Equinócios e Solstícios : Equinócios e Solstícios 8 de Janeiro de 2010

09-04-2010
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Equinócios e Solstícios 8 de Janeiro de 2010

Publicação: 08 January 10 10:00 AM

Falácia

Os 3+1 mosqueteiros de Durão Barroso

Entendamo-nos: até há semanas todos reconheciam que os congressos tinham perdido o interesse. Agora, alguns desses dizem que é melhor deixar tudo na mesma. Em que ficamos?

Os chamados – com propriedade – ‘barrosistas’ nunca gostaram das ‘directas’. Agora, alguns pedem «directas já» e nem querem ouvir falar em congressos.

desde 1995, pelo menos, que esse grupo assume posições colectivamente pensadas – e não é por apoiarem lideranças diferentes que isso deixa de ser verdade.

Apoiaram Marcelo Rebelo de Sousa – até Durão Barroso entrar, em Abril de 1999. Naquele período, Miguel Relvas esteve sempre ao lado de Barroso, enquanto Morais Sarmento e José Luís Arnaut colaboravam mais com a liderança de Marcelo.

Quando Barroso subiu ao poder, Sarmento foi vice-presidente no partido e ministro no Governo, Arnaut foi secretário-geral e Relvas foi secretário de Estado para as autarquias.

José Correia foi chefe de gabinete do primeiro-ministro.

Quando Barroso saiu, Relvas, Arnaut e Sarmento continuaram a assegurar papéis relevantes: os dois últimos como ministros e vice-presidentes, Relvas como secretário-geral. José Correia ficou de fora.

Quando eu saí, três destes ficaram com as presidências das comissões parlamentares a que o PSD tinha direito. Sarmento não quis ficar na Assembleia – e Arnaut, Relvas e Correia, o ‘barrosista’ diplomata, ficaram com a Ética, as Relações Internacionais e as Obras Públicas.

Depois, no geral, estiveram com Marques Mendes (excepto Sarmento) e contra Menezes. Mais recentemente, três deles apoiaram Manuela Ferreira Leite, enquanto Miguel Relvas apoiou Pedro Passos Coelho.

Ou seja: por coincidência ou não, ficam normalmente três de um lado, enquanto um quarto se distancia.

Outras matérias houve em que o ‘três-um’ igualmente se manifestou. Por exemplo, em 2003-2004, quando se discutiam as futuras presidenciais, Miguel Relvas deu várias entrevistas a apoiar uma eventual candidatura minha, enquanto os outros mantinham reserva.

Falo destes quatro conhecidos militantes do PPD/PSD porque, nestes dias de novos debates sobre as ‘directas’, lembro-me muitas vezes do que lhes ouvi sobre tal método.

Sei que sempre preferiram os congressos onde, durante anos, conseguiram esforçadas votações – como, por exemplo, em 2000, em Viseu, quando defrontei Durão Barroso, ou nos congressos em que Marcelo Rebelo de Sousa exigia dois terços.

Ora, se gostavam tanto de congressos, se são contra as ‘directas’, se sempre as consideraram nocivas, se o partido precisa de fazer tudo para sair de um ciclo muito difícil – como explicar que, quando a oportunidade surge, queiram manter tudo na mesma?

Nem José Luís Arnaut nem José Correia falaram ainda sobre o assunto. E não sei o que pensa Durão Barroso (informado e sempre atento) sobre o tema. Desde que o substituí como primeiro-ministro e presidente do PPD/PSD, pouco o tenho visto e nunca mais falámos sobre semelhantes matérias.

Por mim, continuo a defender as ‘directas’ – e, por isso mesmo, quero que elas tenham lugar tão cedo quanto possível. Não mudo com as circunstâncias. Quero aperfeiçoamentos? Sem dúvida! Detesto ‘cacicadas’? Claro! Mas entendo que é possível os congressos voltarem a ganhar interesse, mesmo mantendo o importante princípio de serem as bases a escolher a liderança.

