Ser Monárquico e votar MRPP (2)O meu depoimento com o título "Ser Monárquico e votar MRPP" gerou dois comentários, ambos de anónimos. Não se percebe bem a insistência de algumas pessoas em se esconder atrás do anonimato ou de pseudónimos quando o que está em causa é um diálogo sobre questões doutrinais. Para não falar do facto de que esse anonimato encoraja o péssimo hábito de agredir aqueles com quem não concordamos. Além disso, as mais básicas normas de educação impõem que se declare o nome antes de iniciar uma polémica com alguém devidamente identificado. Mas enfim, deve ser mais um sinal dos tempos...Devo esclarecer que o meu anterior depoimento continha duas vertentes: uma de esclarecimento relativamente ao apoio dado ao Dr. Garcia Pereira, e outra de afirmação doutrinária. No que diz respeito à primeira, ao reconhecer que o Dr. Garcia Pereira é uma pessoa que manifesta preocupações sociais parecidas com as minhas, embora partindo de pressupostos ideológicos distintos dos meus, não tinha de me preocupar com o facto dele ser ou não anti-católico ou anti-monárquico para o apoiar ou deixar de o apoiar. Face a um painel de alternativas incapazes de promover a justiça social e a integração económica e social de todos os portugueses, não tive qualquer dúvida em apoiar uma pessoa que já demonstrou colocar os princípios acima dos oportunismos, e cujo programa eleitoral estava todo virado para as questões económicas e sociais referidas. Tivesse ele sido eleito e teríamos tido na AR uma voz de denúncia de todas as hipocrisias da direita, do centro e da esquerda parlamentares, uma voz de defesa dos mais necessitados da nossa comunidade.Criticou o Corcunda o ter-me colocado ao lado da ditadura do proletariado, enquanto ele, Corcunda, se colocou ao lado "das forças que defendem a identidade cristã de Portugal". Gostaria de saber que "forças" são essas, e qual a sua identificação político-partidária, para melhor poder reagir. Sobretudo gostaria de saber como é que essas "forças" se propõem combater a exclusão social. Se é pela manutenção do modelo capitalista liberal, estamos conversados.Depois pergunta como posso eu "defender um movimento abortista". Fui apressadamente reler o programa eleitoral do partido do Dr. Garcia Pereira, e não encontrei lá qualquer referência ao aborto. Admito que ele tenha uma posição pessoal permissiva quanto ao aborto, mas não a transformou em proposta eleitoral. Logo, não há problema.A crítica seguinte tem a haver com os direitos dos pobres e com o direito de propriedade - sendo eu culpado de defender excessivamente os primeiros, e de condenar excessivamente o segundo. Aqui não preciso da ideologia do PCTP para nada. É a própria Igreja e o Papa João Paulo II que frontalmente fazem uma opção pelos mais pobres, e claramente afirmam o carácter condicional do direito de propriedade. Não vou desperdiçar aqui espaço a citar as encíclicas papais e este respeito, limitando-me a aconselhar o Corcunda que as leia. Infelizmente, não são poucos os ditos católicos que preferem fazer orelhas moucas às insistentes declarações papais sobre o assunto.Depois parece que o Corcunda acha que a caridade existe para resolver o problema da pobreza. Mas engana-se. A caridade não beneficia o pobre, beneficia moralmente o que sinceramente a pratica. O pobre, como qualquer outra pessoa, não pode aceitar que a benesse arbitrária e voluntária se substitua aos seus direitos. Todos temos direito à dignidade, a qual passa também pelo acesso a um mínimo de bens materiais. Tentar substituir um direito por uma esmola é indigno e perverso. A este respeito diz ainda o Corcunda que a "dignidade está no espírito e não nas posses". Mas tente o Corcunda preservar a sua dignidade na miséria, na fome, na falta de cuidados médicos básicos, no abandono na velhice, reduzido a defecar na cama porque está inválido e não tem quem o acompanhe, e verá como o espírito não chega. Mas não há como não ter problemas materiais desta natureza para desvalorizar a sua importância. Faz-me lembrar uma frase terrível que era costume usar, há umas décadas atrás, quando um pobre nos pedia esmola e nós não nos apetecia dar nada na altura, e dizíamos: "Tenha paciência...". O Corcunda acha que os pobres devem ter paciência e deixar-se de reivindicações de inspiração marxista...Podia terminar fazendo referência à soberba do Corcunda, que se arroga o direito, do alto da sua imensa sabedoria, de corrigir os tontinhos e ignorantes como eu... Mas não vale a pena...Nuno Cardoso da Silva
