Ando atrasada em leituras, só ontem vi o filme do holandês Geert Wilders e só hoje li o que nalguns blogues foi escrito sobre o assunto. Está tudo dito e, no entanto...Quando entrei há pouco no Arrastão, o post em que Daniel Oliveira comenta o filme já tinha 102 comentários. Ainda li uns tantos, até que parei, extasiada, neste:«Se é ateu devia abster-se de falar de religião. Porque não se deve falar daquilo que não se percebe. Uma religião não se limita àquilo que está escrito nos livros. Implica um sentimento que um ateu não consegue experimentar e muito menos entender. Um ateu pode ter opinião sobre pessoas religiosas, mas não sobre religiões.»Total disparate. Além disso, fiquei numa situação esquisita, porque já fui convictamente crente e hoje sou ateia. Ou seja, já «experimentei» e já «entendi» e, por um qualquer processo de estupidificação que me escapou, deixei de poder falar de religião. É mais ou menos isto, não é?Mas falo. Porque se há coisa que me exaspere, e que veio outra vez para a ordem do dia com esta discussão sobre o vídeo, é o respeito que muitos ateus de pura gema, da raça mais politicamente correcta que imaginar se possa, têm, ou se sentem obrigados a dizer que têm, pelas religiões. Como se destas não tivessem vindo – e não continuassem a vir – pelo menos tantos males como bens para a humanidade. Como se, mais tarde ou mais cedo, todas não tendessem para fanatismos e radicalismos que fazem milhões de vítimas. A História está aí para o mostrar.Respeito merecem os crentes, não as crenças. Sobretudo os que são vítimas do obscurantismo das hierarquias cristãs, os que se suicidam ou matam em nome do radicalismo no mundo islâmico, os que se deixam morrer por motivos religiosos, miseravelmente, nas margens do Ganges.O vídeo holandês é horrível? Certamente. Mas não passa de um episódio mais ou menos burlesco. Porque, como diz Rui Bebiano num comentário ao post que ele próprio escreveu sobre este assunto:«É muito mais grave a subestimação do radicalismo islâmico, ou a invenção desculpabilizante de algumas das razões invocadas para o seu avanço, do que um filme de execrável propaganda racista do qual daqui por uns meses já ninguém se lembrará.»
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Ando atrasada em leituras, só ontem vi o filme do holandês Geert Wilders e só hoje li o que nalguns blogues foi escrito sobre o assunto. Está tudo dito e, no entanto...Quando entrei há pouco no Arrastão, o post em que Daniel Oliveira comenta o filme já tinha 102 comentários. Ainda li uns tantos, até que parei, extasiada, neste:«Se é ateu devia abster-se de falar de religião. Porque não se deve falar daquilo que não se percebe. Uma religião não se limita àquilo que está escrito nos livros. Implica um sentimento que um ateu não consegue experimentar e muito menos entender. Um ateu pode ter opinião sobre pessoas religiosas, mas não sobre religiões.»Total disparate. Além disso, fiquei numa situação esquisita, porque já fui convictamente crente e hoje sou ateia. Ou seja, já «experimentei» e já «entendi» e, por um qualquer processo de estupidificação que me escapou, deixei de poder falar de religião. É mais ou menos isto, não é?Mas falo. Porque se há coisa que me exaspere, e que veio outra vez para a ordem do dia com esta discussão sobre o vídeo, é o respeito que muitos ateus de pura gema, da raça mais politicamente correcta que imaginar se possa, têm, ou se sentem obrigados a dizer que têm, pelas religiões. Como se destas não tivessem vindo – e não continuassem a vir – pelo menos tantos males como bens para a humanidade. Como se, mais tarde ou mais cedo, todas não tendessem para fanatismos e radicalismos que fazem milhões de vítimas. A História está aí para o mostrar.Respeito merecem os crentes, não as crenças. Sobretudo os que são vítimas do obscurantismo das hierarquias cristãs, os que se suicidam ou matam em nome do radicalismo no mundo islâmico, os que se deixam morrer por motivos religiosos, miseravelmente, nas margens do Ganges.O vídeo holandês é horrível? Certamente. Mas não passa de um episódio mais ou menos burlesco. Porque, como diz Rui Bebiano num comentário ao post que ele próprio escreveu sobre este assunto:«É muito mais grave a subestimação do radicalismo islâmico, ou a invenção desculpabilizante de algumas das razões invocadas para o seu avanço, do que um filme de execrável propaganda racista do qual daqui por uns meses já ninguém se lembrará.»