gravidade intermedia: ora bolas

03-08-2010
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Não me parece que Maradona, Low, Dunga, Lippi, Van Marwijk, Del Bosque, Erickson, Capello, Tabarez, Bielsa, Aguirre, Rehhagel, Olsen, Antic e Le Guen sejam ou tenham sido responsáveis pela política de formação das federações de futebol dos países cujas selecções principais chefiam ou chefiaram.Também, no seu tempo, Bearzot, Zagalo, Bilardo, Menotti, Carlos Alberto Silva, Klinsmann, Beckenbauer (e Vogts, embora este tenha passado antes pelas selecções jovens, o que não retira nada ao que afirmo), Trapattoni, Aragones, Hiddink, Houllier, Jacquet, Humberto Coelho, Hidalgo, Parreira, se limitaram a fazer o seu serviço: gerir selecções nacionais A.Scolari fez o mesmo, penso que Mourinho ou Jesus, se chegar a sua vez, o mesmo farão.Alguns destes treinadores foram campeões mundiais, europeus, sul-americanos. Ganharam títulos. Outros não. Mas foram e são todos, "apenas", seleccionadores nacionais. A formação é com os formadores. A eles, aos seleccionadores, pedem-lhes que ganhem jogos.O que quero dizer é que não me parece que Luís Freitas Lobo, que é um tipo que até percebe de futebol (mas que, no entanto, se limita a verberar a utilização de Pepe como médio defensivo pelo facto de "assim defendemos com um bloco baixo, porque ele encosta-se aos centrais", esquecendo-se de referir coisas mais óbvias, como a incapacidade do Pepe para fazer dois primeiros passes seguidos em condições e a falta de competência desta selecção portuguesa para pressionar alto sem correr o risco de levar com raids homicidas em contra-ataque), e algumas outras pessoas que não percebem tanto da bola mas também apreciam emitir a sua bitaitada, tenham razão quando defendem o "projecto Carlos Queirós" baseando essa defesa, sobretudo, no sucesso das nossas selecções jovens no final da década de 80 e no início dos anos 90. Não beliscando a capacidade que Carlos Queirós parece ter para organizar coisas, mesmo nessa altura os nossos êxitos (Riad e Lisboa) se deveram mais à capacidade formativa dos clubes e à possibilidade (e ao mérito) que Queirós teve de juntar o produto dessa capacidade em múltiplos e prolongados estágios de preparação, do que à mera e essencial orientação futebolística ao alcance do "mister".Por outro lado, está longe de ter sido demonstrado que o êxito das selecções jovens se traduza, de maneira quase inevitável, num ganho futuro e complementar da selecção principal. Quantas internacionalizações A têm (e que notoriedade especial conseguiram nas que tiveram) Brassard, Abel, Tó Zé, Filipe, Paulo Torres, Capucho, Gil, Paulo Alves, Bizarro, Peixe, Morgado, Valido, Madeira, Hélio, Resende, Amaral, Jorge Couto, Folha, Cao, Nélson, Rui Bento, Tulipa, Toni, Luís Miguel, entre outros heróis de 1989 e 1991? Pois é, muito poucas. Não me esqueci, evidentemente, de Fernando Couto, Jorge Costa, Paulo Sousa, João Pinto, Luís Figo, Rui Costa e Vítor Baía. Mas não esqueço, também, que a maior parte da tarimba de Couto se fez em Famalicão e no Porto, que a do Rui Costa se fez em Fafe e no Benfica, que a do Figo decorreu em Alvalade e no Barcelona, a do Paulo Sousa no Benfica, a do João Pinto no Boavista e a dos restantes onde os senhores bem sabem. Boa safra? Pois foi, oxalá venhamos a ter outra, que essa já findou.Como Queirós parece, e eu acredito, talhado para organizar bem coisas, muito apreciaria que lhe fosse entregue (apenas - e já não é pouco) a responsabilidade absoluta do trabalho de formação da FPF. O cismático professor observaria, mediria, registaria, analisaria, sintetizaria e executaria a seu bel-prazer tudo o que lhe aprouvesse. E, se tivesse a sorte de lhe aparecerem jogadores com talento - e se ele os identificasse, já agora - para complementar a sua capacidade de extrair