NOVA ÁGUIA: REVISTA DE CULTURA PARA O SÉCULO XXI: ANIVERSÁRIO DE PIXINGUINHA

28-05-2010
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TEXTO DE CYRO DE MATTOS & FOTOS DE IVO KORYTOWSKIFilho de uma família musical, Alfredo da Rocha Viana Filho nasceu no Rio de Janeiro, em 23 de abril de 1897. Teve treze irmãos. O apelido Pixinguinha veio da junção de dois outros apelidos: “Pizindim”, apelido colocado pela avó Edwirges, que era africana, e “Bexiguinha”, herdado ao contrair varíola (bexiga), epidemia que deixou marcas em seu rosto.A história da nossa música popular e do rádio confunde-se com a vida desse maravilhoso flautista, saxofonista, compositor, arranjador e regente. Choros, canções regionais, desafios sertanejos, maxixes, lundus, corta-jacas, batuques, cateretês, entre outras modalidades musicais, receberam o acento, o hálito, o sopro, a marca magistral do primeiro arranjador que a música popular brasileira teve, com “O Teu Cabelo Não Nega”, de Lamartine e os Irmãos Valença, e “Taí”, de Joubert de Carvalho.Aos 12 anos começou a acompanhar seu pai, flautista, em festas, tocando cavaquinho. Aos treze fazia a primeira composição, “Lata de Leite”, inspirada nos chorões boêmios, músicos que de madrugada encerravam suas atividades e, voltando para casa, bebiam o leite deixado na porta das residências. De suas primeiras composições destacam-se ainda “Rosa” e “Sofre Porque Queres”.Esse filho de Ogun, de fama internacional, fundiu a sua formação clássica, de base européia, com ritmos nossos, de raízes negras, além de incorporar a música negra norte-americana, formando assim um estilo em que sobressai o toque especial do sentimento brasileiro de nossa música popular. Diante de sua música, que mexe com a alma e traz um jeito tão nosso, não há quem não sinta o orgulho de ser brasileiro. São tantas as composições marcantes realizadas por esse mestre de nossa música popular, entre tantos mestres, que é difícil destacar algumas dessas jóias. Cito aqui algumas do meu gosto: “Carinhoso”, “Gavião Calçudo” , “Chorei”, “Um a Zero” e “Vou Vivendo”. Mas há quem prefira “Mundo Melhor”, “Segure Ele” e “Sofres Porque Queres”. E ainda quem não abra mão de “A Vida É um Buraco”, “Naquele Tempo” e “Rosa”. Estátua de Pixinguinha na Travessa do Ouvidor, Centro do RioSe música é pensar e sentir a vida através de sons, em Pixiguinha temos o exemplo primoroso de como não se pode viver sem ela. Esse poeta da nossa música popular tinha a alma de passarinho, que gostava de soltar da flauta pingos de ouro, de dia e de noite. Dos lamentos de seu saxofone lograva extrair sentimentos puros, fundos, pungentes choros, emoção numa coisa só música afinada, que traz também o riso,.além de fazer que famosos compositores, letristas e músicos de hoje se curvem diante dela.Ele pensava, sentia e respirava música. Foi na terceira complicação cardíaca, nos idos de 1964, que ele ficou internado por mais de um mês. Foi proibido pelo médico de certas comidas pesadas, bebida e de tocar saxofone. Tempo depois, quando teve autorização para voltar a tocar saxofone, chorou. Escreveu vinte músicas durante o tempo que esteve internado,, cada uma delas se relacionando com os momentos que teve no hospital. Por exemplo, “Manda Brasa”, expressão que ouviu quando ia almoçar, e “Vou pra Casa”, escreveu no quarto, ao receber alta.Pixinguinha morreu dentro de uma igreja, em Ipanema, no Rio de Janeiro, em 17 de fevereiro de 1973. Tinha ido batizar o filho de um amigo, depois de adiar por várias vezes o batismo por motivo de complicações no estado de saúde. É possível que não tenha resistido à emoção de ser padrinho do filho do amigo na hora do batismo quando então caiu fulminado por um enfarte. O pessoal da Banda de Ipanema, que saía pelas ruas em época de Carnaval, ao tomar conhecimento de sua morte, passou na porta da igreja onde o corpo de Pixinguinha estava sendo velado lá dentro. E naquele instante tocou como nunca o samba que homenageava o mestre. Os foliões cantavam num clima de alegria e tristeza o refrão: “Ô, lê, lê, ô,lá, lá, pega no ganzê, pega no ganzá...”Um motorista, ao ouvir pelo rádio do carro a notícia da morte de Pixinguinha, disse para o passageiro:- Esse homem tinha um coração tão bom que Deus quis que ele morresse dentro de uma igreja. Painel a óleo em frente à estátua de Pixinguinha. O painel mostra um encontro hipotético entre bambas da nossa música (Nelson Sargento, Paulo Moura, Braguinha, Noel Rosa e outros) na Wiskeria Gouveia, o "Escritório do Pixinguinha" . Postagem originalmente publicada no blog Literatura & Rio de Janeiro.


