Entre as brumas da memória: Quando a desordem se torna ordem

03-08-2010
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«Quando a desordem se torna ordem, uma atitude se impõe: afrontamento».»Esta citação que Manuel António Pina faz, no JN de hoje, fez tocar umas longínquas campainhas de feliz memória, que me levaram aos anos 60 e aos célebres pequenos cadernos da editora que foi buscar o nome à referida afirmação de Emmanuel Mounier.MAP diz que lhe ocorreu «essa epígrafe ouvindo o inenarrável dr. Vitalino Canas reclamar nova maioria absoluta do PS em nome da "estabilidade"». Bastaria ele ter chamado «inenarrável» a Vitalino Canas para ter a minha simpatia e citação. Mas há mais: tal como ele, considero um «afrontamento» que se peça uma nova maioria absoluta em nome da «estabilidade» que temos.Até porque há muito tempo que penso que a nossa maturidade cívica e democrática só avançará sem maiorias absolutas, com uma aprendizagem de colaboração programática e acordos pontuais entre os partidos que temos – a quem damos o nosso voto e que não são propriamente gangs de bandidos.As discussões sobre a eventualidade de um Bloco Central, que desde ontem conseguiram ganhar prioridade sobre a gripe suína, tiram-me verdadeiramente do sério. Uns usam-na como uma ameaça a tudo e mais alguma coisa, e reclamarão o «voto útil» para evitar «a desgraça»; outros, para quem viver em estado de consenso é o principal objectivo na vida, desejam-na por isso mesmo como a salvação para todos os males.Há um pessimismo em tudo isto, uma falta de confiança nos diferentes agentes que estão no terreno e na própria dinâmica da democracia, que não deveriam ser possíveis trinta e cinco anos depois do 25 de Abril – «como se a luta política fosse coisa má», escrevia-me ontem alguém que pensa o mesmo que eu.Arrojo, audácia, tenacidade precisam-se – para enfrentar e para afrontar tudo o que aí está e o que ainda está para vir.


«Quando a desordem se torna ordem, uma atitude se impõe: afrontamento».»Esta citação que Manuel António Pina faz, no JN de hoje, fez tocar umas longínquas campainhas de feliz memória, que me levaram aos anos 60 e aos célebres pequenos cadernos da editora que foi buscar o nome à referida afirmação de Emmanuel Mounier.MAP diz que lhe ocorreu «essa epígrafe ouvindo o inenarrável dr. Vitalino Canas reclamar nova maioria absoluta do PS em nome da "estabilidade"». Bastaria ele ter chamado «inenarrável» a Vitalino Canas para ter a minha simpatia e citação. Mas há mais: tal como ele, considero um «afrontamento» que se peça uma nova maioria absoluta em nome da «estabilidade» que temos.Até porque há muito tempo que penso que a nossa maturidade cívica e democrática só avançará sem maiorias absolutas, com uma aprendizagem de colaboração programática e acordos pontuais entre os partidos que temos – a quem damos o nosso voto e que não são propriamente gangs de bandidos.As discussões sobre a eventualidade de um Bloco Central, que desde ontem conseguiram ganhar prioridade sobre a gripe suína, tiram-me verdadeiramente do sério. Uns usam-na como uma ameaça a tudo e mais alguma coisa, e reclamarão o «voto útil» para evitar «a desgraça»; outros, para quem viver em estado de consenso é o principal objectivo na vida, desejam-na por isso mesmo como a salvação para todos os males.Há um pessimismo em tudo isto, uma falta de confiança nos diferentes agentes que estão no terreno e na própria dinâmica da democracia, que não deveriam ser possíveis trinta e cinco anos depois do 25 de Abril – «como se a luta política fosse coisa má», escrevia-me ontem alguém que pensa o mesmo que eu.Arrojo, audácia, tenacidade precisam-se – para enfrentar e para afrontar tudo o que aí está e o que ainda está para vir.

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