Eficácia

Cavaco serenou o país

A mensagem de Ano Novo do Presidente da República foi de enorme importância para o estado de espírito do país.

Os portugueses voltaram a ouvir um discurso que, apesar de lhes falar de dificuldades, sentem que tem correspondência com a realidade.

Antes dessas palavras do chefe do Estado, os portugueses sentiam-se como que ‘sozinhos no mundo’. Depois dessa comunicação, quase tudo mudou: a crise política passou de quase inevitável a hipótese quase inconcebível; o Governo escreveu à oposição e a oposição respondeu, no geral, de modo positivo; a aprovação do Orçamento de Estado passou de altamente improvável a quase certa.

Cavaco Silva, com essas palavras, – duras, lúcidas e realistas –, recuperou grande parte do capital político que perdera no Verão.

Pode colocar-se a questão de saber se o Presidente só agora encontrou motivos para dizer o que disse.

Lembremo-nos de que houve três eleições e muita agitação institucional nos últimos meses. Era necessário que passasse algum tempo desde o último dos três actos eleitorais para o Presidente poder sentir a ‘folga política’ necessária para ‘tocar a rebate’ – como fez na referida mensagem.

Audácia

O PPD precisa de calma, de reflectir antes de decidir

Aguiar-Branco teve uma boa iniciativa com o projecto que apresentou sobre a união civil entre pessoas do mesmo sexo. Aliás, tem pautado as suas mais recentes intervenções por uma assinalável sensatez e por um cuidado sentido de oportunidade.

A posição surpreendente que tomou quando da avaliação dos professores (que tive ocasião de destacar) parece ter continuidade nas notícias de diálogo ‘secreto’ com o Governo, que surgiram logo após a referida mensagem presidencial.

A linha do líder parlamentar surge, sem dúvida, como mais suave do que a protagonizada pela liderança do partido. Divisões? Intrigas? Nada disso. Estilos diferentes dentro de uma solidariedade que parece nunca ter sido quebrada.

Aguiar-Branco tem sabido aliar essa suavidade com uma incontestável frontalidade com os adversários políticos, não fugindo a assumir posições contrárias às de altos responsáveis que merecem a sua crítica.

Sei que estes elogios são dirigidos a um hipotético candidato à liderança. Mas são merecidos pelo seu trabalho nas mencionadas matérias.

Numa altura em que meio mundo diz mal da outra metade, faço questão de fazer o que sempre fiz: dizer bem daqueles que provam merecer consideração pelo trabalho que desenvolvem.

O PPD/PSD precisa disto. Precisa de algum tempo. Precisa de descontrair, de reflectir, antes de decidir. Precisa de conhecer, de nada esconder, de deixar acontecer. Precisa de respirar, precisa de se libertar, precisa de serenar.

Seguramente ninguém está interessado em ganhar as eleições para a liderança por ser tudo feito a correr. Quem é líder não tem medo de defrontar seja quem for. Se alguém pensar que o mero passar de umas semanas lhe pode estragar os planos e entregar a vitória a outro, terá de reconhecer que a sua eleição seria um engano, só devido à ausência de alternativas. E elas surgirão? Costuma dizer-se que ‘da discussão nasce a luz’.

Estou certo de que Pedro Passos Coelho não gostaria de ganhar sabendo que umas semanas mais tarde perderia. Já demonstrou que não receia combates quando desafiou Marcelo Rebelo de Sousa. Por isso mesmo, sinto-me à vontade para afirmar que é deselegante, para ele, o nervosismo de alguns que o querem ver na liderança.

Aliás, nervosismo existe em várias fileiras, como se pôde constatar pelas notícias do início da semana – que davam conta de uma eventual decisão para se anteciparem as ‘directas’ sem, antes, ter lugar um congresso.

Falam tanto em discutir o país, só há uma candidatura confirmada, há tantas diferenças assumidas, – e, mesmo assim, queriam que as ‘directas’ fossem já?

