CARLOS ALBERTO: O processo de Kafka, ou a porcaria de jornalismo que temos?

18-12-2009
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Se não foi, poderia ter sido "O célebre DVD agora já tem imagens. Há meses que se fala do dito, que surgiu primeiro sem imagens, depois com imagens e que ainda não foi exibido integralmente - o que demonstra à saciedade que o objectivo não é revelar qualquer "verdade", mas apenas fazer render o peixe na frente política.O episódio desta semana trouxe para a ribalta um novo personagem, Filipe Baptista (FB). Mas é sintomático o modo como o novo personagem entra na hístória - os media tratam-no, logo à partido, à luz da "presunção da culpabilidade" (a "presunção da inocência, já sabíamos, há muito que tinha sido mandado às urtigas). Vejamos:1. Em parte alguma da conversa reproduzida no DVD, FB é acusado seja do que for, muito menos de receber dinheiro. Isso não impediu que a generalidade dos jornais o tenha referido como "suspeito" de recebimentos.2. A generalidade da imprensa diz ainda que a Inspecção do Ambiente, que FB dirigiu tem poderes de licenciamento, o que não corresponde à verdade.3. Mas o mais espantoso é a biografia tenebrosa que se tenta criar a FB. Como se em Portugal tivesse passado a ser crime desempenhar cargos no Estado (a propósito, José Eduardo Martins, do PSD, assume no DN ter sido ele a escolher FB para Inspector do Ambiente e ter ficado bastante satisfeito com o seu desempenho), ou manter relações (de amizade, profissionais, políticas...) ao longo da vida.É claro que, para FB, tudo isto deve ser muito desagradável. Mas o problema central nem é esse - é, antes, perceber como, a partir de coisa nenhuma (uma insinuação numa conversa gravada em DVD), se parte para uma história perfeitamente kafkiana. Isso é assustador." João Magalhães


Se não foi, poderia ter sido "O célebre DVD agora já tem imagens. Há meses que se fala do dito, que surgiu primeiro sem imagens, depois com imagens e que ainda não foi exibido integralmente - o que demonstra à saciedade que o objectivo não é revelar qualquer "verdade", mas apenas fazer render o peixe na frente política.O episódio desta semana trouxe para a ribalta um novo personagem, Filipe Baptista (FB). Mas é sintomático o modo como o novo personagem entra na hístória - os media tratam-no, logo à partido, à luz da "presunção da culpabilidade" (a "presunção da inocência, já sabíamos, há muito que tinha sido mandado às urtigas). Vejamos:1. Em parte alguma da conversa reproduzida no DVD, FB é acusado seja do que for, muito menos de receber dinheiro. Isso não impediu que a generalidade dos jornais o tenha referido como "suspeito" de recebimentos.2. A generalidade da imprensa diz ainda que a Inspecção do Ambiente, que FB dirigiu tem poderes de licenciamento, o que não corresponde à verdade.3. Mas o mais espantoso é a biografia tenebrosa que se tenta criar a FB. Como se em Portugal tivesse passado a ser crime desempenhar cargos no Estado (a propósito, José Eduardo Martins, do PSD, assume no DN ter sido ele a escolher FB para Inspector do Ambiente e ter ficado bastante satisfeito com o seu desempenho), ou manter relações (de amizade, profissionais, políticas...) ao longo da vida.É claro que, para FB, tudo isto deve ser muito desagradável. Mas o problema central nem é esse - é, antes, perceber como, a partir de coisa nenhuma (uma insinuação numa conversa gravada em DVD), se parte para uma história perfeitamente kafkiana. Isso é assustador." João Magalhães

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