Jornal Alto Alentejo: Portalegre: Santa Casa da Misericórdia

28-05-2010
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> O funcionamento da pentacentenária instituição que é a Santa Casa da Misericórdia de Portalegre é alvo de um rol longo e aceso de queixas e críticas.Os métodos de gestão, as relações pessoais com funcionários, utentes e familiares, a forma como os idosos são tratados e a alegada conflitualidade interna são tema de queixa de funcionários e de familiares de utentes desta Santa Casa que se estende da Avenida da Liberdade à Rua da Amargura.Algumas das queixas são do domínio público, de há muito comentadas na cidade, mas desta vez quem procurou o nosso jornal para as dar conhecer são duas funcionárias e quatro familiares de utentes (e de utentes já falecidos) e que durante horas, na nossa redacção, elencaram exemplos de situações que consideram graves na instituição.As vontade de tornar públicas as críticas resulta, segundo as pessoas que as protagonizam, da imperiosa necessidade de contribuir para alterar comportamentos na Santa Casa, porque de há muito o quotidiano ali «é um pavor».Em momentos anteriores algumas destas pessoas tiveram a intenção de formular as mesmas denúncias, mas sempre com a esperança de que as situações que consideram graves fossem ultrapassadas, não avançaram.A válvula acaba por disparar com a chamada da Polícia à instituição, para expulsar (por duas vezes) do interior da Santa Casa uma irmã, Celeste Tavares, que é também funcionária da instituição mas que se encontra de “baixa” em resultado de uma intervenção cirúrgica, quando esta senhora pretendia, na hora da visita, cumprimentar utentes (ver edição do AA de 11 de Março p.p.), tendo a situação sido depois repetida.Já quando este trabalho estava em conclusão, a mesma senhora recebeu a informação de que foi excluída da Irmandade porque, segundo a Mesa Administrativa, «voluntariamente causou danos à Instituição».Devemos sublinhar que todas as seis pessoas – incluindo Celeste Tavares - que estiveram presentes na nossa redacção afiançam estar dispostas a identificar-se e a assumir as queixas que formulam, inclusive no foro judicial se para tal forem requeridas.Todavia para não prejudicar os familiares utentes da Instituição, algumas preferem neste momento reservar a sua identidade, o que respeitamos na íntegra, sendo que as restantes pessoas, por solidariedade, optam nesta fase por manter essa mesma reserva, o que se torna desnecessário em relação a Celeste Tavares.A Mesa Administrativa da Santa Casa da Misericórdia de Portalegre recusou responder a qualquer queixa, mas recebeu o nosso jornal. A provedora, Piedade Murta, começou por dizer que «não falo, porque quem diz mal tem de provar». A directora-geral declarou que «não respondo a nada. Digam e demonstrem, mas sofrerão as consequências legais»», pois «têm de provar o que dizem», e os assuntos serão «encaminhados para o Dr. Berenguel» (advogado da Santa Casa).Depois de insistência da nossa parte, a provedora, uma vogal (Maria das Dores Canhão), a directora-geral e duas assistentes sociais anuíram a ouvir o rol – 13 páginas escritas por nós à mão – que sistematiza as queixas das seis pessoas sobre a Santa Casa. No final foram tecidos alguns comentários, que damos a conhecer, mantendo-se a recusa em responder à generalidade das queixas por se tratar de «assuntos internos».Queixas e mais queixasAs seis pessoas que pediram ao nosso jornal para as ouvir formulam queixas como «cortam os mimos que os idosos querem», «cortam nas visitas aos utentes», agora «é proibido (aos familiares) dar as refeições aos utentes», «proibiram uma senhora que fazia voluntariado de dar de comer a um utente, levá-lo ao jardim ou até de o passear na sala». «Não deixam que os utentes se movimentem», «há os que dizem aos familiares que têm fome», «os lanches são fracos», «o jantar é às 18h e o pequeno-almoço às vezes às 10h e mais tarde».Um apontamento curioso: «parece uma escola de condução (porque) os papéis de proibição nas paredes são mais que muitos».Conta uma das senhoras que «quando (uma mesária) entrou foi começando a dizer que era melhor eu não ir dar o almoço (ao familiar), mas depois ainda levava o jantar até que foi proibido».