Entre as brumas da memória: Com a cabeça entre as orelhas?

03-08-2010
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Claro que Isabel Alçada tem razão: não há nenhum motivos para existirem chumbos.
Eu conheço uma escola, numa cidade do interior, onde se ignora a palavra «retenção».
A avaliação dos alunos, desde o 2º ciclo, é feita em grande parte com base em trabalhos individuais de pesquisa. Só para dar um exemplo: no último ano lectivo, cada aluno do 6º ano preparou um trabalho longo sobre um monumento de Lisboa, que depois resumiu oralmente, perto do dito monumento, para toda a turma e respectivos professores, em excursão organizada propositadamente para o efeito. Se já estava no 8º ano, teve de escolher uma civilização antiga (incas, gregos, persas, whatever) e escrever sobre a mesma um número razoável de páginas. Tanto num caso como no outro, recebeu instruções precisas sobre diferentes métodos possíveis para esquematizar o trabalho e nem teve de sair da escola para procurar fontes, porque existem três bibliotecas bem recheadas – uma para o 1º e 2º ciclos, outra para o 3º e uma última para o Secundário.
Também há testes, evidentemente, e bem frequentes. Depois de corrigidos, são devolvidos aos alunos com uma série de sugestões de exercícios ou leituras relacionados com as respostas assinaladas no teste como erradas ou insuficientes – um TPC específico e individualizado, que não é facultativo. Se o professor detecta que persistem erros ou ignorância, convoca o aluno para uma sessão individual de trabalho. E assim sucessivamente até a matéria estar assimilada. Os alunos acham normal, os professores também.
Ia quase esquecer um detalhe: no início de cada ano lectivo, é distribuída uma lista com os nomes, moradas e telefones particulares de todos os professores para que estes estejam sempre contactáveis pelos alunos e, também, pelos respectivos pais.
*****
Fantasia de uma tarde de Agosto? Não, pura realidade que conheci bem. Excepto que a cidade do interior se chamava Bruxelas (e que a visita de estudo do 6º ano foi a Florença e não a Lisboa).

Qualquer tentativa de transposição para a realidade portuguesa só pode ser fruto de imaginações mais ou menos delirantes. Alguém consegue imaginar o que acima descrevi em 99% das escolas portuguesas? A montante e a jusante de tudo isto, não estão resolvidos mil problemas que a inefável ministra da Educação quer varrer para debaixo dos tapetes da 5 de Outubro, abrindo um «grande debate público»!!! Nem sequer sei se acredita no que diz ou se é mais uma operação de charme para português ver, para encanar a perna a rã ou para aperfeiçoar estatísticas. Ou se está apenas a arranjar enredo para um próximo livro de aventuras. O que sei é que nada disto me parece muito honesto. ...

Claro que Isabel Alçada tem razão: não há nenhum motivos para existirem chumbos.
Eu conheço uma escola, numa cidade do interior, onde se ignora a palavra «retenção».
A avaliação dos alunos, desde o 2º ciclo, é feita em grande parte com base em trabalhos individuais de pesquisa. Só para dar um exemplo: no último ano lectivo, cada aluno do 6º ano preparou um trabalho longo sobre um monumento de Lisboa, que depois resumiu oralmente, perto do dito monumento, para toda a turma e respectivos professores, em excursão organizada propositadamente para o efeito. Se já estava no 8º ano, teve de escolher uma civilização antiga (incas, gregos, persas, whatever) e escrever sobre a mesma um número razoável de páginas. Tanto num caso como no outro, recebeu instruções precisas sobre diferentes métodos possíveis para esquematizar o trabalho e nem teve de sair da escola para procurar fontes, porque existem três bibliotecas bem recheadas – uma para o 1º e 2º ciclos, outra para o 3º e uma última para o Secundário.
Também há testes, evidentemente, e bem frequentes. Depois de corrigidos, são devolvidos aos alunos com uma série de sugestões de exercícios ou leituras relacionados com as respostas assinaladas no teste como erradas ou insuficientes – um TPC específico e individualizado, que não é facultativo. Se o professor detecta que persistem erros ou ignorância, convoca o aluno para uma sessão individual de trabalho. E assim sucessivamente até a matéria estar assimilada. Os alunos acham normal, os professores também.
Ia quase esquecer um detalhe: no início de cada ano lectivo, é distribuída uma lista com os nomes, moradas e telefones particulares de todos os professores para que estes estejam sempre contactáveis pelos alunos e, também, pelos respectivos pais.
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Fantasia de uma tarde de Agosto? Não, pura realidade que conheci bem. Excepto que a cidade do interior se chamava Bruxelas (e que a visita de estudo do 6º ano foi a Florença e não a Lisboa).

Qualquer tentativa de transposição para a realidade portuguesa só pode ser fruto de imaginações mais ou menos delirantes. Alguém consegue imaginar o que acima descrevi em 99% das escolas portuguesas? A montante e a jusante de tudo isto, não estão resolvidos mil problemas que a inefável ministra da Educação quer varrer para debaixo dos tapetes da 5 de Outubro, abrindo um «grande debate público»!!! Nem sequer sei se acredita no que diz ou se é mais uma operação de charme para português ver, para encanar a perna a rã ou para aperfeiçoar estatísticas. Ou se está apenas a arranjar enredo para um próximo livro de aventuras. O que sei é que nada disto me parece muito honesto. ...

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