Capítulo 3: 1921 a 1930 - Primeiro clube a conquistar títulos de âmbito nacional (Parte I)

20-05-2011
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FCPorto – Dragões de Azul Forte

Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do

F. C. do Porto

Capítulo 3: 1921 a 1930 – Primeiro clube a conquistar títulos de âmbito nacional (Parte I)

Época 1920-1921

(*) “Capitão-geral” era como que o “relações públicas” indigitado pela Direcção do Clube.

No próximo post: Capítulo 3 (Continuação) – Época 1921-22: A campanha pelo Campeonato; a Selecção Nacional e a monstruosa afronta de Lisboa…; Artur Augusto, o primeiro futebolista internacional do FC Porto; encontro inaugural da Selecção Nacional; Cândido de Oliveira; Eurico de Brites, Presidente do FCP entre 1922 e 1923.

1921 marca, definitivamente, a quebra de fronteiras, os desafios para além das excursões à Galiza.– O FC Porto parte para Espanha para jogar em Madrid e em BarcelonaO primeiro jogo foi descrito por António Figueiredo e Melo como uma partida em que o Porto mostrou o seu valor e em que o Real Madrid demonstrou ser uma equipa muito forte. Contudo o resultado final (3-1) ficou a dever-se à ajuda caseira do árbitro que, entre várias “asneiras”, perdoou uma grande penalidade ao Real e validou o terceiro golo com um jogador madrileno em off-side.O FC Porto marcou primeiro, aos 25 minutos, por Alexandre Cal a passe de Carlos Pires. Valença, o guarda-redes portista, esteve bem no primeiro tempo mas desastrado no segundo. Destaque para José Ferreira, Artur Augusto, Tavares Bastos, Carlos Pires, Floriano Pereira e Alexandre Cal.António Figueiredo e Melo diz que os portistas ainda estiveram melhor neste segundo jogo, tendo dominado o Real durante os primeiros 20 minutos. O golo do FC Porto foi apontado logo aos 5 minutos. Mais uma vez o cronista refere o mau desempenho do árbitro que validou mal o segundo golo dos espanhóis e não validou um golo dos portugueses, com a bola a ser tirada de dentro da baliza por um defesa adversário. Figueiredo e Melo termina referindo que “o FC Porto poderia ter ganho este desafio, porém, não o conseguiu devido à parcialidade do árbitro”.O FC Porto alinhou nos dois jogos com a seguinte equipa: Valença; José Ferreira, Artur Augusto, José Francisco, Velez Carneiro, Floriano Pereira, Reis, Alexandre Cal, Tavares Bastos, Carlos Pires e Lopes Carneiro.À época era frequente as equipas realizarem jogos em dois dias consecutivos. Se os níveis competitivos não eram tão exigentes como nos dias de hoje, ainda assim é de louvar o esforço não regateado pelos atletas de antanho.O Real que não o era...Pelo jornal espanhol “ABC”, que considerou o FC Porto “equipa aceitável, desde logo pelos seus avançados, que são bastante rápidos e combinam muito bem”, se ficaria a saber, também, que aquele Real era mais que o Real: “O Real Madrid reforçou o seu grupo com elementos estranhos ao seu clube, como Del Campo, Ellorrio, Mejia, Urbina, sendo o primeiro da Sociedade Ginástica e os restantes do Atlético de Madrid, campeão da região do centro.”Já em Barcelona, para a segunda etapa da operação-Espanha, o FC Porto teve o seu primeiro encontro com o CD Europa, segundo classificado no campeonato da Catalunha. “Passavam cinco minutos quando Floriano Pereira, numa excelente avançada, consegue marcar o primeiro e único goal a favor dos portugueses... Olivela, claramente off-side, marca a primeira bola para o Europa, que o árbitro valida. Esta decisão do árbitro enerva os jogadores portugueses, dando ocasião a que se desorientem, já mesmo porque a arbitragem está sendo feita com muita parcialidade contra o FC Porto. Alcazar corre e centra. Sotilos chuta. Valença, depois de estar de posse da bola, deixa-a entrar por recear uma carga. Pouco depois termina a primeira parte. O segundo tempo foi jogado mais duramente, porém o árbitro evita castigar as penalidades cometidas pelos espanhóis, vendo com precisão as infracções dos portugueses. O Europa marca mais três goals, dois dos quais foram novamente feitos off-side.”O segundo encontro foi