«Preocupam-se com as pessoas poderem levar um sumo fora da validade mas, pelo menos até há pouco, os iogurtes eram servidos fora da validade… e testemunho três semanas após a data». «As bolachas são desempacotadas para não se ver o período de validade, tal como as manteigas».«Acham que não vale a pena as pessoas conhecerem os seus direitos», «há alterações ao regulamento interno que ninguém conhece», «quando há reclamações tentam que as pessoas digam que têm falta de confiança na instituição para que possam expulsar os utentes ao abrigo do regulamento interno».«Quando há críticas perguntam porque é que as pessoas não se candidatam».«O vermos o que se passa fora das horas de visita leva a que não se possa ir dar as refeições» aos familiares. «As visitas estão proibidas de ir à sala depois das 18h para não se aperceberem das (fracas) quantidades de alimentação dadas aos utentes», mas «há sacos com comida para os cães, sopa que vai para a sanita, ou que é retirada de um saco plástico para dar a um utente a quem se esqueceu de fornecer o jantar».«Às vezes não há pão e são dadas côdeas». Nas refeições chega a haver «um rissol por pessoa» ou «10 postas de peixe para 20 utentes». «Os utentes têm de comer alguma coisa entre as 18h e as 10h do dia seguinte; agora há chá ou leite para dar à noite, mas não é para todos». Mas «os utentes que são da simpatia são tratados melhor que os outros», e são apontados dois casos, pais de pessoas “importantes”. Num dos casos a provedora convidou-nos para ir falar com o senhor porque reclama muito, apesar de alegadamente ter um tratamento diferenciado.Uma pessoa conta que o seu familiar utente «passa fome» e «dava-lhe lanche, mas fui proibida». Estavam «bolinhos na mesa-de-cabeceira e esta foi afastada para ele não conseguir lá chegar», e uma mesária «anda-me a dizer que não é preciso ir lá todos os dias». «Isto não é normal», «as famílias são afastadas», diz a mesma pessoa.Conta uma pessoa que a directora «humilhou quatro homens de 70 ou 80 anos que fizeram um piquenique no jardim», dizendo à frente de toda a gente no refeitório que «livrem-se que eu os veja outra vez». Depois queixam-se ainda de que a directora «grita e proíbe as pessoas de falar» e que «trata mal toda gente». «Sofremos muito, é uma escravidão lá dentro, mas nós temos a nossa vida cá fora, os idosos é que não» e é este o ambiente em que vivem.Por vezes «os idosos estão com frio… mas mandam desligar os aquecedores porque a conta da electricidade é de 800 contos». Entretanto «lá se comprou um ar condicionado», mas «proibiram os lençóis de flanela num edifício gelado».Pelo menos «até há pouco, quando as pessoas morriam ficavam na cama no mesmo quarto com as outras pessoas até ao dia seguinte». É ainda feita a queixa de que há «pessoas em estado terminal juntas com outras no mesmo quarto», o que significa que «não há condições»«Chama-se um táxi para ir com duas pessoas ao RX à Zona Industrial, o táxi fica à espera e os utentes têm de pagar 40 euros, mas quando é pelas eleições vão todo o dia a levar utentes que não estão bons da cabeça a votar, mas as carrinhas não servem para os levar às consultas ou para os passear». Agora «para irem ao hospital, os utentes são acompanhados por funcionárias fora do horário de serviço, que são pagas e o valor é cobrado às famílias sem recibo».Há queixas sobre o tratamento dado a uma utente que alegadamente «via tudo o que se passava» e contava, depois terá «começado a ser medicada», mas «deitava os comprimidos fora». Entretanto a pessoa caiu, foi ao hospital e «deve ter sido enganada com a medicação por causa das dores», de tal modo que «era uma pessoa autónoma e ficou dependente» mas contava que «a queriam pôr a dormir». Depois «já estava ferida e não conhecia ninguém, a família (que reside fora) disse que a levava ao hospital e foram logo ameaçados», mas «com a pressão acabaram por retirar os medicamentos» e a senhora «acordou». Segundo a pessoa que faz esta queixa, a senhora «agora diz que querem é calar-me, mas já não anda, está de fraldas e ficou muito calminha; já não é a mesma pessoa».