XimPi: Negócios muito católicos?

26-12-2009
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• JorgeMessias Negócio entre compadres.... O governo de Sócrates reconheceu, pela primeira vez, existir uma parceria na área da Segurança Social, entre o Estado laico e a Igreja Católica. Este longo namoro entre «oficiais do mesmo ofício» era de há muito evidente. A novidade consiste em ser agora oficialmente reconhecida a sua existência..As linhas gerais deste «acordo entre compadres», anunciadas pelo próprio ministro da Segurança Social, Vieira da Silva, são esclarecedoras e referem-se ao sector, vago e muito extenso, dos serviços à família e da protecção no desemprego. É previsível que noutras áreas da governação o mesmo venha a acontecer, nomeadamente na Saúde, no Ensino e na Justiça. Entretanto, o Governo procura conservar a mascarilha do optimismo e do bom sucesso mas na realidade está apavorado com a possibilidade de uma explosão social. Há mais de 600 mil desempregados, digam as estatísticas oficiais o que disserem, e esse número vai crescer muito mais. A Segurança Social está burocratizada, separada da realidade, e todas as medidas que anuncia para o combate à pobreza e ao desemprego não passam do papel. Sócrates é palavroso e nada mais..Mas vêm aí as eleições e é preciso procurar fazer alguma coisa, mesmo que nada se faça. Por isso, Vieira da Silva declarou publicamente e com desfaçatez que os desempregados irão trabalhar nas IPSS, Misericórdias, creches e lares para idosos, residências para deficientes e centros de dia e acolhimento. Serão instadas mais 400 novas unidades de equipamentos sociais. Criar-se-ão 9600 postos de trabalho. «O sistema é de parceria: o Estado comparticipa no financiamento e no funcionamento da rede»... e a Igreja capitaliza os subsídios e é ela quem mais ordena na nova ordem social. Quanto a Sócrates, deu-se o grande milagre da conversão. Da noite para o dia, o seu discurso político passou da arrogância à humildade cristã baseada nos «valores»..Um passo mais e o Poder está no papo ... .Entre a promessa e a concretização metem-se as legislativas e este Governo será demitido. O tempo passa e promessas leva-as o vento. Normalmente é isto que acontece. Mas neste caso, tudo indica que não será assim. A Igreja tem a noção exacta da sua força política. Conquistou agora novas posições que não abandonará voluntariamente. Domina o Poder. Ocupou um grande espaço que lhe poderá permitir aumentar a influência junto de camadas importantes da população. Perante um governo sem «rei nem roque» é a Igreja que reivindica e obtém o que muito bem quer..Tente Sócrates traí-la e verá o que lhe acontece..As IPSS declaram não ter verbas para o combate à pobreza e logo elas aparecem. As Misericórdias dizem que o SNS rouba doentes aos seus hospitais e imediatamente as suas camas são ocupadas e o Estado paga à Igreja essa ocupação.. As IPSS reclamam mais benefícios fiscais e logo o governo desce três pontos na taxa que elas pagam à Segurança Social. Imagine-se a quanto não corresponderá a quebra das receitas fiscais para o Estado, se soubermos que as instituições sociais católicas são para cima de 2600! A própria Opus Dei diz que não tem dinheiro e precisa que o Estado a ajude... Pode a Igreja ficar descansada. O Estado dará resposta positiva a todos os seus queixumes!.Entretanto, reuniram-se em Fátima os bispos da Conferência Episcopal. Reclamaram a regulamentação, até finais do Verão, do articulado da Nova Concordata. Exigiram mais poderes para a Igreja na assistência espiritual às forças militares e militarizadas, na educação moral e religiosa, nos privilégios fiscais, nos trabalhos nas prisões e nos hospitais públicos, nos encargos com a manutenção dos edifícios religiosos, na intervenção canónica nos divórcios, etc., etc. Globalmente, estas exigências representam um importante caderno reivindicativo. Mas há mais..Na área da Saúde, também as notícias que chegam são de completo entendimento entre a Igreja e um Estado irreconhecível como tal. As misericórdias vão ter o monopólio da rede de cuidados continuados, vai ser-lhes pago o serviço de apoio domiciliário, vão assumir a responsabilidade (e o proveito) da liquidação da escandalosa lista de espera para as cirurgias às cataratas e nas doenças oncológicas, vão ter mais verbas orçamentais para os lares da Igreja... e não se vê um fim a este caudal de cedências. Todo o poder ao Patriarcado!.É preciso resistir...in Avante 2009.06.25..


