Entre as brumas da memória: Cilinha – rosmaninho e orquídeas

03-08-2010
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Quando hoje tanto se fala de Cecília Supico Pinto, por ocasião de uma biografia que acaba de ser lançada, é fácil deixar que se banalize o que não foi banal. Talvez valha a pena recordar, para além de tudo o que já foi dito sobre o Movimento Nacional Feminino, o modo verdadeiramente surrealista com que esta senhora actuava.Deixar os próprios falar é por vezes mais elucidativo do que mil comentários. Eis, por exemplo, como ela descreveu, muito mais tarde, uma ida a Luanda, quando a guerra em Angola durava já há três anos:«No dia 2 de Maio de 1964 fui para Angola. Havia uma festa das Forças Armadas em Luanda e eu fui daqui com um avião cheio de flores em que havia desde o raminho de rosmaninho às orquídeas mais bonitas. Cheguei, com a Renata Cunha e Costa, e fomos para a festa de homenagem às Forças Armadas.Ficámos na rua, junto ao povo todo. Havia uma tribuna enorme, com as personalidades mais importantes, o governador-geral, o cardeal de Luanda, os secretários provinciais. De repente, ouvi pelo microfone: "Agora vai falar a presidente do Movimento Nacional Feminino, senhora dona Cecília Supico Pinto." Fiquei aflita: "Ai meu Deus do Céu, vou falar de quê?" Dei a minha carteira à Renata, pus as mãos na saia para não ter problemas com o vento, cheguei ao microfone, olhei para aquela gente toda e disse: "São para Deus as minhas primeiras palavras, a quem agradeço, com toda a alma e coração, ser mulher, ser cristã, ser portuguesa. Trouxe flores de todos nós para todos vós."»


Quando hoje tanto se fala de Cecília Supico Pinto, por ocasião de uma biografia que acaba de ser lançada, é fácil deixar que se banalize o que não foi banal. Talvez valha a pena recordar, para além de tudo o que já foi dito sobre o Movimento Nacional Feminino, o modo verdadeiramente surrealista com que esta senhora actuava.Deixar os próprios falar é por vezes mais elucidativo do que mil comentários. Eis, por exemplo, como ela descreveu, muito mais tarde, uma ida a Luanda, quando a guerra em Angola durava já há três anos:«No dia 2 de Maio de 1964 fui para Angola. Havia uma festa das Forças Armadas em Luanda e eu fui daqui com um avião cheio de flores em que havia desde o raminho de rosmaninho às orquídeas mais bonitas. Cheguei, com a Renata Cunha e Costa, e fomos para a festa de homenagem às Forças Armadas.Ficámos na rua, junto ao povo todo. Havia uma tribuna enorme, com as personalidades mais importantes, o governador-geral, o cardeal de Luanda, os secretários provinciais. De repente, ouvi pelo microfone: "Agora vai falar a presidente do Movimento Nacional Feminino, senhora dona Cecília Supico Pinto." Fiquei aflita: "Ai meu Deus do Céu, vou falar de quê?" Dei a minha carteira à Renata, pus as mãos na saia para não ter problemas com o vento, cheguei ao microfone, olhei para aquela gente toda e disse: "São para Deus as minhas primeiras palavras, a quem agradeço, com toda a alma e coração, ser mulher, ser cristã, ser portuguesa. Trouxe flores de todos nós para todos vós."»

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