coisas boas de jovens aplicados, talvez surgissem bons, ou mesmo muito bons, resultados.Como seleccionador A é que nunca me pareceu boa escolha. Uma coisa é gerir futebolistas em início de carreira, outra é orientar jogadores de primeiro plano, habituados a outros rigores e a outros saberes - e com egos coruscantes. Para conseguir fazer isso, faltam-lhe muitas coisas, sendo que a capacidade não é a menor delas. O Luís Freitas Lobo defende que prefere dissecar estruturas a discutir conjunturas. Diz ele que todos os treinadores cometem erros e que se recusa a julgar o "projecto Queirós" pelas asneiras que ele vai fazendo. Aprecia o professor pelas mesmas qualidades que eu também sou capaz de lhe ver, mas acaba por lhe perdoar (e isso é que é estranho) aquilo que dificilmente desculpa a outros treinadores: a quase absoluta incapacidade de transmitir segurança aos jogadores, a confusão táctica que lhe vai na cabeça e que acaba por contagiar os comandados, a inépcia que revela na leitura dos jogos (parece sempre que está a ver um jogo diferente dos demais, como se houvesse sempre "o jogo dele" e "o jogo que está de facto a ser disputado"), o absurdo que costuma presidir às suas substituições (aparentemente pre-definidas, por vezes) e a falta de "alma" que revela no banco (no balneário não sei, deve ser parecido). A mim chateia-me que o Luís Freitas Lobo não veja isto. Aliás, penso que vê. Mas não apreciava Scolari, de maneira que cedo meteu a cabeça no cepo pela sua ideia de "novo projecto global para o futebol português, by Queirós". O problema é que não se faz assim em lado nenhum, um seleccionador A não se quer para elaborar fluxogramas estruturais e estruturantes, nem para analisar dados estatísticos - para isso há outras pessoas - e deve ter, mesmo, quando for preciso, a capacidade de se sobrepor ao peso da "estrutura" já criada que lhe fica a montante e que vai, do ponto de vista técnico, comandar.


Não me parece que Maradona, Low, Dunga, Lippi, Van Marwijk, Del Bosque, Erickson, Capello, Tabarez, Bielsa, Aguirre, Rehhagel, Olsen, Antic e Le Guen sejam ou tenham sido responsáveis pela política de formação das federações de futebol dos países cujas selecções principais chefiam ou chefiaram.Também, no seu tempo, Bearzot, Zagalo, Bilardo, Menotti, Carlos Alberto Silva, Klinsmann, Beckenbauer (e Vogts, embora este tenha passado antes pelas selecções jovens, o que não retira nada ao que afirmo), Trapattoni, Aragones, Hiddink, Houllier, Jacquet, Humberto Coelho, Hidalgo, Parreira, se limitaram a fazer o seu serviço: gerir selecções nacionais A.Scolari fez o mesmo, penso que Mourinho ou Jesus, se chegar a sua vez, o mesmo farão.Alguns destes treinadores foram campeões mundiais, europeus, sul-americanos. Ganharam títulos. Outros não. Mas foram e são todos, "apenas", seleccionadores nacionais. A formação é com os formadores. A eles, aos seleccionadores, pedem-lhes que ganhem jogos.O que quero dizer é que não me parece que Luís Freitas Lobo, que é um tipo que até percebe de futebol (mas que, no entanto, se limita a verberar a utilização de Pepe como médio defensivo pelo facto de "assim defendemos com um bloco baixo, porque ele encosta-se aos centrais", esquecendo-se de referir coisas mais óbvias, como a incapacidade do Pepe para fazer dois primeiros passes seguidos em condições e a falta de competência desta selecção portuguesa para pressionar alto sem correr o risco de levar com raids homicidas em contra-ataque), e algumas outras pessoas que não percebem tanto da bola mas também apreciam emitir a sua bitaitada, tenham razão quando defendem o "projecto Carlos Queirós" baseando essa defesa, sobretudo, no sucesso das nossas selecções jovens no final da década de 80 e no início dos anos 90. Não beliscando a capacidade que Carlos Queirós parece ter para organizar