• JorgeMessias Negócio entre compadres.... O governo de Sócrates reconheceu, pela primeira vez, existir uma parceria na área da Segurança Social, entre o Estado laico e a Igreja Católica. Este longo namoro entre «oficiais do mesmo ofício» era de há muito evidente. A novidade consiste em ser agora oficialmente reconhecida a sua existência..As linhas gerais deste «acordo entre compadres», anunciadas pelo próprio ministro da Segurança Social, Vieira da Silva, são esclarecedoras e referem-se ao sector, vago e muito extenso, dos serviços à família e da protecção no desemprego. É previsível que noutras áreas da governação o mesmo venha a acontecer, nomeadamente na Saúde, no Ensino e na Justiça. Entretanto, o Governo procura conservar a mascarilha do optimismo e do bom sucesso mas na realidade está apavorado com a possibilidade de uma explosão social. Há mais de 600 mil desempregados, digam as estatísticas oficiais o que disserem, e esse número vai crescer muito mais. A Segurança Social está burocratizada, separada da realidade, e todas as medidas que anuncia para o combate à pobreza e ao desemprego não passam do papel. Sócrates é palavroso e nada mais..Mas vêm aí as eleições e é preciso procurar fazer alguma coisa, mesmo que nada se faça. Por isso, Vieira da Silva declarou publicamente e com desfaçatez que os desempregados irão trabalhar nas IPSS, Misericórdias, creches e lares para idosos, residências para deficientes e centros de dia e acolhimento. Serão instadas mais 400 novas unidades de equipamentos sociais. Criar-se-ão 9600 postos de trabalho. «O sistema é de parceria: o Estado comparticipa no financiamento e no funcionamento da rede»... e a Igreja capitaliza os subsídios e é ela quem mais ordena na nova ordem social. Quanto a Sócrates, deu-se o grande milagre da conversão. Da noite para o dia, o seu discurso político passou da arrogância à humildade cristã baseada nos «valores»..Um passo mais e o Poder está no papo ... .Entre a promessa e a concretização metem-se as legislativas e este Governo será demitido. O tempo passa e promessas leva-as o vento. Normalmente é isto que acontece. Mas neste caso, tudo indica que não será assim. A Igreja tem a noção exacta da sua força política. Conquistou agora novas posições que não abandonará voluntariamente. Domina o Poder. Ocupou um grande espaço que lhe poderá permitir aumentar a influência junto de camadas importantes da população. Perante um governo sem «rei nem roque» é a Igreja que reivindica e obtém o que muito bem quer..Tente Sócrates traí-la e verá o que lhe acontece..As IPSS declaram não ter verbas para o combate à pobreza e logo elas aparecem. As Misericórdias dizem que o SNS rouba doentes aos seus hospitais e imediatamente as suas camas são ocupadas e o Estado paga à Igreja essa ocupação.. As IPSS reclamam mais benefícios fiscais e logo o governo desce três pontos na taxa que elas pagam à Segurança Social. Imagine-se a quanto não corresponderá a quebra das receitas fiscais para o Estado, se soubermos que as instituições sociais católicas são para cima de 2600! A própria Opus Dei diz que não tem dinheiro e precisa que o Estado a ajude... Pode a Igreja ficar descansada. O Estado dará resposta positiva a todos os seus queixumes!.Entretanto, reuniram-se em Fátima os bispos da Conferência Episcopal. Reclamaram a regulamentação, até finais do Verão, do articulado da Nova Concordata. Exigiram mais poderes para a Igreja na assistência espiritual às forças militares e militarizadas, na educação moral e religiosa, nos privilégios fiscais, nos trabalhos nas prisões e nos hospitais públicos, nos encargos com a manutenção dos edifícios religiosos, na intervenção canónica nos divórcios, etc., etc. Globalmente, estas exigências representam um importante caderno reivindicativo. Mas há mais..Na área da Saúde, também as notícias que chegam são de completo entendimento entre a Igreja e um Estado irreconhecível como tal. As misericórdias vão ter o monopólio da rede de cuidados continuados, vai ser-lhes pago o serviço de apoio domiciliário, vão assumir a responsabilidade (e o proveito) da liquidação da escandalosa lista de espera para as cirurgias às cataratas e nas doenças oncológicas, vão ter mais verbas orçamentais para os lares da Igreja... e não se vê um fim a este caudal de cedências. Todo o poder ao Patriarcado!.É preciso resistir...in Avante 2009.06.25..

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