O Cachimbo de Magritte: Euforias revolucionárias

30-05-2010
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É sempre comovente observar como a esquerda recebe uma ‘revolução’. Esta euforia romântica, centrada numa compreensão ocidental do que lá fora se passa, peca pelo seu desfasamento para com a realidade política iraniana. Para além dos pontos já salientados pela blogosfera (a dependência política do Presidente no Líder Supremo; a manipulação ou não dos resultados; o Irão não ser uma democracia, etc.), nomeadamente entre o Henrique Burnay e o João Galamba, julgo importante referir mais dois pontos: (1) as manifestações estão contra o regime, i.e. contra as instituições políticas iranianas, ou estão contra a liderança de Ahmadinejad? É uma distinção importante, que leva a conclusões diferentes; (2) abrir e liberalizar um Estado teocrático é um processo lento e doloroso. Não apenas pela existência de elites conservadoras, mas igualmente pelo enraizamento da religião e da sua relação com a política na sociedade. Mitos revolucionários à parte, nunca será através de um coup que os valores alicerces de uma sociedade se alterarão.Sem dúvida que, apesar da violência, a manifestação de insatisfação por parte dos jovens é um sinal positivo, ainda mais sendo o Irão um país com uma população jovem muito numerosa. Contudo, nestas coisas, recomenda-se algum realismo. A reforma institucional tornar-se-á inevitável, mas a médio ou longo prazo.


É sempre comovente observar como a esquerda recebe uma ‘revolução’. Esta euforia romântica, centrada numa compreensão ocidental do que lá fora se passa, peca pelo seu desfasamento para com a realidade política iraniana. Para além dos pontos já salientados pela blogosfera (a dependência política do Presidente no Líder Supremo; a manipulação ou não dos resultados; o Irão não ser uma democracia, etc.), nomeadamente entre o Henrique Burnay e o João Galamba, julgo importante referir mais dois pontos: (1) as manifestações estão contra o regime, i.e. contra as instituições políticas iranianas, ou estão contra a liderança de Ahmadinejad? É uma distinção importante, que leva a conclusões diferentes; (2) abrir e liberalizar um Estado teocrático é um processo lento e doloroso. Não apenas pela existência de elites conservadoras, mas igualmente pelo enraizamento da religião e da sua relação com a política na sociedade. Mitos revolucionários à parte, nunca será através de um coup que os valores alicerces de uma sociedade se alterarão.Sem dúvida que, apesar da violência, a manifestação de insatisfação por parte dos jovens é um sinal positivo, ainda mais sendo o Irão um país com uma população jovem muito numerosa. Contudo, nestas coisas, recomenda-se algum realismo. A reforma institucional tornar-se-á inevitável, mas a médio ou longo prazo.

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