«O comportamento das funcionárias também é condicionado pelas ameaças e perseguições», mas «o problema é com as chefias». «Os processos disciplinares não são por as funcionárias tratarem mal os utentes, mas sim por outras razões».«Há doentes feridos sem explicação» e «há duas ou três funcionárias que contam tudo – o que é e o que não é – e essas podem fazer tudo, até dar uma “cacetada” na perna de alguém, porque essas nunca são castigadas. Um acidente é um acidente e não se esconde», isto a propósito de um caso ocorrido em que alegadamente se tentou esconder do familiar as equimoses de um utente (e de que nos foi facultada imagem que não usamos). Diz a mesma pessoa que «um familiar apresenta por escrito o caso de um utente ferido, talvez por desatenção de uma das funcionárias “protegidas” e a resposta da Santa Casa é que as relações com a instituição ficam fragilizadas» e que «a resposta típica (de uma encarregada) aos familiares é que se não estão contentes, levem a pessoa para casa».Há «funcionários que são “pides” uns dos outros porque a pressão é enorme». «Quem escreve no livro de reclamações é imediatamente ameaçado de levar o utente para casa», «uma senhora foi expulsa porque a filha queria dar-lhe os iogurtes» e «há utentes que não se queixam porque estão dementes».Entre muitas situações são ainda relatados casos como o de uma mãe «atada à cama», o que «fazem a todos», sendo ainda apontados casos em que são feitas queixas à Segurança Social mas depois há o «pedido para que essa queixa seja retirada», e como não é, no final «a resposta não é carne nem peixe», pois é dito que «é uma situação entre muitas».«Não se pode ter uma opinião contrária à daquelas senhoras» e são contados casos como o de «uma Irmã humilhada e expulsa da sala da Assembleia Geral» porque alegadamente já não era Irmã «mas tinha as quotas em dia e acabou por votar».Também «os boletins de voto são ilegais» e no último acto eleitoral, a 26 de Dezembro (data que apontam ter sido propositada para retirar afluência ao acto eleitoral) «houve muitos irmãos feitos à pressa», como «familiares de funcionários que interessavam».«As pessoas estão muito amarguradas», sentem «muita tristeza», a vivência na instituição «é um pavor», «a casa é um caos», e «o vice-provedor não conhece nada» do que se passa. Uma das senhoras garante mesmo que «já tenho medo de ir à Santa Casa e não estou a brincar, (porque) somos ameaçadas a torto e a direito».«O utente, na Misericórdia, só serve para dar dinheiro. Não há afecto». E surgem casos como o de «duas filhas de um senhor humilhadas publicamente… porque estavam a dar um sumo ao pai» e «saem em choro».«As funcionárias não podem parar ao pé de um utente, dar-lhe uma palavra de carinho (porque) são logo repreendidas» e «a directora diz vamos a andar», de tal modo que «as funcionárias dizem que vamos para o martírio, e quem paga são os utentes», que por vezes estão «amarrados na sala às cadeiras e chegam a andar amarrados a elas», pois «a realidade deste lar é completamente diferente dos outros da região».«Há muitos funcionários, mas há poucos para trabalhar» e apontam que uma pessoa «veio da Junta de Freguesia, entrou como encarregada e já é chefe de departamento», na secretaria «há dois chefes para cinco funcionários» e «uma secretária teve um aumento de 60 a 80 contos». «Assim não há dinheiro que chegue», e também «há quatro assistentes sociais na provedoria e mais duas remuneradas».