação, este doloroso esmagamento que nela lançamos quando, com tanta facilidade, julgamos o que não tem julgamento e con­denamos e absolvemos, até para a eternidade, quem não é responsável do que fez; «não julgueis», dizia Cristo; e Owen admirava-se de que as igre­jas tão depressa tivessem esquecido as palavras profundas daquele que di­ziam adorar e compreender em toda a sua mansidão, mas que sempre toma­vam como patrono quando se tratava de perseguir e maltratar”. Daí, de resto, a sua aposta nas crianças[1]: não pelo que elas são, mas pelo que poderão ser.[1] “Reconhecia, porém, que, no que respeita aos adultos, a tarefa a exe­cutar era extraordinariamente difícil e que a grande esperança residia nas crianças; já bom seria que se conseguisse, dos que mandavam e dos que obedeciam, ambiente favorável para que se pudessem abrir boas escolas e educar as gerações futuras para um trabalho de colaboração, de fraternidade, de espírito crítico, de solução inteligente a todo o problema apresentado; educá-las para o sentimento que tudo anima e dá segurança aos grandes homens e vida aos grandes empreendimentos, não para o sentimentalismo que lamenta a existência e a não transfor­ma, que aplaude a esmola, que santifica a miséria e a doença; educá-las para o culto do espírito que tudo penetra numa rajada de luz, e a um tempo ilumina e aquece, para o espírito que infatigável persegue um ideal, para o espírito que não esmorece ante a faina, e a si próprio, um dia, assimilará toda a vida que fora de nós e dentro em nós palpita; educá-las também no culto de um corpo que se não despreza, que se quer forte e dócil, obediente à inteligência, e que em si mesmo se admi­ra como a mais bela, a mais perfeita, a mais vibrante das obras de arte; a vida inteira a penetrar na escola, para que a escola saiba preparar a vida; e, como ideal mais profundo, como pensamento director, o de que a escola é, na realidade, um substituto artificial e bem pobre da vida e de que a meta a atingir não é a de uma boa escola, mas a de uma boa vida, que seja educadora em todos os seus actos”.


VIII - ROBERT OWENRobert Owen (1771-1858) foi um activista social galês, sendo em geral considerado como o “pai do movimento cooperativo”. Na sua Biografia, destaca Agostinho da Silva, desde logo, a sua completude enquanto ser humano, bem patente, de forma inequívoca, desde a sua juventude: “O amor da leitura não fazia que Owen desprezasse toda a outra acti­vidade; ninguém pode compreender a humanidade, se não é ele próprio um ser humano, virado a tudo o que na vida palpita, sentindo ressoar em si próprio todos os defeitos e todas as qualidades dos irmãos homens; se meditava já, precocemente, nos problemas que levantavam os pre­gadores, era também um excelente jogador de foot-ball, corria e saltava como o mocinho da terra de mais propensões atléticas; era o melhor aluno da escola e igualmente um perfeito dançarino; nos bailes, de pequenos e de grandes, dançava ou tocava clarinete com igual à-von­tade; além de tudo, tinha a grande arte humana de ser simpático, de estabelecer facilmente relações, de fazer transparecer em toda a sua expressão a benevolência fundamental do seu carácter, o desejo de viver feliz na felicidade geral; todos o estimavam e todos desejavam que a vida lhe viesse a dar o ambiente necessário para que a sua acção não fosse inútil no mundo.”.Tendo sido um homem de múltiplos facetas, com muitos interesses, ele foi, de facto, sobretudo, um reformador social. Mas não propriamente um revolucionário – de tal modo que, como assinala Agostinho, “Robert Owen, sempre tão desperto para tudo o que era movi­mento humano, manteve-se singularmente indiferente perante a revo­lução francesa; o seu pensamento ia adquirindo cada vez mais um carác­ter económico e social e parecia-lhe que uma revolução não tem, para a evolução do mundo, uma importância extraordinária”. Ao invés, na sua visão, ainda nas palavras de Agostinho, “o mundo é uma empresa que temos, todos juntos, de levar a bom cabo, é uma habitação que temos de tornar o mais bela e o mais confortável que nos for possível, numa cooperação inteligente, corajosa e alegre, com todos os nossos companheiros; muitas gerações se hão-de passar antes que o homem faça da terra um lugar realmente humano, mas, pelo menos, que todos os sacrifí­cios que se fizerem se façam em comum e que levantemos da vida este peso, esta inquietação, este doloroso esmagamento que nela lançamos quando, com tanta facilidade, julgamos o que não tem julgamento e con­denamos e absolvemos, até para a eternidade, quem não é responsável do que fez; «não julgueis», dizia Cristo; e Owen admirava-se de que as igre­jas tão depressa tivessem esquecido as palavras profundas daquele que di­ziam adorar e compreender em toda a sua mansidão, mas que sempre toma­vam como patrono quando se tratava de perseguir e maltratar”. Daí, de resto, a sua aposta nas crianças[1]: não pelo que elas são, mas pelo que poderão ser.[1] “Reconhecia, porém, que, no que respeita aos adultos, a tarefa a exe­cutar era extraordinariamente difícil e que a grande esperança residia nas crianças; já bom seria que se conseguisse, dos que mandavam e dos que obedeciam, ambiente favorável para que se pudessem abrir boas escolas e educar as gerações futuras para um trabalho de colaboração, de fraternidade, de espírito crítico, de solução inteligente a todo o problema apresentado; educá-las para o sentimento que tudo anima e dá segurança aos grandes homens e vida aos grandes empreendimentos, não para o sentimentalismo que lamenta a existência e a não transfor­ma, que aplaude a esmola, que santifica a miséria e a doença; educá-las para o culto do espírito que tudo penetra numa rajada de luz, e a um tempo ilumina e aquece, para o espírito que infatigável persegue um ideal, para o espírito que não esmorece ante a faina, e a si próprio, um dia, assimilará toda a vida que fora de nós e dentro em nós palpita; educá-las também no culto de um corpo que se não despreza, que se quer forte e dócil, obediente à inteligência, e que em si mesmo se admi­ra como a mais bela, a mais perfeita, a mais vibrante das obras de arte; a vida inteira a penetrar na escola, para que a escola saiba preparar a vida; e, como ideal mais profundo, como pensamento director, o de que a escola é, na realidade, um substituto artificial e bem pobre da vida e de que a meta a atingir não é a de uma boa escola, mas a de uma boa vida, que seja educadora em todos os seus actos”.

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