coisas, mesmo nessa altura os nossos êxitos (Riad e Lisboa) se deveram mais à capacidade formativa dos clubes e à possibilidade (e ao mérito) que Queirós teve de juntar o produto dessa capacidade em múltiplos e prolongados estágios de preparação, do que à mera e essencial orientação futebolística ao alcance do "mister".Por outro lado, está longe de ter sido demonstrado que o êxito das selecções jovens se traduza, de maneira quase inevitável, num ganho futuro e complementar da selecção principal. Quantas internacionalizações A têm (e que notoriedade especial conseguiram nas que tiveram) Brassard, Abel, Tó Zé, Filipe, Paulo Torres, Capucho, Gil, Paulo Alves, Bizarro, Peixe, Morgado, Valido, Madeira, Hélio, Resende, Amaral, Jorge Couto, Folha, Cao, Nélson, Rui Bento, Tulipa, Toni, Luís Miguel, entre outros heróis de 1989 e 1991? Pois é, muito poucas. Não me esqueci, evidentemente, de Fernando Couto, Jorge Costa, Paulo Sousa, João Pinto, Luís Figo, Rui Costa e Vítor Baía. Mas não esqueço, também, que a maior parte da tarimba de Couto se fez em Famalicão e no Porto, que a do Rui Costa se fez em Fafe e no Benfica, que a do Figo decorreu em Alvalade e no Barcelona, a do Paulo Sousa no Benfica, a do João Pinto no Boavista e a dos restantes onde os senhores bem sabem. Boa safra? Pois foi, oxalá venhamos a ter outra, que essa já findou.Como Queirós parece, e eu acredito, talhado para organizar bem coisas, muito apreciaria que lhe fosse entregue (apenas - e já não é pouco) a responsabilidade absoluta do trabalho de formação da FPF. O cismático professor observaria, mediria, registaria, analisaria, sintetizaria e executaria a seu bel-prazer tudo o que lhe aprouvesse. E, se tivesse a sorte de lhe aparecerem jogadores com talento - e se ele os identificasse, já agora - para complementar a sua capacidade de extrair coisas boas de jovens aplicados, talvez surgissem bons, ou mesmo muito bons, resultados.Como seleccionador A é que nunca me pareceu boa escolha. Uma coisa é gerir futebolistas em início de carreira, outra é orientar jogadores de primeiro plano, habituados a outros rigores e a outros saberes - e com egos coruscantes. Para conseguir fazer isso, faltam-lhe muitas coisas, sendo que a capacidade não é a menor delas. O Luís Freitas Lobo defende que prefere dissecar estruturas a discutir conjunturas. Diz ele que todos os treinadores cometem erros e que se recusa a julgar o "projecto Queirós" pelas asneiras que ele vai fazendo. Aprecia o professor pelas mesmas qualidades que eu também sou capaz de lhe ver, mas acaba por lhe perdoar (e isso é que é estranho) aquilo que dificilmente desculpa a outros treinadores: a quase absoluta incapacidade de transmitir segurança aos jogadores, a confusão táctica que lhe vai na cabeça e que acaba por contagiar os comandados, a inépcia que revela na leitura dos jogos (parece sempre que está a ver um jogo diferente dos demais, como se houvesse sempre "o jogo dele" e "o jogo que está de facto a ser disputado"), o absurdo que costuma presidir às suas substituições (aparentemente pre-definidas, por vezes) e a falta de "alma" que revela no banco (no balneário não sei, deve ser parecido). A mim chateia-me que o Luís Freitas Lobo não veja isto. Aliás, penso que vê. Mas não apreciava Scolari, de maneira que cedo meteu a cabeça no cepo pela sua ideia de "novo projecto global para o futebol português, by Queirós". O problema é que não se faz assim em lado nenhum, um seleccionador A não se quer para elaborar fluxogramas estruturais e estruturantes, nem para analisar dados estatísticos - para isso há outras pessoas - e deve ter, mesmo, quando for preciso, a capacidade de se sobrepor ao peso da "estrutura" já criada que lhe fica a montante e que vai, do ponto de vista técnico, comandar.

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