novamente com o “Europa” e não com o FC Barcelona, como se anunciou, visto este último ter de defrontar no mesmo dia um grupo inglês. “Durante os primeiros 25 minutos de jogo o Porto está constantemente sobre o campo adversário, chutando por inúmeras vezes, sem contudo conseguir qualquer ponto. Artur Augusto envia algumas bolas ao goal do Europa, mas sempre vão altas. Os espanhóis começam a cometer violências, correspondendo os portugueses da mesma forma. A segunda parte foi menos vistosa, devido à maneira violenta como estavam jogando ambos os grupos. Quando já haviam passados 30 minutos do segundo tempo o Europa, numa enérgica avançada, consegue marcar com a cabeça o seu primeiro e único goal. Ouvem-se fartos aplausos da assistência, até a bola vir ao centro. O Porto, que sem dúvida tem feito mais avançadas, começa despendendo uma energia pouco vulgar e, se não fora o excelente guarda-redes que o Europa possui, os portugueses teriam conseguido uma regular vitória. Quase ao findar o desafio Cal marca o goal que deu o empate cujo ponto desanimou por completo a assistência, que nem sequer por uma questão de delicadeza aplaudiu...”– FC Porto 0-Real Madrid 5: ávido de desforra, o FC Porto convidou o Real Madrid a jogar no Porto. Só que a Constituição afundar-se-ia em desencanto. E em dor. As críticas choveram, duras, corrosivas. José Lello, ilustre sócio portista, desancou sobre a equipa, sobre os dirigentes e sobre a arbitragem, no próprio jornal do clube: “Se para muitos não constituiria admiração alguma a vitória do Real Madrid sobre o nosso campeão do Norte, causou espanto o resultado nítido e preciso de cinco bolas sem resposta. (…) Em face de tal jogo, os nossos compatriotas consideravam-se batidos irremediavelmente passados poucos minutos de jogo e não tiveram, nem um momento, a intuição do que convinha fazer. Desprezaram a rapidez e adoptaram o jogo de cargas, abandonaram a ciência e fizeram o jogo só a despachar, sem olhar a quem nem aonde.”O resultado deste jogo fez soar o alerta nas hostes portistas. José Lello deu o mote e os responsáveis do Clube acordaram para a necessidade da equipa se preparar melhor e abordar estes encontros com outra postura. Há males que vêm por bem…Entretanto, o FC Porto conquista o título de Campeão do Porto (1920/21), recebendo o troféu pela sexta vez e pela terceira consecutiva. Mas as relações com a AFP eram tensas.Nesta época, o FC Porto estava de relações azedas com a AFP e ameaçava deixar de jogar nos respectivos Campeonatos. Trechos de uma entrevista concedida por João António Gonçalves Cal, “capitão-geral” (*) do FC Porto, à revista desportiva “Sport”, ainda antes do jogo com o Real Madrid:(…) A disputa da Taça de Honra prejudicaria o FCP mas não é essa a única razão que nos leva a não concorrer a ela. Há outra e de peso. Fazemo-lo como protesto contra a maneira acintosa, desleal e desportivamente pouco honesta como outros procedem connosco, em especial a Associação de Futebol. De há muito que contra o meu clube se vem manifestando, da parte de muitos elementos de outros e por cujas opiniões não quero tornar responsáveis os respectivos clubes, se vem manifestando — dizia — não uma rivalidade natural, que seria até desportiva, mas um ódio, um ódio quase feroz que vai até à calúnia, ao insulto, à chicana...(…) Formada por elementos que nem sempre sabem manter uma linha de imparcialidade e isenção, a Associação ressente-se, é claro, da má vontade daqueles contra nós, e as suas decisões, por vezes, têm o intuito insofismável de nos prejudicar. Por exemplo, no desafio de 2.as categorias realizado entre o meu clube e o Espinho, o nosso grupo venceu por 2-1. Não sei se o desafio foi bem ou mal arbitrado. É natural que fosse mal, o que não admira numa terra em que os bons árbitros escasseiam. Mas, bem ou mal arbitrado, o resultado foi de 2-1. Assim foi feito o boletim do árbitro. Mais tarde, porém, alguém convenceu este a fazer novo boletim declarando que se tinha enganado. Perante este boletim, a Associação anulou o desafio! Isto não tem pés nem cabeça...

