O Cachimbo de Magritte: Os tiques dos tiranetes

31-05-2010
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Num país que é esmagadoramente católico, um grupo que deve representar umas centenas de pessoas (vá lá, com favor, uns tantos milhares), activíssimo a denunciar as perversões do Estado laico, insurge-se todos os dias contra a tolerância de ponto decretada pelo Governo, para facultar às pessoas a possibilidade de receberem o Papa, por certo um momento da maior importância nas suas vidas. Os acérrimos defensores do Estado laico gostariam, na verdade, que o Estado não fosse apenas laico, mas dificultasse, tanto quanto possível, qualquer medida de prática cultual que tenha expressão pública (gostariam que o Estado legislasse para uma sociedade laica, vá-se lá tentar perceber o que semelhante aberração conceptual quer dizer!). Isto, para um Estado, vale a pena sublinhar, onde a esmagadora maioria da sociedade professa a religião católica. Gostariam, em suma, que o Estado não fosse laico (um Estado idealmente - porque nunca o pode ser realmente - neutro em relação à confissão religiosa da maioria da nação, como a qualquer outra), mas o contrário do Estado laico: um Estado contra a prática religiosa dessa maioria. Gostariam, em suma, que o Estado e a sociedade fossem à imagem do que são. Mas não pode ser. Não seria sequer um Estado democrático em Portugal. E a sociedade não seria a portuguesa. De certeza que não seriam. Mas isso são detalhes que não os afligem.


Num país que é esmagadoramente católico, um grupo que deve representar umas centenas de pessoas (vá lá, com favor, uns tantos milhares), activíssimo a denunciar as perversões do Estado laico, insurge-se todos os dias contra a tolerância de ponto decretada pelo Governo, para facultar às pessoas a possibilidade de receberem o Papa, por certo um momento da maior importância nas suas vidas. Os acérrimos defensores do Estado laico gostariam, na verdade, que o Estado não fosse apenas laico, mas dificultasse, tanto quanto possível, qualquer medida de prática cultual que tenha expressão pública (gostariam que o Estado legislasse para uma sociedade laica, vá-se lá tentar perceber o que semelhante aberração conceptual quer dizer!). Isto, para um Estado, vale a pena sublinhar, onde a esmagadora maioria da sociedade professa a religião católica. Gostariam, em suma, que o Estado não fosse laico (um Estado idealmente - porque nunca o pode ser realmente - neutro em relação à confissão religiosa da maioria da nação, como a qualquer outra), mas o contrário do Estado laico: um Estado contra a prática religiosa dessa maioria. Gostariam, em suma, que o Estado e a sociedade fossem à imagem do que são. Mas não pode ser. Não seria sequer um Estado democrático em Portugal. E a sociedade não seria a portuguesa. De certeza que não seriam. Mas isso são detalhes que não os afligem.

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