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Ser Monárquico e votar MRPP (2)O meu depoimento com o título "Ser Monárquico e votar MRPP" gerou dois comentários, ambos de anónimos. Não se percebe bem a insistência de algumas pessoas em se esconder atrás do anonimato ou de pseudónimos quando o que está em causa é um diálogo sobre questões doutrinais. Para não falar do facto de que esse anonimato encoraja o péssimo hábito de agredir aqueles com quem não concordamos. Além disso, as mais básicas normas de educação impõem que se declare o nome antes de iniciar uma polémica com alguém devidamente identificado. Mas enfim, deve ser mais um sinal dos tempos...Devo esclarecer que o meu anterior depoimento continha duas vertentes: uma de esclarecimento relativamente ao apoio dado ao Dr. Garcia Pereira, e outra de afirmação doutrinária. No que diz respeito à primeira, ao reconhecer que o Dr. Garcia Pereira é uma pessoa que manifesta preocupações sociais parecidas com as minhas, embora partindo de pressupostos ideológicos distintos dos meus, não tinha de me preocupar com o facto dele ser ou não anti-católico ou anti-monárquico para o apoiar ou deixar de o apoiar. Face a um painel de alternativas incapazes de promover a justiça social e a integração económica e social de todos os portugueses, não tive qualquer dúvida em apoiar uma pessoa que já demonstrou colocar os princípios acima dos oportunismos, e cujo programa eleitoral estava todo virado para as questões económicas e sociais referidas. Tivesse ele sido eleito e teríamos tido na AR uma voz de denúncia de todas as hipocrisias da direita, do centro e da esquerda parlamentares, uma voz de defesa dos mais necessitados da nossa comunidade.Criticou o Corcunda o ter-me colocado ao lado da ditadura do proletariado, enquanto ele, Corcunda, se colocou ao lado "das forças que defendem a identidade cristã de Portugal". Gostaria de saber que "forças" são essas, e qual a sua identificação político-partidária, para melhor poder reagir. Sobretudo gostaria de saber como é que essas "forças" se propõem combater a exclusão social. Se é pela manutenção do modelo capitalista liberal, estamos conversados.Depois pergunta como posso eu "defender um movimento abortista". Fui apressadamente reler o programa eleitoral do partido do Dr. Garcia Pereira, e não encontrei lá qualquer referência ao aborto. Admito que ele tenha uma posição pessoal permissiva quanto ao aborto, mas não a transformou em proposta eleitoral. Logo, não há problema.A crítica seguinte tem a haver com os direitos dos pobres e com o direito de propriedade - sendo eu culpado de defender excessivamente os primeiros, e de condenar excessivamente o segundo. Aqui não preciso da ideologia do PCTP para nada. É a própria Igreja e o Papa João Paulo II que frontalmente fazem uma opção pelos mais pobres, e claramente afirmam o carácter condicional do direito de propriedade. Não vou desperdiçar aqui espaço a citar as encíclicas papais e este respeito, limitando-me a aconselhar o Corcunda que as leia. Infelizmente, não são poucos os ditos católicos que preferem fazer orelhas moucas às insistentes declarações papais sobre o assunto.Depois parece que o Corcunda acha que a caridade existe para resolver o problema da pobreza. Mas engana-se. A caridade não beneficia o pobre, beneficia moralmente o que sinceramente a pratica. O pobre, como qualquer outra pessoa, não pode aceitar que a benesse arbitrária e voluntária se substitua aos seus direitos. Todos temos direito à dignidade, a qual passa também pelo acesso a um mínimo de bens materiais. Tentar substituir um direito por uma esmola é indigno e perverso. A este respeito diz ainda o Corcunda que a "dignidade está no espírito e não nas posses". Mas tente o Corcunda preservar a sua dignidade na miséria, na fome, na falta de cuidados médicos básicos, no abandono na velhice, reduzido a defecar na cama porque está inválido e não tem quem o acompanhe, e verá como o espírito não chega. Mas não há como não ter problemas materiais desta natureza para desvalorizar a sua importância. Faz-me lembrar uma frase terrível que era costume usar, há umas décadas atrás, quando um pobre nos pedia esmola e nós não nos apetecia dar nada na altura, e dizíamos: "Tenha paciência...". O Corcunda acha que os pobres devem ter paciência e deixar-se de reivindicações de inspiração marxista...Podia terminar fazendo referência à soberba do Corcunda, que se arroga o direito, do alto da sua imensa sabedoria, de corrigir os tontinhos e ignorantes como eu... Mas não vale a pena...Nuno Cardoso da Silva