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Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do

F. C. do Porto

Capítulo 3: 1921 a 1930 – Primeiro clube a conquistar títulos de âmbito nacional (Parte I)

Época 1920-1921

(*) “Capitão-geral” era como que o “relações públicas” indigitado pela Direcção do Clube.

No próximo post: Capítulo 3 (Continuação) – Época 1921-22: A campanha pelo Campeonato; a Selecção Nacional e a monstruosa afronta de Lisboa…; Artur Augusto, o primeiro futebolista internacional do FC Porto; encontro inaugural da Selecção Nacional; Cândido de Oliveira; Eurico de Brites, Presidente do FCP entre 1922 e 1923.

1921 marca, definitivamente, a quebra de fronteiras, os desafios para além das excursões à Galiza.– O FC Porto parte para Espanha para jogar em Madrid e em BarcelonaO primeiro jogo foi descrito por António Figueiredo e Melo como uma partida em que o Porto mostrou o seu valor e em que o Real Madrid demonstrou ser uma equipa muito forte. Contudo o resultado final (3-1) ficou a dever-se à ajuda caseira do árbitro que, entre várias “asneiras”, perdoou uma grande penalidade ao Real e validou o terceiro golo com um jogador madrileno em off-side.O FC Porto marcou primeiro, aos 25 minutos, por Alexandre Cal a passe de Carlos Pires. Valença, o guarda-redes portista, esteve bem no primeiro tempo mas desastrado no segundo. Destaque para José Ferreira, Artur Augusto, Tavares Bastos, Carlos Pires, Floriano Pereira e Alexandre Cal.António Figueiredo e Melo diz que os portistas ainda estiveram melhor neste segundo jogo, tendo dominado o Real durante os primeiros 20 minutos. O golo do FC Porto foi apontado logo aos 5 minutos. Mais uma vez o cronista refere o mau desempenho do árbitro que validou mal o segundo golo dos espanhóis e não validou um golo dos portugueses, com a bola a ser tirada de dentro da baliza por um defesa adversário. Figueiredo e Melo termina referindo que “o FC Porto poderia ter ganho este desafio, porém, não o conseguiu devido à parcialidade do árbitro”.O FC Porto alinhou nos dois jogos com a seguinte equipa: Valença; José Ferreira, Artur Augusto, José Francisco, Velez Carneiro, Floriano Pereira, Reis, Alexandre Cal, Tavares Bastos, Carlos Pires e Lopes Carneiro.À época era frequente as equipas realizarem jogos em dois dias consecutivos. Se os níveis competitivos não eram tão exigentes como nos dias de hoje, ainda assim é de louvar o esforço não regateado pelos atletas de antanho.O Real que não o era...Pelo jornal espanhol “ABC”, que considerou o FC Porto “equipa aceitável, desde logo pelos seus avançados, que são bastante rápidos e combinam muito bem”, se ficaria a saber, também, que aquele Real era mais que o Real: “O Real Madrid reforçou o seu grupo com elementos estranhos ao seu clube, como Del Campo, Ellorrio, Mejia, Urbina, sendo o primeiro da Sociedade Ginástica e os restantes do Atlético de Madrid, campeão da região do centro.”Já em Barcelona, para a segunda etapa da operação-Espanha, o FC Porto teve o seu primeiro encontro com o CD Europa, segundo classificado no campeonato da Catalunha. “Passavam cinco minutos quando Floriano Pereira, numa excelente avançada, consegue marcar o primeiro e único goal a favor dos portugueses... Olivela, claramente off-side, marca a primeira bola para o Europa, que o árbitro valida. Esta decisão do árbitro enerva os jogadores portugueses, dando ocasião a que se desorientem, já mesmo porque a arbitragem está sendo feita com muita parcialidade contra o FC Porto. Alcazar corre e centra. Sotilos chuta. Valença, depois de estar de posse da bola, deixa-a entrar por recear uma carga. Pouco depois termina a primeira parte. O segundo tempo foi jogado mais duramente, porém o árbitro evita castigar as penalidades cometidas pelos espanhóis, vendo com precisão as infracções dos portugueses. O Europa marca mais três goals, dois dos quais foram novamente feitos off-side.”O segundo encontro foi novamente com o “Europa” e não com o FC Barcelona, como se anunciou, visto este último ter de