Entre as brumas da memória: Magalhães, o «serial killer»

03-08-2010
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Para que alguém ou alguma coisa seja assassinado tem de estar vivo, certo? Ora ou me engano muito ou o gosto pela leitura nas escolas já está bem enterrado há umas belas décadas. Quem tem hoje trinta e poucos anos, nunca tocou num computador em salas de aula (cá, no Portugal dos Allgarves, porque «lá fora» já não era bem assim) e, no entanto, é bem possível que seja uma das gerações mais afastadas de livrarias e de bibliotecas.Vem tudo isto a propósito da entrevista que António Barreto deu à revista LER que traz na capa uma frase que muito gente começou a gabar esta manhã, mesmo antes de ter tido tempo para ir ao quiosque comprar a revista: «O Magalhães é o maior assassino da leitura em Portugal.» Claro que o «sound byte» foi puxado para a capa porque o marketing é quem mais ordena, mas, mesmo devolvido ao contexto, revela que António Barreto tem uma mentalidade anti-tecnológica incorrecta e ineficaz. Ele concede que «todas as pessoas devem aprender a usar essas coisas», mas no fundo, no fundo, sente-se que continua a sonhar com os serões de Vila Real, onde lia ao borralho Steinbeck, Vercors e Júlio Diniz.Mas esse mundo acabou, com Magalhães ou sem ele. E a criação de hábitos de leitura põe-se num outro plano ou, se se preferir, em paralelo – nunca em concorrência ou estará inevitavelmente votada ao fracasso.


Para que alguém ou alguma coisa seja assassinado tem de estar vivo, certo? Ora ou me engano muito ou o gosto pela leitura nas escolas já está bem enterrado há umas belas décadas. Quem tem hoje trinta e poucos anos, nunca tocou num computador em salas de aula (cá, no Portugal dos Allgarves, porque «lá fora» já não era bem assim) e, no entanto, é bem possível que seja uma das gerações mais afastadas de livrarias e de bibliotecas.Vem tudo isto a propósito da entrevista que António Barreto deu à revista LER que traz na capa uma frase que muito gente começou a gabar esta manhã, mesmo antes de ter tido tempo para ir ao quiosque comprar a revista: «O Magalhães é o maior assassino da leitura em Portugal.» Claro que o «sound byte» foi puxado para a capa porque o marketing é quem mais ordena, mas, mesmo devolvido ao contexto, revela que António Barreto tem uma mentalidade anti-tecnológica incorrecta e ineficaz. Ele concede que «todas as pessoas devem aprender a usar essas coisas», mas no fundo, no fundo, sente-se que continua a sonhar com os serões de Vila Real, onde lia ao borralho Steinbeck, Vercors e Júlio Diniz.Mas esse mundo acabou, com Magalhães ou sem ele. E a criação de hábitos de leitura põe-se num outro plano ou, se se preferir, em paralelo – nunca em concorrência ou estará inevitavelmente votada ao fracasso.

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