O Cachimbo de Magritte: Quizz: serei de esquerda? (work in progress)

23-05-2011
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(Clique em cima da crise de identidade para ver melhor)Serei de esquerda? – perguntará um improvável leitor deste blogue mal afamado. Resolvi ajudá-lo perante a dúvida lancinante. Não sem me meter em árduos trabalhos.O problema está em que a esquerda, com a morte (sinais sérios de desfalecimento pelos anos 30, acelerou-se a doença pelos 50 e 60, e foi a enterrar em 1989) do comunismo, tornou-se um ente de difícil definição por compreensão; salvo o amor ilimitado pela humanidade, que estará na sua matriz genética, datum que, em si mesmo, a confirmar-se a existência, seria desprovido de significado político (quer dizer, é pelo menos radicalmente inaparente), procurar-lhe uma característica e identificá-la por um sistema de «gestos» (ler Agamben, sff.) coerentes é uma tarefa que cinco minutos de esforço extenuante me convenceram tratar-se de uma missão impossível.Assim, optei pelo método da definição por extensão. As proposições que se seguem são uma lista avulsa de algumas das «posições» que são muito comuns aos entes de esquerda à entrada da segunda década do século XXI. Não precisa de as subscrever todas; mesmo porque, verá, se subscrever uma multiplazinha (duas seguidas, por exemplo), é muito provável que subscreva uma grande quantidade, talvez mesmo a maioria, senão a totalidade. Isto não é um sistema, como disse, mas tem um pouco a estrutura do cacho: puxa uma e caem várias. A partir da segunda pode estar quase certo e comunicar ao seu ente mais querido: «sou um ente (estou a evitar a armadilha do género) de esquerda».- Diabolizo os mercados financeiros;- Advogo um Estado que vive estruturalmente da emissão de dívida;- Sou contra a discriminação dos gays;- Flirto com o islamismo (que criminaliza os de cima);- Sou absolutamente relativista;- Julgo que a cultura europeia é irremediavelmente branca, falocêntrica e, portanto, racista, sexista (não sobrevive à desconstrução);- Sou feminista sem concessões;- Defendo a burka e o niqab;- Tenho uma visão da história completamente a-histórica: o pecado irremissível do homem branco, para resumir;- Considero que o comunismo cometeu alguns excessos, mas é preciso contextualizá-los (no fundo, sou um comunista hormonal);- Tenho pavor a qualquer veleidade de existência pública de vida religiosa;- Oponho-me a qualquer limitação da prática do islamismo (islamofobia!);- Sou pela autodeterminação dos povos;- Oponho-me (mesmo que muitas vezes evite dizê-lo, é uma questão táctica...) à existência de Israel (os judeus nunca existiram e, portanto, não têm nada que se autodeterminar);- Sou, em geral, pacifista;- Compreendo o terrorismo (é preciso estudar as suas causas profundas);- Converti-me à democracia (liberal? Burguesa?), mas sem exageros;- Chavez, Morales, Lula e as suas amizades com torcionários são tudo casos que se «compreendem» muito bem;- Gosto de Obama; de Paul Krugman (é um bloguer fantástico!), de Stieglitz (alternativamente: de Michael Moore, Noam Chomsky e outros génios assim);- Só a menção da palavra «América» dá-me brotoeja;E, por fim,- Sou a favor da liberalização das drogas;- Oponho-me ao sal no pão, às bolas de Berlim na praia, à ginginha no Rossio, e outras javardices populares do género.Se se «posicionou» (linda palavra) bem em todas as proposições supra, tem direito a este belo par de keffiyeh Balenciaga. Não são da última colecção, mas são de boa vontade.


(Clique em cima da crise de identidade para ver melhor)Serei de esquerda? – perguntará um improvável leitor deste blogue mal afamado. Resolvi ajudá-lo perante a dúvida lancinante. Não sem me meter em árduos trabalhos.O problema está em que a esquerda, com a morte (sinais sérios de desfalecimento pelos anos 30, acelerou-se a doença pelos 50 e 60, e foi a enterrar em 1989) do comunismo, tornou-se um ente de difícil definição por compreensão; salvo o amor ilimitado pela humanidade, que estará na sua matriz genética, datum que, em si mesmo, a confirmar-se a existência, seria desprovido de significado político (quer dizer, é pelo menos radicalmente inaparente), procurar-lhe uma característica e identificá-la por um sistema de «gestos» (ler Agamben, sff.) coerentes é uma tarefa que cinco minutos de esforço extenuante me convenceram tratar-se de uma missão impossível.Assim, optei pelo método da definição por extensão. As proposições que se seguem são uma lista avulsa de algumas das «posições» que são muito comuns aos entes de esquerda à entrada da segunda década do século XXI. Não precisa de as subscrever todas; mesmo porque, verá, se subscrever uma multiplazinha (duas seguidas, por exemplo), é muito provável que subscreva uma grande quantidade, talvez mesmo a maioria, senão a totalidade. Isto não é um sistema, como disse, mas tem um pouco a estrutura do cacho: puxa uma e caem várias. A partir da segunda pode estar quase certo e comunicar ao seu ente mais querido: «sou um ente (estou a evitar a armadilha do género) de esquerda».- Diabolizo os mercados financeiros;- Advogo um Estado que vive estruturalmente da emissão de dívida;- Sou contra a discriminação dos gays;- Flirto com o islamismo (que criminaliza os de cima);- Sou absolutamente relativista;- Julgo que a cultura europeia é irremediavelmente branca, falocêntrica e, portanto, racista, sexista (não sobrevive à desconstrução);- Sou feminista sem concessões;- Defendo a burka e o niqab;- Tenho uma visão da história completamente a-histórica: o pecado irremissível do homem branco, para resumir;- Considero que o comunismo cometeu alguns excessos, mas é preciso contextualizá-los (no fundo, sou um comunista hormonal);- Tenho pavor a qualquer veleidade de existência pública de vida religiosa;- Oponho-me a qualquer limitação da prática do islamismo (islamofobia!);- Sou pela autodeterminação dos povos;- Oponho-me (mesmo que muitas vezes evite dizê-lo, é uma questão táctica...) à existência de Israel (os judeus nunca existiram e, portanto, não têm nada que se autodeterminar);- Sou, em geral, pacifista;- Compreendo o terrorismo (é preciso estudar as suas causas profundas);- Converti-me à democracia (liberal? Burguesa?), mas sem exageros;- Chavez, Morales, Lula e as suas amizades com torcionários são tudo casos que se «compreendem» muito bem;- Gosto de Obama; de Paul Krugman (é um bloguer fantástico!), de Stieglitz (alternativamente: de Michael Moore, Noam Chomsky e outros génios assim);- Só a menção da palavra «América» dá-me brotoeja;E, por fim,- Sou a favor da liberalização das drogas;- Oponho-me ao sal no pão, às bolas de Berlim na praia, à ginginha no Rossio, e outras javardices populares do género.Se se «posicionou» (linda palavra) bem em todas as proposições supra, tem direito a este belo par de keffiyeh Balenciaga. Não são da última colecção, mas são de boa vontade.

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