Entre as brumas da memória: What else?

07-08-2010
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Mr. Clooney veio certamente passar o Natal entre os portugueses para tentar vender milhares de máquinas Nespresso. Estes acreditaram que o poder de compra ia aumentar em 2009, como lhes garantiu o primeiro-ministro, e compraram mesmo.Nos serões de amigos, discute-se a crise? Não: compara-se o sabor Livanto com o Vivalto, aconselha-se o Roma para os galões da manhã e o Decaffeinato Lungo para depois de jantar. Discute-se por mail a vantagem do modelo Top-line sobre o Essenza. Tenta-se combinar um encontro? Vem a resposta: «OK, mas primeiro tenho de ir comprar café.»Sim, porque os portugueses estão a descobrir um novo ritual: ir passar algum tempo numa loja Nespresso. Claro que é possível encomendar pelo telefone ou pela net, mas há que estar em casa para receber, comprar pelo menos 100 unidades de cada vez quando ainda nem se percebe as diferenças entre as doze variedades existentes - e ser membro do Clube, evidentemente.Além disso, perder-se-iam os diálogos fascinantes que acontecem nas longas filas de espera das raras e sofisticadas lojas. Começa-se na rua, enregeladamente e, ao fim de quase uma hora, cada vizinho é já um amigo. O senhor da frente explica-me que não comprou a Lattissima porque estava esgotada, a senhora de trás conta que ofereceu três máquinas no Natal e que vem hoje entregar os vouchers que dão direito ao bónus, a que se segue dá-me conselhos quanto a limpeza e manutenção dos componentes.Com a aproximação dos primeiros lugares da fila, é fatal como o destino, toda a gente se queixa do tempo de espera a um empregado aprumadíssimo: que têm de abrir mais lojas ou mais balcões, que ir também para Massamá e para Alcabideche, que é preciso vender em todos os centros comerciais. Ele vai dizendo que não, que a tendência do mercado é exactamente a oposta porque entrámos na era da internet. E como era eu que estava então na primeira posição da fila, explicou-me com o ar mais solícito deste mundo: «A senhora vai ver: quando souber usar a internet, nunca mais quer outra coisa». Engoli em seco e quando ia perguntar-lhe se já andava pelo Twitter, vagou o balcão nº 4 e lá tive mesmo de avançar.E porque há quem não conheça a máquina:


Mr. Clooney veio certamente passar o Natal entre os portugueses para tentar vender milhares de máquinas Nespresso. Estes acreditaram que o poder de compra ia aumentar em 2009, como lhes garantiu o primeiro-ministro, e compraram mesmo.Nos serões de amigos, discute-se a crise? Não: compara-se o sabor Livanto com o Vivalto, aconselha-se o Roma para os galões da manhã e o Decaffeinato Lungo para depois de jantar. Discute-se por mail a vantagem do modelo Top-line sobre o Essenza. Tenta-se combinar um encontro? Vem a resposta: «OK, mas primeiro tenho de ir comprar café.»Sim, porque os portugueses estão a descobrir um novo ritual: ir passar algum tempo numa loja Nespresso. Claro que é possível encomendar pelo telefone ou pela net, mas há que estar em casa para receber, comprar pelo menos 100 unidades de cada vez quando ainda nem se percebe as diferenças entre as doze variedades existentes - e ser membro do Clube, evidentemente.Além disso, perder-se-iam os diálogos fascinantes que acontecem nas longas filas de espera das raras e sofisticadas lojas. Começa-se na rua, enregeladamente e, ao fim de quase uma hora, cada vizinho é já um amigo. O senhor da frente explica-me que não comprou a Lattissima porque estava esgotada, a senhora de trás conta que ofereceu três máquinas no Natal e que vem hoje entregar os vouchers que dão direito ao bónus, a que se segue dá-me conselhos quanto a limpeza e manutenção dos componentes.Com a aproximação dos primeiros lugares da fila, é fatal como o destino, toda a gente se queixa do tempo de espera a um empregado aprumadíssimo: que têm de abrir mais lojas ou mais balcões, que ir também para Massamá e para Alcabideche, que é preciso vender em todos os centros comerciais. Ele vai dizendo que não, que a tendência do mercado é exactamente a oposta porque entrámos na era da internet. E como era eu que estava então na primeira posição da fila, explicou-me com o ar mais solícito deste mundo: «A senhora vai ver: quando souber usar a internet, nunca mais quer outra coisa». Engoli em seco e quando ia perguntar-lhe se já andava pelo Twitter, vagou o balcão nº 4 e lá tive mesmo de avançar.E porque há quem não conheça a máquina:

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