É apontado o caso de a directora que «é advogada, mas consta como técnica de serviço social», o que a mesma desmente, tratando-se possivelmente de um lapso num documento, pois ele foi-nos presente.A dado passo as queixosas apontam que o que se passa na Santa Casa «é uma montagem familiar», pois «a directora tem lá a sogra (mesária) e agora o pai e mãe», ambos como membros dos corpos directivos, um mesário e o outro membro do Definitório.As queixas são muito direccionadas para pessoas em concreto e dizem que uma mesária «ameaça constantemente de colocar as pessoas na rua». Algumas pessoas «vão para ali para poderio e não para serviço», «estão ali agarradas de pedra e cal», «há perseguições pessoais» e desta lista de queixas «há casos expostos ao Bispo» da Diocese, bem como o governador Civil também já foi informado de algumas situações.É ainda exposto um caso em que, alegadamente no verão de 2007 «a directora recebeu uma carta anónima» e «é toda a gente convocada para a Santa Casa – quem estava de férias inclusive – e foi toda a gente acusada com a presença da Polícia», tendo sido «retiradas as impressões digitais (aos funcionários) e feitos testes de caligrafia», e depois foram «algumas pessoas chamadas meia dúzia de vezes (à Polícia) para os testes grafológicos», sendo toda esta situação considerada insólita. A directora confirmou parte do caso, explicando que foi a Brigada de Investigação que esteve nas instalações e que a carta era impressa e apenas o envelope manuscrito, acrescentando que se se fala agora nisto se calhar é porque se teve agora conhecimento de que os testes foram inconclusivos. É ainda apontado o caso de um ex-mesário que «saiu, disse que não tinha tempo mas não quis continuar porque percebeu» o que se passa.Igualmente há antigos mesários muito preocupados com a situação que se vive na Santa Casa da Misericórdia de Portalegre.Reacção da Mesa Administrativa> A provedora da Santa Casa, Piedade Murta, comentou que «houve eleições há muito pouco tempo, ninguém se candidatou e podiam fazê-lo». Pela sua parte afirma que «só trabalho com as pessoas em quem confio».A provedora faz questão de sublinhar que as portas da instituição estão sempre abertas para que se possa fazer reportagem.Recusando responder às queixas, houve no entanto que lhe mereceram comentário, como o da alimentação em que convidou o nosso jornal para analisar as ementas (o que obviamente não nos compete fazer), sublinhando que «há sete tipos de refeições diferentes, algumas só quando necessário, claro».A provedora quis ainda evidenciar que «os vencimentos estão em dia» e «todos os anos aumentamos». Mas também «temos algum dinheiro para a obra» do novo lar, a construir no espaço com entrada pela Rua da Amargura.Acrescenta ainda a provedora que «somos a única Misericórdia que tem como primeira prioridade trazer as pessoas que estão abandonadas no campo», mas «nunca ninguém vem contrariado».Assim, na Santa Casa são recolhidos também «aqueles a quem os filhos roubam a pensão» e em termos de pagamento dos serviços «é de acordo com a lei, e se for preciso a comparticipação é suportada por nós».Outra explicação tem a ver com a hora do jantar que também considera cedo mas «é às 18h porque os utentes não querem que seja mais tarde».A mesária Maria das Dores Canhão apenas comentou que «se queremos os doentes parados, é por isso que temos um professor de ginástica».O grupo de cinco senhoras, provedora, mesária, directora e duas técnicas não quiseram tecer mais qualquer comentário às queixas de que tomaram conhecimento.No final e acompanhados pelas duas jovens assistentes sociais fizemos uma visita pelas instalações.Estágio recusado> Segundo uma das funcionárias nos contou, uma jovem aluna do Curso de Serviço Social da Escola Superior de Educação de Portalegre, considerada a melhor aluna, iria fazer estágio curricular na Santa Casa mas «foi humilhada e acusada de não ter ética porque a mãe é funcionária da instituição».Este caso, sabe-se, foi muito comentado na ESEP e criou – e ainda cria - incómodo no corpo docente.Sobre este caso a provedora, Piedade Murta, desmente e diz que teve uma entrevista com a candidata ao estágio e que ela é que não voltou à instituição.