Equinócios e Solstícios 8 de Janeiro de 2010

Publicação: 08 January 10 10:00 AM

Falácia

Os 3+1 mosqueteiros de Durão Barroso

Entendamo-nos: até há semanas todos reconheciam que os congressos tinham perdido o interesse. Agora, alguns desses dizem que é melhor deixar tudo na mesma. Em que ficamos?

Os chamados – com propriedade – ‘barrosistas’ nunca gostaram das ‘directas’. Agora, alguns pedem «directas já» e nem querem ouvir falar em congressos.

desde 1995, pelo menos, que esse grupo assume posições colectivamente pensadas – e não é por apoiarem lideranças diferentes que isso deixa de ser verdade.

Apoiaram Marcelo Rebelo de Sousa – até Durão Barroso entrar, em Abril de 1999. Naquele período, Miguel Relvas esteve sempre ao lado de Barroso, enquanto Morais Sarmento e José Luís Arnaut colaboravam mais com a liderança de Marcelo.

Quando Barroso subiu ao poder, Sarmento foi vice-presidente no partido e ministro no Governo, Arnaut foi secretário-geral e Relvas foi secretário de Estado para as autarquias.

José Correia foi chefe de gabinete do primeiro-ministro.

Quando Barroso saiu, Relvas, Arnaut e Sarmento continuaram a assegurar papéis relevantes: os dois últimos como ministros e vice-presidentes, Relvas como secretário-geral. José Correia ficou de fora.

Quando eu saí, três destes ficaram com as presidências das comissões parlamentares a que o PSD tinha direito. Sarmento não quis ficar na Assembleia – e Arnaut, Relvas e Correia, o ‘barrosista’ diplomata, ficaram com a Ética, as Relações Internacionais e as Obras Públicas.

Depois, no geral, estiveram com Marques Mendes (excepto Sarmento) e contra Menezes. Mais recentemente, três deles apoiaram Manuela Ferreira Leite, enquanto Miguel Relvas apoiou Pedro Passos Coelho.

Ou seja: por coincidência ou não, ficam normalmente três de um lado, enquanto um quarto se distancia.

Outras matérias houve em que o ‘três-um’ igualmente se manifestou. Por exemplo, em 2003-2004, quando se discutiam as futuras presidenciais, Miguel Relvas deu várias entrevistas a apoiar uma eventual candidatura minha, enquanto os outros mantinham reserva.

Falo destes quatro conhecidos militantes do PPD/PSD porque, nestes dias de novos debates sobre as ‘directas’, lembro-me muitas vezes do que lhes ouvi sobre tal método.

Sei que sempre preferiram os congressos onde, durante anos, conseguiram esforçadas votações – como, por exemplo, em 2000, em Viseu, quando defrontei Durão Barroso, ou nos congressos em que Marcelo Rebelo de Sousa exigia dois terços.

Ora, se gostavam tanto de congressos, se são contra as ‘directas’, se sempre as consideraram nocivas, se o partido precisa de fazer tudo para sair de um ciclo muito difícil – como explicar que, quando a oportunidade surge, queiram manter tudo na mesma?

Nem José Luís Arnaut nem José Correia falaram ainda sobre o assunto. E não sei o que pensa Durão Barroso (informado e sempre atento) sobre o tema. Desde que o substituí como primeiro-ministro e presidente do PPD/PSD, pouco o tenho visto e nunca mais falámos sobre semelhantes matérias.

Por mim, continuo a defender as ‘directas’ – e, por isso mesmo, quero que elas tenham lugar tão cedo quanto possível. Não mudo com as circunstâncias. Quero aperfeiçoamentos? Sem dúvida! Detesto ‘cacicadas’? Claro! Mas entendo que é possível os congressos voltarem a ganhar interesse, mesmo mantendo o importante princípio de serem as bases a escolher a liderança.

