Povo de Bahá: Os Media e o tratamento do Fenómeno Religioso (3)

19-12-2009
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O que se segue são os meus apontamentos da intervenção de António Marujo numa mesa redonda dedicada ao tema "Os Media e o tratamento do Fenómeno Religioso", realizada durante o colóquio "A Religião fora dos Templos". Tratam-se de apontamentos pessoais que podem não representar fielmente as palavras deste jornalista.------------------------------António MarujoComo é que as religiões olham os media?Nos últimos anos, alguns media passaram a ter uma atitude mais profissional em relação às religiões; simultaneamente as religiões também se abriram mais aos media. Mas o jornalismo português ainda revela muito preconceito e ignorância em relação à religião; e as religiões também mostram desconfiança em relação aos media.O jornalismo talvez já não seja o 4º Poder; o jornalismo português é crítico em relação ao poder político, mas não é igualmente crítico em relação ao poder económico ou ao poder do dirigismo desportivo. Hoje temos claramente uma menor capacidade crítica.Há acontecimentos que por serem religiosos têm menor peso nos media. Mas também não existe um equilíbrio na atenção dada aos acontecimentos religiosos. Por exemplo, a cobertura dada à morte do Papa João Paulo II foi claramente excessiva; em contrapartida, a primeira visita oficial de Bento XVI (a Colónia), quando existia uma grande expectativa sobre o novo Papa, foi quase ignorada pelos media portugueses; e, no entanto, essa visita foi acompanhada por mais de 7000 jornalistas estrangeiros (e apenas 2 portugueses).Qualquer acontecimento tem a sua relevância, independentemente de ser religioso ou não. Quando um Bispo ou o Papa diz que é contra o aborto, tocam as campainhas de alarme nas redacções será que isto ainda é notícia? Mas as posições de João Paulo II sobre a guerra no Iraque foram quase ignoradas, assim como as posições de Bento XVI sobre as crises nucleares na Coreia do Norte e no Irão.Temos um jornalismo muito mimetista; por vezes vamos atrás de propaganda sem darmos conta disso. Veja-se por exemplo a campanha de promoção de um livro sobre a morte de João Paulo I. As redacções foram inundadas com emails e faxes que anunciavam que faltavam x dias para a revelação de um segredo. E quando o livro foi publicado, muitos jornalistas deram-lhe um relevância excessiva.A exposição de Amadeu Sousa Cardoso na Gulbenkian teve uma enorme cobertura e divulgação nos media; Mas uma exposição de arte sacra com maior duração e igual número de visitantes é praticamente ignoradaO 11 de Setembro fez aumentar a curiosidade sobre o Islão. Houve uma revista que fez um dossier especial sobre o Islão. Este continha variadas análises sociais, políticas, geo-estratégicas... e nem uma análise religiosa do islão.Ao construirmos o relato de um evento estamos a condicionar acontecimentos. Exemplo: pouco depois de Bento XVI ter concluído a sua viagem a Auschwitz, a AFP publicou um texto em que num parágrafo se dava conta do desagrado de “várias fontes judaicas” pelo facto do Papa ter referido os “seis milhões de polacos mortos durante a guerra” sem que tivesse mencionado que desses seis milhões, metade eram judeus. Essa parágrafo causou polémica e suscitou variadíssimos comentários. Mais tarde veio-se a saber que afinal as “várias fontes judaicas” eram apenas o grão-rabino da Polónia que tinha dito que estava emocionado com as palavras do Papa, apesar de pensar que ele podia ter ido ainda mais longe nas suas afirmações.A religião (seja fenómeno ou opinião de uma pessoa/instituição) não deve estar isenta de críticas. Já lá vai o tempo em que as religiões controlavam opiniões e comportamentos da opinião pública.A internet e os blogs têm sido factores de mudança no jornalismo. É possível encontrar interessantes iniciativas individuais feitas fora da alçada das hierarquias religiosas


O que se segue são os meus apontamentos da intervenção de António Marujo numa mesa redonda dedicada ao tema "Os Media e o tratamento do Fenómeno Religioso", realizada durante o colóquio "A Religião fora dos Templos". Tratam-se de apontamentos pessoais que podem não representar fielmente as palavras deste jornalista.------------------------------António MarujoComo é que as religiões olham os media?Nos últimos anos, alguns media passaram a ter uma atitude mais profissional em relação às religiões; simultaneamente as religiões também se abriram mais aos media. Mas o jornalismo português ainda revela muito preconceito e ignorância em relação à religião; e as religiões também mostram desconfiança em relação aos media.O jornalismo talvez já não seja o 4º Poder; o jornalismo português é crítico em relação ao poder político, mas não é igualmente crítico em relação ao poder económico ou ao poder do dirigismo desportivo. Hoje temos claramente uma menor capacidade crítica.Há acontecimentos que por serem religiosos têm menor peso nos media. Mas também não existe um equilíbrio na atenção dada aos acontecimentos religiosos. Por exemplo, a cobertura dada à morte do Papa João Paulo II foi claramente excessiva; em contrapartida, a primeira visita oficial de Bento XVI (a Colónia), quando existia uma grande expectativa sobre o novo Papa, foi quase ignorada pelos media portugueses; e, no entanto, essa visita foi acompanhada por mais de 7000 jornalistas estrangeiros (e apenas 2 portugueses).Qualquer acontecimento tem a sua relevância, independentemente de ser religioso ou não. Quando um Bispo ou o Papa diz que é contra o aborto, tocam as campainhas de alarme nas redacções será que isto ainda é notícia? Mas as posições de João Paulo II sobre a guerra no Iraque foram quase ignoradas, assim como as posições de Bento XVI sobre as crises nucleares na Coreia do Norte e no Irão.Temos um jornalismo muito mimetista; por vezes vamos atrás de propaganda sem darmos conta disso. Veja-se por exemplo a campanha de promoção de um livro sobre a morte de João Paulo I. As redacções foram inundadas com emails e faxes que anunciavam que faltavam x dias para a revelação de um segredo. E quando o livro foi publicado, muitos jornalistas deram-lhe um relevância excessiva.A exposição de Amadeu Sousa Cardoso na Gulbenkian teve uma enorme cobertura e divulgação nos media; Mas uma exposição de arte sacra com maior duração e igual número de visitantes é praticamente ignoradaO 11 de Setembro fez aumentar a curiosidade sobre o Islão. Houve uma revista que fez um dossier especial sobre o Islão. Este continha variadas análises sociais, políticas, geo-estratégicas... e nem uma análise religiosa do islão.Ao construirmos o relato de um evento estamos a condicionar acontecimentos. Exemplo: pouco depois de Bento XVI ter concluído a sua viagem a Auschwitz, a AFP publicou um texto em que num parágrafo se dava conta do desagrado de “várias fontes judaicas” pelo facto do Papa ter referido os “seis milhões de polacos mortos durante a guerra” sem que tivesse mencionado que desses seis milhões, metade eram judeus. Essa parágrafo causou polémica e suscitou variadíssimos comentários. Mais tarde veio-se a saber que afinal as “várias fontes judaicas” eram apenas o grão-rabino da Polónia que tinha dito que estava emocionado com as palavras do Papa, apesar de pensar que ele podia ter ido ainda mais longe nas suas afirmações.A religião (seja fenómeno ou opinião de uma pessoa/instituição) não deve estar isenta de críticas. Já lá vai o tempo em que as religiões controlavam opiniões e comportamentos da opinião pública.A internet e os blogs têm sido factores de mudança no jornalismo. É possível encontrar interessantes iniciativas individuais feitas fora da alçada das hierarquias religiosas

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