antonio boronha: medalha de prata

22-12-2009
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O que perdemos (ou não) com a saída de ScolariIndependentemente de como terminar a carreira de Portugal no Euro 2008, o posterior abandono de Luís Felipe Scolari vai deixar Gilberto Madaíl metido num imbróglio difícil de resolver.O presidente da federação terá de encontrar um substituto credível a tempo dos jogos de apuramento para o Mundial 2010, sendo que o primeiro de Portugal é já a 6 de Setembro, em Malta. O mandato de Madaíl vai até Janeiro de 2011, mas dentro de alguns meses irão ocorrer eleições intercalares em resultado das alterações do regime jurídico das federações e da correspondente adaptação dos estatutos da FPF. Ora, numa recente (e polémica) entrevista ao PÚBLICO, Madaíl assumiu que, "se Deus quiser", não se recandidatará. Por isso, dever-se-ia colocar a hipótese de o processo ser apressado para permitir que o novo seleccionador já seja escolhido pelo novo presidente. A menos, claro, que Madaíl se torne um pouco mais agnóstico e, a exemplo de outras alturas, volte com a palavra atrás.Madaíl foi eleito pela primeira vez em 1996 e é o presidente com mais longevidade no cargo. Durante a sua liderança, a selecção atingiu seis fases finais (só falhou o Mundial 1998), três delas já com Scolari. Nesse período, Portugal somou nos europeus uma ida aos "quartos", outra às meias-finais e um segundo lugar, enquanto no último Mundial somou uma meritória quarta posição. O único falhanço (e aí foi ao comprido) aconteceu no Mundial 2002, onde aos maus resultados acrescentou um comportamento extra-desportivo vergonhoso.Foi exatactamente à custa do despedimento de António Oliveira e da contratação do treinador que se acabara de sagrar campeão do mundo que Madaíl logrou reunir condições mínimas para se aguentar no lugar. A partir daí, passou a tirar partido dos êxitos do brasileiro, o que até o terá ajudado a ganhar um lugar no Comité Executivo da UEFA - onde mantém a ambição de subir na hierarquia.Madaíl não tirou apenas partido de Scolari em termos de resultados. Com o argumento do feitio nada influenciável do seleccionador, o próprio presidente ficou, contra o que era habitual, mais à-vontade para resistir às solicitações do exterior (leia-se clubes "grandes"). E até a questão dos prémios, que tanta polémica criou noutras alturas, passou a ser um processo pacífico.Scolari soube ainda marcar um estilo e uma nova forma de liderança, funcionando com os jogadores como um patriarca, sempre pronto a defender o seu rebanho e a dar, de quando em vez, um puxão de orelhas a uma ovelha tresmalhada. Indirectamente, pode ainda dizer-se que Madaíl beneficiou da empatia que Scolari soube inteligentemente criar com a maioria dos portugueses (hoje percebe-se que o afastamento de Baía fez parte dessa estratégia), conseguindo uma adesão e um entusiasmo popular nunca visto no nosso país.Estes são os méritos, que até os mais críticos (grupo em que reconhecidamente nos integramos) sempre tributaram a Scolari. Porque os elogios aos resultados desportivos devem ser devidamente temperados. O segundo lugar no Euro 2004 beneficiou de um grupo de jogadores de qualidade extra e do estatuto de país anfitrião (o que antes nunca acontecera). E a final perdeu-se frente a uma selecção mediana como é a da Grécia, que logo falhou o apuramento para o Mundial e agora está a cair em desgraça na Áustria.Tacticamente, Scolari não trouxe nada de novo ao futebol português (e Mourinho tem toda a razão em questionar se uma equipa de minorcas devia defender HxH nas bolas paradas). Fez a renovação que se impunha e que qualquer outro teria feito, talvez até sem o imitar nalguns disparates (Maniche, pois claro, mas também Rui Patrício e Jorge Ribeiro, que, segundo uma reportagem do Record, só foi para servir de animador). Quem conhece as debilidades do futebol nacional sabe que Scolari não contribuiu em nada para as minorar. Aquando da guerra com Agostinho Oliveira, reclamou o estatuto de patrão das várias selecções, mas nunca foi chamado a responder pelos resultados das selecções jovens, que vão de mal a pior.Agora que ele está de partida, de certeza que estas ideias terão mais adeptos. O que também não é justo.(bruno prata, no 'público')


