Nuno Teotónio Pereira enviou-me hoje um texto de Carlos Esperança, que foi publicado no Jornal do Fundão, em 6/9/2007.Descreve um evento com algum significado do último ano do fascismo em Portugal, que teve lugar em Odivelas, em 14 de Janeiro de 1973. Recordo-me bem da sala, de muitas caras, de algumas intervenções. (Lembro-me mesmo de, no fim, ter dado boleia a Maria Barroso...)Foi o arranque de uma tentativa, por parte da oposição, para se apresentar unida numa candidatura às eleições legislativas que iriam realizar-se em Outubro do mesmo ano.«Clicando» na imagem, lê-se facilmente o artigo na sua totalidade. Algumas correcções e adendas:- Nuno T. Pereira não estava então sujeito a medidas de segurança (nem nunca esteve). O que acontece é que tinha saído muito recentemente de Caxias, onde estivera preso durante alguns dias na sequência da célebre vigília na Capela do Rato, que teve lugar na passagem do ano de 1972 para o de 1973 – e não podia, ou não devia, assumir grande protagonismo.- O grupo que esteve na base das divergências e da disputa apontadas por Carlos Esperança não era composto apenas por futuros membros do MES, mas por vários outros «futuros», nomeadamente do PRP, que, desde há algum tempo, se tinham organizado numa plataforma clandestina (*), e em torno do qual se movimentavam muitas outras pessoas que não se identificavam nem com o PCP nem com o (também futuro) PS.Alguns meses mais tarde, já durante o verão, realizou-se um outro plenário com o mesmo objectivo, algures num pinhal perto da Praia de Santa Cruz. Regressaram as divergências entre os mesmos protagonistas e, dessa vez, coube-me a mim ser porta-voz de uma moção que apresentei à mesa do plenário, presidida de novo por Gilberto Lindim Ramos (que, algum tempo depois, viria a tornar-se meu cunhado...). Bem gostaria de ter uma cópia dessa moção ou de me recordar com exactidão do seu conteúdo, mas não é o caso (**). Mas tudo girava, como sempre, à volta de questões de representatividade e de resistência ao que era interpretado como imposição de hegemonia por parte do PCP e suas franjas. Rejeitada a moção, consumou-se a cisão por parte da facção vencida – e lá abandonámos o pinhal, em longa fila indiana, numa cena bastante cinematográfica.Ensinaram-se a acreditar que a História é, também, feita de pequenas histórias. Aqui ficam mais estas.-----------------------------------------------------------------------------------------------(*) Os leitores deste blogue que fizeram o favor de ler Entre as Brumas da Memória, terão encontrado uma referência a este grupo na p. 174. (Por erro, tinha indicado 274.)(**) Será que alguém pode ajudar? José Dias? Fernando Redondo?
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Nuno Teotónio Pereira enviou-me hoje um texto de Carlos Esperança, que foi publicado no Jornal do Fundão, em 6/9/2007.Descreve um evento com algum significado do último ano do fascismo em Portugal, que teve lugar em Odivelas, em 14 de Janeiro de 1973. Recordo-me bem da sala, de muitas caras, de algumas intervenções. (Lembro-me mesmo de, no fim, ter dado boleia a Maria Barroso...)Foi o arranque de uma tentativa, por parte da oposição, para se apresentar unida numa candidatura às eleições legislativas que iriam realizar-se em Outubro do mesmo ano.«Clicando» na imagem, lê-se facilmente o artigo na sua totalidade. Algumas correcções e adendas:- Nuno T. Pereira não estava então sujeito a medidas de segurança (nem nunca esteve). O que acontece é que tinha saído muito recentemente de Caxias, onde estivera preso durante alguns dias na sequência da célebre vigília na Capela do Rato, que teve lugar na passagem do ano de 1972 para o de 1973 – e não podia, ou não devia, assumir grande protagonismo.- O grupo que esteve na base das divergências e da disputa apontadas por Carlos Esperança não era composto apenas por futuros membros do MES, mas por vários outros «futuros», nomeadamente do PRP, que, desde há algum tempo, se tinham organizado numa plataforma clandestina (*), e em torno do qual se movimentavam muitas outras pessoas que não se identificavam nem com o PCP nem com o (também futuro) PS.Alguns meses mais tarde, já durante o verão, realizou-se um outro plenário com o mesmo objectivo, algures num pinhal perto da Praia de Santa Cruz. Regressaram as divergências entre os mesmos protagonistas e, dessa vez, coube-me a mim ser porta-voz de uma moção que apresentei à mesa do plenário, presidida de novo por Gilberto Lindim Ramos (que, algum tempo depois, viria a tornar-se meu cunhado...). Bem gostaria de ter uma cópia dessa moção ou de me recordar com exactidão do seu conteúdo, mas não é o caso (**). Mas tudo girava, como sempre, à volta de questões de representatividade e de resistência ao que era interpretado como imposição de hegemonia por parte do PCP e suas franjas. Rejeitada a moção, consumou-se a cisão por parte da facção vencida – e lá abandonámos o pinhal, em longa fila indiana, numa cena bastante cinematográfica.Ensinaram-se a acreditar que a História é, também, feita de pequenas histórias. Aqui ficam mais estas.-----------------------------------------------------------------------------------------------(*) Os leitores deste blogue que fizeram o favor de ler Entre as Brumas da Memória, terão encontrado uma referência a este grupo na p. 174. (Por erro, tinha indicado 274.)(**) Será que alguém pode ajudar? José Dias? Fernando Redondo?