> O funcionamento da pentacentenária instituição que é a Santa Casa da Misericórdia de Portalegre é alvo de um rol longo e aceso de queixas e críticas.Os métodos de gestão, as relações pessoais com funcionários, utentes e familiares, a forma como os idosos são tratados e a alegada conflitualidade interna são tema de queixa de funcionários e de familiares de utentes desta Santa Casa que se estende da Avenida da Liberdade à Rua da Amargura.Algumas das queixas são do domínio público, de há muito comentadas na cidade, mas desta vez quem procurou o nosso jornal para as dar conhecer são duas funcionárias e quatro familiares de utentes (e de utentes já falecidos) e que durante horas, na nossa redacção, elencaram exemplos de situações que consideram graves na instituição.As vontade de tornar públicas as críticas resulta, segundo as pessoas que as protagonizam, da imperiosa necessidade de contribuir para alterar comportamentos na Santa Casa, porque de há muito o quotidiano ali «é um pavor».Em momentos anteriores algumas destas pessoas tiveram a intenção de formular as mesmas denúncias, mas sempre com a esperança de que as situações que consideram graves fossem ultrapassadas, não avançaram.A válvula acaba por disparar com a chamada da Polícia à instituição, para expulsar (por duas vezes) do interior da Santa Casa uma irmã, Celeste Tavares, que é também funcionária da instituição mas que se encontra de “baixa” em resultado de uma intervenção cirúrgica, quando esta senhora pretendia, na hora da visita, cumprimentar utentes (ver edição do AA de 11 de Março p.p.), tendo a situação sido depois repetida.Já quando este trabalho estava em conclusão, a mesma senhora recebeu a informação de que foi excluída da Irmandade porque, segundo a Mesa Administrativa, «voluntariamente causou danos à Instituição».Devemos sublinhar que todas as seis pessoas – incluindo Celeste Tavares - que estiveram presentes na nossa redacção afiançam estar dispostas a identificar-se e a assumir as queixas que formulam, inclusive no foro judicial se para tal forem requeridas.Todavia para não prejudicar os familiares utentes da Instituição, algumas preferem neste momento reservar a sua identidade, o que respeitamos na íntegra, sendo que as restantes pessoas, por solidariedade, optam nesta fase por manter essa mesma reserva, o que se torna desnecessário em relação a Celeste Tavares.A Mesa Administrativa da Santa Casa da Misericórdia de Portalegre recusou responder a qualquer queixa, mas recebeu o nosso jornal. A provedora, Piedade Murta, começou por dizer que «não falo, porque quem diz mal tem de provar». A directora-geral declarou que «não respondo a nada. Digam e demonstrem, mas sofrerão as consequências legais»», pois «têm de provar o que dizem», e os assuntos serão «encaminhados para o Dr. Berenguel» (advogado da Santa Casa).Depois de insistência da nossa parte, a provedora, uma vogal (Maria das Dores Canhão), a directora-geral e duas assistentes sociais anuíram a ouvir o rol – 13 páginas escritas por nós à mão – que sistematiza as queixas das seis pessoas sobre a Santa Casa. No final foram tecidos alguns comentários, que damos a conhecer, mantendo-se a recusa em responder à generalidade das queixas por se tratar de «assuntos internos».Queixas e mais queixasAs seis pessoas que pediram ao nosso jornal para as ouvir formulam queixas como «cortam os mimos que os idosos querem», «cortam nas visitas aos utentes», agora «é proibido (aos familiares) dar as refeições aos utentes», «proibiram uma senhora que fazia voluntariado de dar de comer a um utente, levá-lo ao jardim ou até de o passear na sala». «Não deixam que os utentes se movimentem», «há os que dizem aos familiares que têm fome», «os lanches são fracos», «o jantar é às 18h e o pequeno-almoço às vezes às 10h e mais tarde».Um apontamento curioso: «parece uma escola de condução (porque) os papéis de proibição nas paredes são mais que muitos».Conta uma das senhoras que «quando (uma mesária) entrou foi começando a dizer que era melhor eu não ir dar o almoço (ao familiar), mas depois ainda levava o jantar até que foi proibido».