A Ágora

23-05-2011
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Sunday, silly sundayPlanear ficar em casa a trabalhar num dia de chuva e esquecer a chave numa curta saída até que os vizinhos que têm uma cópia cheguem é o cúmulo da distracção conjugado com a falta de oportunidade. No dia em que mais devia evitar sair, tive de andar a evitar poças de água e goteiras, com um frio glacial à mistura. Sempre deu para entrar num livraria e folhear uma volumosa biografia de Bruce Chatwin. A certa altura, saltou-me à vista uma passagem, sobre uma curta visita do escritor-viajante a Lisboa, em 1977, em trânsito do Brasil para Inglaterra: "Cidade triste, cartazes comunistas por todos os lados; um com metralhadoras portáteis, enxada e chave inglesa. Que curioso terem escolhido o emblema de Caim". A referência é evidentemente ao PRP-BR (que ainda tem um site a navegar), esse partido-movimento armado que deu brado no PREC. Estranho é que em 1977, tal força oficialmente já não existisse: ou os cartazes estavam muito usados, ou Chatwin, na sua prosa com fantasia misturada, falava de murais de rua. Não impede que seja uma descrição deprimente e pouco abonatório de um período mais infeliz da vida portuguesa. E curiosa, a referência a Caim. Ficariam aborrecidos os PRPs com tal comparação? Ficariam contentes, dada a sua actividade violenta? Saberiam ao menos quem era o irmão de Abel? Certo é que a alusão do escritor era premonitória, já que alguns elementos do movimento transitariam mais tarde para as FP-25. Resta acrescentar que escrevi esse trecho ilustrativo num Moleskine, um caderno também muito publicitado graças a Chatwin.


Sunday, silly sundayPlanear ficar em casa a trabalhar num dia de chuva e esquecer a chave numa curta saída até que os vizinhos que têm uma cópia cheguem é o cúmulo da distracção conjugado com a falta de oportunidade. No dia em que mais devia evitar sair, tive de andar a evitar poças de água e goteiras, com um frio glacial à mistura. Sempre deu para entrar num livraria e folhear uma volumosa biografia de Bruce Chatwin. A certa altura, saltou-me à vista uma passagem, sobre uma curta visita do escritor-viajante a Lisboa, em 1977, em trânsito do Brasil para Inglaterra: "Cidade triste, cartazes comunistas por todos os lados; um com metralhadoras portáteis, enxada e chave inglesa. Que curioso terem escolhido o emblema de Caim". A referência é evidentemente ao PRP-BR (que ainda tem um site a navegar), esse partido-movimento armado que deu brado no PREC. Estranho é que em 1977, tal força oficialmente já não existisse: ou os cartazes estavam muito usados, ou Chatwin, na sua prosa com fantasia misturada, falava de murais de rua. Não impede que seja uma descrição deprimente e pouco abonatório de um período mais infeliz da vida portuguesa. E curiosa, a referência a Caim. Ficariam aborrecidos os PRPs com tal comparação? Ficariam contentes, dada a sua actividade violenta? Saberiam ao menos quem era o irmão de Abel? Certo é que a alusão do escritor era premonitória, já que alguns elementos do movimento transitariam mais tarde para as FP-25. Resta acrescentar que escrevi esse trecho ilustrativo num Moleskine, um caderno também muito publicitado graças a Chatwin.

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