Eficácia

Cavaco serenou o país

A mensagem de Ano Novo do Presidente da República foi de enorme importância para o estado de espírito do país.

Os portugueses voltaram a ouvir um discurso que, apesar de lhes falar de dificuldades, sentem que tem correspondência com a realidade.

Antes dessas palavras do chefe do Estado, os portugueses sentiam-se como que ‘sozinhos no mundo’. Depois dessa comunicação, quase tudo mudou: a crise política passou de quase inevitável a hipótese quase inconcebível; o Governo escreveu à oposição e a oposição respondeu, no geral, de modo positivo; a aprovação do Orçamento de Estado passou de altamente improvável a quase certa.

Cavaco Silva, com essas palavras, – duras, lúcidas e realistas –, recuperou grande parte do capital político que perdera no Verão.

Pode colocar-se a questão de saber se o Presidente só agora encontrou motivos para dizer o que disse.

Lembremo-nos de que houve três eleições e muita agitação institucional nos últimos meses. Era necessário que passasse algum tempo desde o último dos três actos eleitorais para o Presidente poder sentir a ‘folga política’ necessária para ‘tocar a rebate’ – como fez na referida mensagem.

Audácia

O PPD precisa de calma, de reflectir antes de decidir

Aguiar-Branco teve uma boa iniciativa com o projecto que apresentou sobre a união civil entre pessoas do mesmo sexo. Aliás, tem pautado as suas mais recentes intervenções por uma assinalável sensatez e por um cuidado sentido de oportunidade.

A posição surpreendente que tomou quando da avaliação dos professores (que tive ocasião de destacar) parece ter continuidade nas notícias de diálogo ‘secreto’ com o Governo, que surgiram logo após a referida mensagem presidencial.

A linha do líder parlamentar surge, sem dúvida, como mais suave do que a protagonizada pela liderança do partido. Divisões? Intrigas? Nada disso. Estilos diferentes dentro de uma solidariedade que parece nunca ter sido quebrada.

Aguiar-Branco tem sabido aliar essa suavidade com uma incontestável frontalidade com os adversários políticos, não fugindo a assumir posições contrárias às de altos responsáveis que merecem a sua crítica.

Sei que estes elogios são dirigidos a um hipotético candidato à liderança. Mas são merecidos pelo seu trabalho nas mencionadas matérias.

Numa altura em que meio mundo diz mal da outra metade, faço questão de fazer o que sempre fiz: dizer bem daqueles que provam merecer consideração pelo trabalho que desenvolvem.

O PPD/PSD precisa disto. Precisa de algum tempo. Precisa de descontrair, de reflectir, antes de decidir. Precisa de conhecer, de nada esconder, de deixar acontecer. Precisa de respirar, precisa de se libertar, precisa de serenar.

Seguramente ninguém está interessado em ganhar as eleições para a liderança por ser tudo feito a correr. Quem é líder não tem medo de defrontar seja quem for. Se alguém pensar que o mero passar de umas semanas lhe pode estragar os planos e entregar a vitória a outro, terá de reconhecer que a sua eleição seria um engano, só devido à ausência de alternativas. E elas surgirão? Costuma dizer-se que ‘da discussão nasce a luz’.

Estou certo de que Pedro Passos Coelho não gostaria de ganhar sabendo que umas semanas mais tarde perderia. Já demonstrou que não receia combates quando desafiou Marcelo Rebelo de Sousa. Por isso mesmo, sinto-me à vontade para afirmar que é deselegante, para ele, o nervosismo de alguns que o querem ver na liderança.

Aliás, nervosismo existe em várias fileiras, como se pôde constatar pelas notícias do início da semana – que davam conta de uma eventual decisão para se anteciparem as ‘directas’ sem, antes, ter lugar um congresso.

Falam tanto em discutir o país, só há uma candidatura confirmada, há tantas diferenças assumidas, – e, mesmo assim, queriam que as ‘directas’ fossem já?

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