«Preocupam-se com as pessoas poderem levar um sumo fora da validade mas, pelo menos até há pouco, os iogurtes eram servidos fora da validade… e testemunho três semanas após a data». «As bolachas são desempacotadas para não se ver o período de validade, tal como as manteigas».«Acham que não vale a pena as pessoas conhecerem os seus direitos», «há alterações ao regulamento interno que ninguém conhece», «quando há reclamações tentam que as pessoas digam que têm falta de confiança na instituição para que possam expulsar os utentes ao abrigo do regulamento interno».«Quando há críticas perguntam porque é que as pessoas não se candidatam».«O vermos o que se passa fora das horas de visita leva a que não se possa ir dar as refeições» aos familiares. «As visitas estão proibidas de ir à sala depois das 18h para não se aperceberem das (fracas) quantidades de alimentação dadas aos utentes», mas «há sacos com comida para os cães, sopa que vai para a sanita, ou que é retirada de um saco plástico para dar a um utente a quem se esqueceu de fornecer o jantar».«Às vezes não há pão e são dadas côdeas». Nas refeições chega a haver «um rissol por pessoa» ou «10 postas de peixe para 20 utentes». «Os utentes têm de comer alguma coisa entre as 18h e as 10h do dia seguinte; agora há chá ou leite para dar à noite, mas não é para todos». Mas «os utentes que são da simpatia são tratados melhor que os outros», e são apontados dois casos, pais de pessoas “importantes”. Num dos casos a provedora convidou-nos para ir falar com o senhor porque reclama muito, apesar de alegadamente ter um tratamento diferenciado.Uma pessoa conta que o seu familiar utente «passa fome» e «dava-lhe lanche, mas fui proibida». Estavam «bolinhos na mesa-de-cabeceira e esta foi afastada para ele não conseguir lá chegar», e uma mesária «anda-me a dizer que não é preciso ir lá todos os dias». «Isto não é normal», «as famílias são afastadas», diz a mesma pessoa.Conta uma pessoa que a directora «humilhou quatro homens de 70 ou 80 anos que fizeram um piquenique no jardim», dizendo à frente de toda a gente no refeitório que «livrem-se que eu os veja outra vez». Depois queixam-se ainda de que a directora «grita e proíbe as pessoas de falar» e que «trata mal toda gente». «Sofremos muito, é uma escravidão lá dentro, mas nós temos a nossa vida cá fora, os idosos é que não» e é este o ambiente em que vivem.Por vezes «os idosos estão com frio… mas mandam desligar os aquecedores porque a conta da electricidade é de 800 contos». Entretanto «lá se comprou um ar condicionado», mas «proibiram os lençóis de flanela num edifício gelado».Pelo menos «até há pouco, quando as pessoas morriam ficavam na cama no mesmo quarto com as outras pessoas até ao dia seguinte». É ainda feita a queixa de que há «pessoas em estado terminal juntas com outras no mesmo quarto», o que significa que «não há condições»«Chama-se um táxi para ir com duas pessoas ao RX à Zona Industrial, o táxi fica à espera e os utentes têm de pagar 40 euros, mas quando é pelas eleições vão todo o dia a levar utentes que não estão bons da cabeça a votar, mas as carrinhas não servem para os levar às consultas ou para os passear». Agora «para irem ao hospital, os utentes são acompanhados por funcionárias fora do horário de serviço, que são pagas e o valor é cobrado às famílias sem recibo».Há queixas sobre o tratamento dado a uma utente que alegadamente «via tudo o que se passava» e contava, depois terá «começado a ser medicada», mas «deitava os comprimidos fora». Entretanto a pessoa caiu, foi ao hospital e «deve ter sido enganada com a medicação por causa das dores», de tal modo que «era uma pessoa autónoma e ficou dependente» mas contava que «a queriam pôr a dormir». Depois «já estava ferida e não conhecia ninguém, a família (que reside fora) disse que a levava ao hospital e foram logo ameaçados», mas «com a pressão acabaram por retirar os medicamentos» e a senhora «acordou». Segundo a pessoa que faz esta queixa, a senhora «agora diz que querem é calar-me, mas já não anda, está de fraldas e ficou muito calminha; já não é a mesma pessoa».