O Cachimbo de Magritte: A propósito da morte do Deep Throat

29-05-2010
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O caso Watergate é apresentado como um exemplo de jornalismo de investigação: dois jornalistas novos, com o apoio de um editor competente denunciam um conjunto de actividades que provocam a queda do presidente dos EUA, e nunca revelam qual a sua fonte. A ideia que existe é que o objectivo, tanto do jornal como da fonte, era que fosse feita justiça.Ora bem, tudo isto é verdade, mas, a propósito da morte de Mark Felt, o Deep Throat do caso Watergate, George Friedman faz ver que a história só foi contada a meias, e que só foi possível percebê-la quando se soube que Felt era a fonte.Felt era o terceiro da hierarquia no FBI, nos tempos de Hoover (aquele que tinha um enorme poder sobre Washington, porque conhecia os podres da cidade). E quando Hoover morreu e o seu lugar-tenente saiu do FBI, Felt pensou que o lugar seria seu. Mas Nixon nomeou L. P. Grey director, um estranho à casa, para controlar melhor o Bureau. Mas Grey não conhecia o FBI, e por isso era Felt quem mandava. O FBI continuou com as práticas de Hoover, como se constata no Watergate: a espionagem à Casa Branca durou enquanto foi preciso para deitar abaixo o Presidente.A revelação de que Felt foi o Deep Throat mostra que o episódio lhe permitiu vingar-se do Presidente, mesmo que a sua primeira intenção fosse a justiça. Mas também mostra que, como o editor do The Washington Post sabia quem era a fonte, sabia que estava a ser manipulado. A protecção do anonimato da fonte levou a que não fossem os jornalistas a controlar o processo, no fundo, a que toda a investigação ao Watergate fosse uma manipulação. E levou a que uma notícia tão importante quanto informar que o FBI espiava a Presidência nunca fosse dada.O problema das “fugas de informação” programadas é actualíssimo. Os governos e as empresas utilizam-nas, as agências de comunicação trabalham com elas e os jornalistas também. O que é preocupante é pensar que, para se conhecer um facto relevante, vários outros nunca venham a ser sabidos.


O caso Watergate é apresentado como um exemplo de jornalismo de investigação: dois jornalistas novos, com o apoio de um editor competente denunciam um conjunto de actividades que provocam a queda do presidente dos EUA, e nunca revelam qual a sua fonte. A ideia que existe é que o objectivo, tanto do jornal como da fonte, era que fosse feita justiça.Ora bem, tudo isto é verdade, mas, a propósito da morte de Mark Felt, o Deep Throat do caso Watergate, George Friedman faz ver que a história só foi contada a meias, e que só foi possível percebê-la quando se soube que Felt era a fonte.Felt era o terceiro da hierarquia no FBI, nos tempos de Hoover (aquele que tinha um enorme poder sobre Washington, porque conhecia os podres da cidade). E quando Hoover morreu e o seu lugar-tenente saiu do FBI, Felt pensou que o lugar seria seu. Mas Nixon nomeou L. P. Grey director, um estranho à casa, para controlar melhor o Bureau. Mas Grey não conhecia o FBI, e por isso era Felt quem mandava. O FBI continuou com as práticas de Hoover, como se constata no Watergate: a espionagem à Casa Branca durou enquanto foi preciso para deitar abaixo o Presidente.A revelação de que Felt foi o Deep Throat mostra que o episódio lhe permitiu vingar-se do Presidente, mesmo que a sua primeira intenção fosse a justiça. Mas também mostra que, como o editor do The Washington Post sabia quem era a fonte, sabia que estava a ser manipulado. A protecção do anonimato da fonte levou a que não fossem os jornalistas a controlar o processo, no fundo, a que toda a investigação ao Watergate fosse uma manipulação. E levou a que uma notícia tão importante quanto informar que o FBI espiava a Presidência nunca fosse dada.O problema das “fugas de informação” programadas é actualíssimo. Os governos e as empresas utilizam-nas, as agências de comunicação trabalham com elas e os jornalistas também. O que é preocupante é pensar que, para se conhecer um facto relevante, vários outros nunca venham a ser sabidos.

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