TEXTO DE CYRO DE MATTOS & FOTOS DE IVO KORYTOWSKIFilho de uma família musical, Alfredo da Rocha Viana Filho nasceu no Rio de Janeiro, em 23 de abril de 1897. Teve treze irmãos. O apelido Pixinguinha veio da junção de dois outros apelidos: “Pizindim”, apelido colocado pela avó Edwirges, que era africana, e “Bexiguinha”, herdado ao contrair varíola (bexiga), epidemia que deixou marcas em seu rosto.A história da nossa música popular e do rádio confunde-se com a vida desse maravilhoso flautista, saxofonista, compositor, arranjador e regente. Choros, canções regionais, desafios sertanejos, maxixes, lundus, corta-jacas, batuques, cateretês, entre outras modalidades musicais, receberam o acento, o hálito, o sopro, a marca magistral do primeiro arranjador que a música popular brasileira teve, com “O Teu Cabelo Não Nega”, de Lamartine e os Irmãos Valença, e “Taí”, de Joubert de Carvalho.Aos 12 anos começou a acompanhar seu pai, flautista, em festas, tocando cavaquinho. Aos treze fazia a primeira composição, “Lata de Leite”, inspirada nos chorões boêmios, músicos que de madrugada encerravam suas atividades e, voltando para casa, bebiam o leite deixado na porta das residências. De suas primeiras composições destacam-se ainda “Rosa” e “Sofre Porque Queres”.Esse filho de Ogun, de fama internacional, fundiu a sua formação clássica, de base européia, com ritmos nossos, de raízes negras, além de incorporar a música negra norte-americana, formando assim um estilo em que sobressai o toque especial do sentimento brasileiro de nossa música popular. Diante de sua música, que mexe com a alma e traz um jeito tão nosso, não há quem não sinta o orgulho de ser brasileiro. São tantas as composições marcantes realizadas por esse mestre de nossa música popular, entre tantos mestres, que é difícil destacar algumas dessas jóias. Cito aqui algumas do meu gosto: “Carinhoso”, “Gavião Calçudo” , “Chorei”, “Um a Zero” e “Vou Vivendo”. Mas há quem prefira “Mundo Melhor”, “Segure Ele” e “Sofres Porque Queres”. E ainda quem não abra mão de “A Vida É um Buraco”, “Naquele Tempo” e “Rosa”. Estátua de Pixinguinha na Travessa do Ouvidor, Centro do RioSe música é pensar e sentir a vida através de sons, em Pixiguinha temos o exemplo primoroso de como não se pode viver sem ela. Esse poeta da nossa música popular tinha a alma de passarinho, que gostava de soltar da flauta pingos de ouro, de dia e de noite. Dos lamentos de seu saxofone lograva extrair sentimentos puros, fundos, pungentes choros, emoção numa coisa só música afinada, que traz também o riso,.além de fazer que famosos compositores, letristas e músicos de hoje se curvem diante dela.Ele pensava, sentia e respirava música. Foi na terceira complicação cardíaca, nos idos de 1964, que ele ficou internado por mais de um mês. Foi proibido pelo médico de certas comidas pesadas, bebida e de tocar saxofone. Tempo depois, quando teve autorização para voltar a tocar saxofone, chorou. Escreveu vinte músicas durante o tempo que esteve internado,, cada uma delas se relacionando com os momentos que teve no hospital. Por exemplo, “Manda Brasa”, expressão que ouviu quando ia almoçar, e “Vou pra Casa”, escreveu no quarto, ao receber alta.Pixinguinha morreu dentro de uma igreja, em Ipanema, no Rio de Janeiro, em 17 de fevereiro de 1973. Tinha ido batizar o filho de um amigo, depois de adiar por várias vezes o batismo por motivo de complicações no estado de saúde. É possível que não tenha resistido à emoção de ser padrinho do filho do amigo na hora do batismo quando então caiu fulminado por um enfarte. O pessoal da Banda de Ipanema, que saía pelas ruas em época de Carnaval, ao tomar conhecimento de sua morte, passou na porta da igreja onde o corpo de Pixinguinha estava sendo velado lá dentro. E naquele instante tocou como nunca o samba que homenageava o mestre. Os foliões cantavam num clima de alegria e tristeza o refrão: “Ô, lê, lê, ô,lá, lá, pega no ganzê, pega no ganzá...”Um motorista, ao ouvir pelo rádio do carro a notícia da morte de Pixinguinha, disse para o passageiro:- Esse homem tinha um coração tão bom que Deus quis que ele morresse dentro de uma igreja. Painel a óleo em frente à estátua de Pixinguinha. O painel mostra um encontro hipotético entre bambas da nossa música (Nelson Sargento, Paulo Moura, Braguinha, Noel Rosa e outros) na Wiskeria Gouveia, o "Escritório do Pixinguinha" . Postagem originalmente publicada no blog Literatura & Rio de Janeiro.

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