«O comportamento das funcionárias também é condicionado pelas ameaças e perseguições», mas «o problema é com as chefias». «Os processos disciplinares não são por as funcionárias tratarem mal os utentes, mas sim por outras razões».«Há doentes feridos sem explicação» e «há duas ou três funcionárias que contam tudo – o que é e o que não é – e essas podem fazer tudo, até dar uma “cacetada” na perna de alguém, porque essas nunca são castigadas. Um acidente é um acidente e não se esconde», isto a propósito de um caso ocorrido em que alegadamente se tentou esconder do familiar as equimoses de um utente (e de que nos foi facultada imagem que não usamos). Diz a mesma pessoa que «um familiar apresenta por escrito o caso de um utente ferido, talvez por desatenção de uma das funcionárias “protegidas” e a resposta da Santa Casa é que as relações com a instituição ficam fragilizadas» e que «a resposta típica (de uma encarregada) aos familiares é que se não estão contentes, levem a pessoa para casa».Há «funcionários que são “pides” uns dos outros porque a pressão é enorme». «Quem escreve no livro de reclamações é imediatamente ameaçado de levar o utente para casa», «uma senhora foi expulsa porque a filha queria dar-lhe os iogurtes» e «há utentes que não se queixam porque estão dementes».Entre muitas situações são ainda relatados casos como o de uma mãe «atada à cama», o que «fazem a todos», sendo ainda apontados casos em que são feitas queixas à Segurança Social mas depois há o «pedido para que essa queixa seja retirada», e como não é, no final «a resposta não é carne nem peixe», pois é dito que «é uma situação entre muitas».«Não se pode ter uma opinião contrária à daquelas senhoras» e são contados casos como o de «uma Irmã humilhada e expulsa da sala da Assembleia Geral» porque alegadamente já não era Irmã «mas tinha as quotas em dia e acabou por votar».Também «os boletins de voto são ilegais» e no último acto eleitoral, a 26 de Dezembro (data que apontam ter sido propositada para retirar afluência ao acto eleitoral) «houve muitos irmãos feitos à pressa», como «familiares de funcionários que interessavam».«As pessoas estão muito amarguradas», sentem «muita tristeza», a vivência na instituição «é um pavor», «a casa é um caos», e «o vice-provedor não conhece nada» do que se passa. Uma das senhoras garante mesmo que «já tenho medo de ir à Santa Casa e não estou a brincar, (porque) somos ameaçadas a torto e a direito».«O utente, na Misericórdia, só serve para dar dinheiro. Não há afecto». E surgem casos como o de «duas filhas de um senhor humilhadas publicamente… porque estavam a dar um sumo ao pai» e «saem em choro».«As funcionárias não podem parar ao pé de um utente, dar-lhe uma palavra de carinho (porque) são logo repreendidas» e «a directora diz vamos a andar», de tal modo que «as funcionárias dizem que vamos para o martírio, e quem paga são os utentes», que por vezes estão «amarrados na sala às cadeiras e chegam a andar amarrados a elas», pois «a realidade deste lar é completamente diferente dos outros da região».«Há muitos funcionários, mas há poucos para trabalhar» e apontam que uma pessoa «veio da Junta de Freguesia, entrou como encarregada e já é chefe de departamento», na secretaria «há dois chefes para cinco funcionários» e «uma secretária teve um aumento de 60 a 80 contos». «Assim não há dinheiro que chegue», e também «há quatro assistentes sociais na provedoria e mais duas remuneradas».