Entre as brumas da memória: Rastos das guerras

03-08-2010
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Vale a pena ler o artigo «Os bastardos da guerra descobrem as suas raízes», no Público de ontem, sobre as vidas e as humilhações sofridas pelos filhos de soldados alemães, que nasceram durante os quatro anos da ocupação nazi na Europa.Regressei imediatamente às minhas vivências estudantis na Bélgica durante os anos 60. Num início de ano lectivo, acabara de chegar à residência universitária uma caloira e uma das responsáveis da dita residência pô-la num quarto ao lado do meu e pediu-me que lhe desse apoio porque era um «caso complicado». Explicou-me mais tarde que ela não sabia que o pai era um guarda prisional alemão que tinha violado a mãe antes de esta escapar, por pouco, ao envio para uma espécie de campo de concentração. Nunca esqueci esta história – pura ficção de terror para os meus verdíssimos anos, saídos há pouco da pacatez cinzenta em que Salazar nos tinha preservado.Mas só ontem me apercebi da dimensão do drama: estima-se em 800.000 o número destas pessoas, muitas delas ainda vivas, que só conseguiram começar a falar depois da morte das mães e que tentam agora identificar irmãos dos outros lados das fronteiras.Quantos iraquianos não irão procurar pais americanos ou ingleses na segunda metade do século XXI?


Vale a pena ler o artigo «Os bastardos da guerra descobrem as suas raízes», no Público de ontem, sobre as vidas e as humilhações sofridas pelos filhos de soldados alemães, que nasceram durante os quatro anos da ocupação nazi na Europa.Regressei imediatamente às minhas vivências estudantis na Bélgica durante os anos 60. Num início de ano lectivo, acabara de chegar à residência universitária uma caloira e uma das responsáveis da dita residência pô-la num quarto ao lado do meu e pediu-me que lhe desse apoio porque era um «caso complicado». Explicou-me mais tarde que ela não sabia que o pai era um guarda prisional alemão que tinha violado a mãe antes de esta escapar, por pouco, ao envio para uma espécie de campo de concentração. Nunca esqueci esta história – pura ficção de terror para os meus verdíssimos anos, saídos há pouco da pacatez cinzenta em que Salazar nos tinha preservado.Mas só ontem me apercebi da dimensão do drama: estima-se em 800.000 o número destas pessoas, muitas delas ainda vivas, que só conseguiram começar a falar depois da morte das mães e que tentam agora identificar irmãos dos outros lados das fronteiras.Quantos iraquianos não irão procurar pais americanos ou ingleses na segunda metade do século XXI?

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