Rumo a Bombordo: Morreu Amélio dos Santos

19-12-2009
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Na passada sexta-feira fui, de novo, surpreendido com uma daquelas notícias que nunca queremos ouvir. Morreu o Sr. Amélio. A primeira vez que o vi foi numa Assembleia Municipal, onde, durante o período aberto à população, defendia acerrimamente e devidamente fundamentado com a sua exaustiva pesquisa, o direito da Ponta dos Corvos ser integrada na "sua" freguesia do Seixal. Nesse dia, ao longo duma extensa intervenção, várias vezes foi interrompido pelo Presidente da Mesa que lhe repetia: "O Sr. Munícipe tem que terminar". Depois duma destas interpelações, Amélio interrompeu o seu raciocínio e dirigindo-se ao Presidente da Mesa replicou: "Vê lá se te calas que já estou farto de te ouvir e ainda sou teu tio pela parte da tua mulher!" É este o Sr. Amélio que guardarei na memória, interessado na causa pública, estudioso e corajoso.Mais tarde, através do Vereador Menezes Rodrigues, vim a saber que o Sr. Amélio era uma verdadeira lenda viva nos idos de cinquenta do século passado no Seixal. Terá passado de boca em boca a rixa em que Amélio se envolveu no estádio do Bravo por esses anos, e aquando da chegada da Guarda a sua espectacular fuga saltando a barreira de elevado declive que separa o Estádio do núcleo urbano do Seixal.Não tanto por estas aventuras, mas por outras de cariz mais político, já referenciado pela policia política, Amélio acompanhado da família emigrou para o Canadá e mais tarde para os Estados Unidos, onde continuou a sua luta política, financiando os movimentos oposicionistas e, ele próprio, organizando núcleos de Portugueses que inevitavelmente se tornavam pólos agitadores contra o regime instalado.No estrangeiro elevou sempre bem alto o nome de Portugal e o do "seu" Seixal através do seu ofício, carpinteiro naval, profissão que exercia com mestria. Aprendeu o seu ganha-pão na praia do Seixal, como fazia questão de frisar, mas trabalhou com reconhecimento, nos mais prestigiados e luxuosos estaleiros de barcos de recreio.Com os alvores da Liberdade voltou à sua terra e exerceu o cargo de Presidente da Junta de Freguesia, que se designava ainda Regedor, no período que antecedeu as primeiras eleições autárquicas. No entanto, desiludido com o rumo que a Revolução tomava rumou de novo ao caminho do auto-exílio.Já reformado volta à sua terra, desta vez apenas empenhado em defender a integração da Ponta dos Corvos na freguesia do Seixal e na defesa das alfaias do seu ofício, mal representadas na heráldica do concelho do Seixal, talvez numa representação criada por quem fosse mestre de outros ofícios...Sendo a generosidade seu timbre, não posso, por fim, deixar de recordar a ocasião em que sabendo-me praticante de vela me visitou no meu gabinete, trazendo consigo uns sapatos de vela de elevada qualidade que guardava das aventuras além-mar, por isso, mas acima de tudo pelo exemplo, aqui fica o meu muito Obrigado Sr. Amélio com a firme promessa que continuarei a sua Luta.Hasta la Victoria, Siempre!


Na passada sexta-feira fui, de novo, surpreendido com uma daquelas notícias que nunca queremos ouvir. Morreu o Sr. Amélio. A primeira vez que o vi foi numa Assembleia Municipal, onde, durante o período aberto à população, defendia acerrimamente e devidamente fundamentado com a sua exaustiva pesquisa, o direito da Ponta dos Corvos ser integrada na "sua" freguesia do Seixal. Nesse dia, ao longo duma extensa intervenção, várias vezes foi interrompido pelo Presidente da Mesa que lhe repetia: "O Sr. Munícipe tem que terminar". Depois duma destas interpelações, Amélio interrompeu o seu raciocínio e dirigindo-se ao Presidente da Mesa replicou: "Vê lá se te calas que já estou farto de te ouvir e ainda sou teu tio pela parte da tua mulher!" É este o Sr. Amélio que guardarei na memória, interessado na causa pública, estudioso e corajoso.Mais tarde, através do Vereador Menezes Rodrigues, vim a saber que o Sr. Amélio era uma verdadeira lenda viva nos idos de cinquenta do século passado no Seixal. Terá passado de boca em boca a rixa em que Amélio se envolveu no estádio do Bravo por esses anos, e aquando da chegada da Guarda a sua espectacular fuga saltando a barreira de elevado declive que separa o Estádio do núcleo urbano do Seixal.Não tanto por estas aventuras, mas por outras de cariz mais político, já referenciado pela policia política, Amélio acompanhado da família emigrou para o Canadá e mais tarde para os Estados Unidos, onde continuou a sua luta política, financiando os movimentos oposicionistas e, ele próprio, organizando núcleos de Portugueses que inevitavelmente se tornavam pólos agitadores contra o regime instalado.No estrangeiro elevou sempre bem alto o nome de Portugal e o do "seu" Seixal através do seu ofício, carpinteiro naval, profissão que exercia com mestria. Aprendeu o seu ganha-pão na praia do Seixal, como fazia questão de frisar, mas trabalhou com reconhecimento, nos mais prestigiados e luxuosos estaleiros de barcos de recreio.Com os alvores da Liberdade voltou à sua terra e exerceu o cargo de Presidente da Junta de Freguesia, que se designava ainda Regedor, no período que antecedeu as primeiras eleições autárquicas. No entanto, desiludido com o rumo que a Revolução tomava rumou de novo ao caminho do auto-exílio.Já reformado volta à sua terra, desta vez apenas empenhado em defender a integração da Ponta dos Corvos na freguesia do Seixal e na defesa das alfaias do seu ofício, mal representadas na heráldica do concelho do Seixal, talvez numa representação criada por quem fosse mestre de outros ofícios...Sendo a generosidade seu timbre, não posso, por fim, deixar de recordar a ocasião em que sabendo-me praticante de vela me visitou no meu gabinete, trazendo consigo uns sapatos de vela de elevada qualidade que guardava das aventuras além-mar, por isso, mas acima de tudo pelo exemplo, aqui fica o meu muito Obrigado Sr. Amélio com a firme promessa que continuarei a sua Luta.Hasta la Victoria, Siempre!

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