É apontado o caso de a directora que «é advogada, mas consta como técnica de serviço social», o que a mesma desmente, tratando-se possivelmente de um lapso num documento, pois ele foi-nos presente.A dado passo as queixosas apontam que o que se passa na Santa Casa «é uma montagem familiar», pois «a directora tem lá a sogra (mesária) e agora o pai e mãe», ambos como membros dos corpos directivos, um mesário e o outro membro do Definitório.As queixas são muito direccionadas para pessoas em concreto e dizem que uma mesária «ameaça constantemente de colocar as pessoas na rua». Algumas pessoas «vão para ali para poderio e não para serviço», «estão ali agarradas de pedra e cal», «há perseguições pessoais» e desta lista de queixas «há casos expostos ao Bispo» da Diocese, bem como o governador Civil também já foi informado de algumas situações.É ainda exposto um caso em que, alegadamente no verão de 2007 «a directora recebeu uma carta anónima» e «é toda a gente convocada para a Santa Casa – quem estava de férias inclusive – e foi toda a gente acusada com a presença da Polícia», tendo sido «retiradas as impressões digitais (aos funcionários) e feitos testes de caligrafia», e depois foram «algumas pessoas chamadas meia dúzia de vezes (à Polícia) para os testes grafológicos», sendo toda esta situação considerada insólita. A directora confirmou parte do caso, explicando que foi a Brigada de Investigação que esteve nas instalações e que a carta era impressa e apenas o envelope manuscrito, acrescentando que se se fala agora nisto se calhar é porque se teve agora conhecimento de que os testes foram inconclusivos. É ainda apontado o caso de um ex-mesário que «saiu, disse que não tinha tempo mas não quis continuar porque percebeu» o que se passa.Igualmente há antigos mesários muito preocupados com a situação que se vive na Santa Casa da Misericórdia de Portalegre.Reacção da Mesa Administrativa> A provedora da Santa Casa, Piedade Murta, comentou que «houve eleições há muito pouco tempo, ninguém se candidatou e podiam fazê-lo». Pela sua parte afirma que «só trabalho com as pessoas em quem confio».A provedora faz questão de sublinhar que as portas da instituição estão sempre abertas para que se possa fazer reportagem.Recusando responder às queixas, houve no entanto que lhe mereceram comentário, como o da alimentação em que convidou o nosso jornal para analisar as ementas (o que obviamente não nos compete fazer), sublinhando que «há sete tipos de refeições diferentes, algumas só quando necessário, claro».A provedora quis ainda evidenciar que «os vencimentos estão em dia» e «todos os anos aumentamos». Mas também «temos algum dinheiro para a obra» do novo lar, a construir no espaço com entrada pela Rua da Amargura.Acrescenta ainda a provedora que «somos a única Misericórdia que tem como primeira prioridade trazer as pessoas que estão abandonadas no campo», mas «nunca ninguém vem contrariado».Assim, na Santa Casa são recolhidos também «aqueles a quem os filhos roubam a pensão» e em termos de pagamento dos serviços «é de acordo com a lei, e se for preciso a comparticipação é suportada por nós».Outra explicação tem a ver com a hora do jantar que também considera cedo mas «é às 18h porque os utentes não querem que seja mais tarde».A mesária Maria das Dores Canhão apenas comentou que «se queremos os doentes parados, é por isso que temos um professor de ginástica».O grupo de cinco senhoras, provedora, mesária, directora e duas técnicas não quiseram tecer mais qualquer comentário às queixas de que tomaram conhecimento.No final e acompanhados pelas duas jovens assistentes sociais fizemos uma visita pelas instalações.Estágio recusado> Segundo uma das funcionárias nos contou, uma jovem aluna do Curso de Serviço Social da Escola Superior de Educação de Portalegre, considerada a melhor aluna, iria fazer estágio curricular na Santa Casa mas «foi humilhada e acusada de não ter ética porque a mãe é funcionária da instituição».Este caso, sabe-se, foi muito comentado na ESEP e criou – e ainda cria - incómodo no corpo docente.Sobre este caso a provedora, Piedade Murta, desmente e diz que teve uma entrevista com a candidata ao estágio e que ela é que não voltou à instituição.

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