defrontar no mesmo dia um grupo inglês. “Durante os primeiros 25 minutos de jogo o Porto está constantemente sobre o campo adversário, chutando por inúmeras vezes, sem contudo conseguir qualquer ponto. Artur Augusto envia algumas bolas ao goal do Europa, mas sempre vão altas. Os espanhóis começam a cometer violências, correspondendo os portugueses da mesma forma. A segunda parte foi menos vistosa, devido à maneira violenta como estavam jogando ambos os grupos. Quando já haviam passados 30 minutos do segundo tempo o Europa, numa enérgica avançada, consegue marcar com a cabeça o seu primeiro e único goal. Ouvem-se fartos aplausos da assistência, até a bola vir ao centro. O Porto, que sem dúvida tem feito mais avançadas, começa despendendo uma energia pouco vulgar e, se não fora o excelente guarda-redes que o Europa possui, os portugueses teriam conseguido uma regular vitória. Quase ao findar o desafio Cal marca o goal que deu o empate cujo ponto desanimou por completo a assistência, que nem sequer por uma questão de delicadeza aplaudiu...”– FC Porto 0-Real Madrid 5: ávido de desforra, o FC Porto convidou o Real Madrid a jogar no Porto. Só que a Constituição afundar-se-ia em desencanto. E em dor. As críticas choveram, duras, corrosivas. José Lello, ilustre sócio portista, desancou sobre a equipa, sobre os dirigentes e sobre a arbitragem, no próprio jornal do clube: “Se para muitos não constituiria admiração alguma a vitória do Real Madrid sobre o nosso campeão do Norte, causou espanto o resultado nítido e preciso de cinco bolas sem resposta. (…) Em face de tal jogo, os nossos compatriotas consideravam-se batidos irremediavelmente passados poucos minutos de jogo e não tiveram, nem um momento, a intuição do que convinha fazer. Desprezaram a rapidez e adoptaram o jogo de cargas, abandonaram a ciência e fizeram o jogo só a despachar, sem olhar a quem nem aonde.”O resultado deste jogo fez soar o alerta nas hostes portistas. José Lello deu o mote e os responsáveis do Clube acordaram para a necessidade da equipa se preparar melhor e abordar estes encontros com outra postura. Há males que vêm por bem…Entretanto, o FC Porto conquista o título de Campeão do Porto (1920/21), recebendo o troféu pela sexta vez e pela terceira consecutiva. Mas as relações com a AFP eram tensas.Nesta época, o FC Porto estava de relações azedas com a AFP e ameaçava deixar de jogar nos respectivos Campeonatos. Trechos de uma entrevista concedida por João António Gonçalves Cal, “capitão-geral” (*) do FC Porto, à revista desportiva “Sport”, ainda antes do jogo com o Real Madrid:(…) A disputa da Taça de Honra prejudicaria o FCP mas não é essa a única razão que nos leva a não concorrer a ela. Há outra e de peso. Fazemo-lo como protesto contra a maneira acintosa, desleal e desportivamente pouco honesta como outros procedem connosco, em especial a Associação de Futebol. De há muito que contra o meu clube se vem manifestando, da parte de muitos elementos de outros e por cujas opiniões não quero tornar responsáveis os respectivos clubes, se vem manifestando — dizia — não uma rivalidade natural, que seria até desportiva, mas um ódio, um ódio quase feroz que vai até à calúnia, ao insulto, à chicana...(…) Formada por elementos que nem sempre sabem manter uma linha de imparcialidade e isenção, a Associação ressente-se, é claro, da má vontade daqueles contra nós, e as suas decisões, por vezes, têm o intuito insofismável de nos prejudicar. Por exemplo, no desafio de 2.as categorias realizado entre o meu clube e o Espinho, o nosso grupo venceu por 2-1. Não sei se o desafio foi bem ou mal arbitrado. É natural que fosse mal, o que não admira numa terra em que os bons árbitros escasseiam. Mas, bem ou mal arbitrado, o resultado foi de 2-1. Assim foi feito o boletim do árbitro. Mais tarde, porém, alguém convenceu este a fazer novo boletim declarando que se tinha enganado. Perante este boletim, a Associação anulou o desafio! Isto não tem pés nem cabeça...

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