O que perdemos (ou não) com a saída de ScolariIndependentemente de como terminar a carreira de Portugal no Euro 2008, o posterior abandono de Luís Felipe Scolari vai deixar Gilberto Madaíl metido num imbróglio difícil de resolver.O presidente da federação terá de encontrar um substituto credível a tempo dos jogos de apuramento para o Mundial 2010, sendo que o primeiro de Portugal é já a 6 de Setembro, em Malta. O mandato de Madaíl vai até Janeiro de 2011, mas dentro de alguns meses irão ocorrer eleições intercalares em resultado das alterações do regime jurídico das federações e da correspondente adaptação dos estatutos da FPF. Ora, numa recente (e polémica) entrevista ao PÚBLICO, Madaíl assumiu que, "se Deus quiser", não se recandidatará. Por isso, dever-se-ia colocar a hipótese de o processo ser apressado para permitir que o novo seleccionador já seja escolhido pelo novo presidente. A menos, claro, que Madaíl se torne um pouco mais agnóstico e, a exemplo de outras alturas, volte com a palavra atrás.Madaíl foi eleito pela primeira vez em 1996 e é o presidente com mais longevidade no cargo. Durante a sua liderança, a selecção atingiu seis fases finais (só falhou o Mundial 1998), três delas já com Scolari. Nesse período, Portugal somou nos europeus uma ida aos "quartos", outra às meias-finais e um segundo lugar, enquanto no último Mundial somou uma meritória quarta posição. O único falhanço (e aí foi ao comprido) aconteceu no Mundial 2002, onde aos maus resultados acrescentou um comportamento extra-desportivo vergonhoso.Foi exatactamente à custa do despedimento de António Oliveira e da contratação do treinador que se acabara de sagrar campeão do mundo que Madaíl logrou reunir condições mínimas para se aguentar no lugar. A partir daí, passou a tirar partido dos êxitos do brasileiro, o que até o terá ajudado a ganhar um lugar no Comité Executivo da UEFA - onde mantém a ambição de subir na hierarquia.Madaíl não tirou apenas partido de Scolari em termos de resultados. Com o argumento do feitio nada influenciável do seleccionador, o próprio presidente ficou, contra o que era habitual, mais à-vontade para resistir às solicitações do exterior (leia-se clubes "grandes"). E até a questão dos prémios, que tanta polémica criou noutras alturas, passou a ser um processo pacífico.Scolari soube ainda marcar um estilo e uma nova forma de liderança, funcionando com os jogadores como um patriarca, sempre pronto a defender o seu rebanho e a dar, de quando em vez, um puxão de orelhas a uma ovelha tresmalhada. Indirectamente, pode ainda dizer-se que Madaíl beneficiou da empatia que Scolari soube inteligentemente criar com a maioria dos portugueses (hoje percebe-se que o afastamento de Baía fez parte dessa estratégia), conseguindo uma adesão e um entusiasmo popular nunca visto no nosso país.Estes são os méritos, que até os mais críticos (grupo em que reconhecidamente nos integramos) sempre tributaram a Scolari. Porque os elogios aos resultados desportivos devem ser devidamente temperados. O segundo lugar no Euro 2004 beneficiou de um grupo de jogadores de qualidade extra e do estatuto de país anfitrião (o que antes nunca acontecera). E a final perdeu-se frente a uma selecção mediana como é a da Grécia, que logo falhou o apuramento para o Mundial e agora está a cair em desgraça na Áustria.Tacticamente, Scolari não trouxe nada de novo ao futebol português (e Mourinho tem toda a razão em questionar se uma equipa de minorcas devia defender HxH nas bolas paradas). Fez a renovação que se impunha e que qualquer outro teria feito, talvez até sem o imitar nalguns disparates (Maniche, pois claro, mas também Rui Patrício e Jorge Ribeiro, que, segundo uma reportagem do Record, só foi para servir de animador). Quem conhece as debilidades do futebol nacional sabe que Scolari não contribuiu em nada para as minorar. Aquando da guerra com Agostinho Oliveira, reclamou o estatuto de patrão das várias selecções, mas nunca foi chamado a responder pelos resultados das selecções jovens, que vão de mal a pior.Agora que ele está de partida, de certeza que estas ideias terão mais adeptos. O que também não é justo.(bruno prata, no 'público')

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