Entre as brumas da memória: Esquecimentos pactuados

04-08-2010
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De um artigo de Nuno Brederode dos Santos, no DN de hoje:«Escassos foram, durante a ditadura, os que arriscaram alguma coisa a combatê-la. É, de resto, sempre assim. Os resistentes não são conquistadores precisamente porque são minoritários. E, se as ditaduras reprimem as minorias que as combatem, é para se assegurarem da omissão amedrontada da maioria que submetem. Nesta reside a chave (ou, se quiserem moralizar), a culpa. É, afinal, com essa amarga maioria que os ditadores governam, ainda que o façam também contra ela. E é no dia em que se prova que a resistência já é, ou pode tornar-se, maioritária, e que o medo e o desespero cedem perante a coragem e a vontade, que a ditadura deixa de ditar e a oportunidade da liberdade acontece (...).Em consequência, não fica bem aos donos de um passado ilustre – que o é porque foi devotado aos outros – reivindicarem agora tal sangue azul contra os demais. Se o querem merecer, a devoção e o desinteresse devem continuar a guiá-los e reivindicar privilégios não é decerto o melhor modo de o fazer. Aguentem-se com as comendas morais e com o que a memória salvar. Mas pior fica, aos que primaram por prudência, silêncio e omissão durante os tempos difíceis, virem agora servir-se do esquecimento pactuado e quererem impor aos novos as fantasias e jactâncias que lhes podem conferir currículo e "moralidade". Porque estes abusam do pacto. E contra eles é legítimo desenterrar todas as verdades.»O realce é meu por causa disto.E façam o favor de ler todo o artigo do Nuno Brederode – será uma excelente maneira de gastarem uns minutos do vosso Domingo de Páscoa.


De um artigo de Nuno Brederode dos Santos, no DN de hoje:«Escassos foram, durante a ditadura, os que arriscaram alguma coisa a combatê-la. É, de resto, sempre assim. Os resistentes não são conquistadores precisamente porque são minoritários. E, se as ditaduras reprimem as minorias que as combatem, é para se assegurarem da omissão amedrontada da maioria que submetem. Nesta reside a chave (ou, se quiserem moralizar), a culpa. É, afinal, com essa amarga maioria que os ditadores governam, ainda que o façam também contra ela. E é no dia em que se prova que a resistência já é, ou pode tornar-se, maioritária, e que o medo e o desespero cedem perante a coragem e a vontade, que a ditadura deixa de ditar e a oportunidade da liberdade acontece (...).Em consequência, não fica bem aos donos de um passado ilustre – que o é porque foi devotado aos outros – reivindicarem agora tal sangue azul contra os demais. Se o querem merecer, a devoção e o desinteresse devem continuar a guiá-los e reivindicar privilégios não é decerto o melhor modo de o fazer. Aguentem-se com as comendas morais e com o que a memória salvar. Mas pior fica, aos que primaram por prudência, silêncio e omissão durante os tempos difíceis, virem agora servir-se do esquecimento pactuado e quererem impor aos novos as fantasias e jactâncias que lhes podem conferir currículo e "moralidade". Porque estes abusam do pacto. E contra eles é legítimo desenterrar todas as verdades.»O realce é meu por causa disto.E façam o favor de ler todo o artigo do Nuno Brederode – será uma excelente maneira de gastarem uns minutos do vosso Domingo de Páscoa.

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