O Monárquico

03-08-2010
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Obesidade MentalNão gosto de fazer transcrições ou menções excessivamente longas. No entanto, não posso deixar de fazer referência a uma obra denominada “Mental Obesity”, escrita por um professor de Antropologia da Universidade de Harvard chamado Andrew Oitke. É fundamental questionarmos a sociedade moderna e reflectirmos sobre os problemas que nos rodeiam, especialmente nós que queremos algo mais para os nossos descendentes. Do país criador do “fast-food”, vem esta cogitação que importa decifrar. “Há apenas algumas décadas, a Humanidade tomou consciência dos perigos de excesso de gordura física devido a uma alimentação desregrada. Está na altura de se notar que os nossos abusos no campo da informação e conhecimento estão a criar problemas tão maus ou mais sérios que esses.(...)A nossa sociedade está mais atafulhada de preconceitos que de proteínas, mais intoxicada de lugares-comuns que de hidratos de carbono. As pessoas viciaram-se em estereótipos, juízos apressados, pensamentos tacanhos, condenações precipitadas. Toda a gente tem opinião sobre tudo, mas não conhece nada. Os cozinheiros desta magna “fast-food” intelectual são os jornalistas e os comentadores, os editores de informação e os filósofos, os romancistas e os realizadores de cinema. Os telejornais e telenovelas são os hambúrgueres do espirito, as revistas e romances são os donuts da imaginação.(...)Qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão doentes se comerem apenas doces e chocolates. Não se entende, então, como é que tantos educadores aceitam que a dieta mental das crianças seja composta por desenhos animados, videojogos e telenovelas. Com uma “alimentação intelectual” tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção, é normal que esses jovens nunca consigam, depois, uma vida saudável e equilibrada.(...)O jornalista alimenta-se hoje quase exclusivamente dos cadáveres das reputações, de detritos de escândalos, de restos mortais das realizações humanas. A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular. Só a parte morta e apodrecida da realidade é que chega aos jornais. O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades.(...)Não admira que, no meio da prosperidade e abundância, as grandes realizações do espírito humano estejam em decadência. A família é contestada, a tradição esquecida, a religião abandonada, a cultura banalizou-se, o folclore entrou em queda, a arte é fútil, paradoxal ou doentia. Floresce a pornografia, o cabotinismo, a imitação, a sensaboria, o egoísmo. Não se trata de uma decadência, uma “idade das trevas” ou o fim da civilização, como tantos apregoam. É só uma questão de obesidade. O homem moderno está adiposo no raciocínio, gostos se sentimentos. O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos. Precisa sobretudo de uma dieta mental.”Andrew Oitke, “Mental Obesity” (2001)Diogo Dantas


Obesidade MentalNão gosto de fazer transcrições ou menções excessivamente longas. No entanto, não posso deixar de fazer referência a uma obra denominada “Mental Obesity”, escrita por um professor de Antropologia da Universidade de Harvard chamado Andrew Oitke. É fundamental questionarmos a sociedade moderna e reflectirmos sobre os problemas que nos rodeiam, especialmente nós que queremos algo mais para os nossos descendentes. Do país criador do “fast-food”, vem esta cogitação que importa decifrar. “Há apenas algumas décadas, a Humanidade tomou consciência dos perigos de excesso de gordura física devido a uma alimentação desregrada. Está na altura de se notar que os nossos abusos no campo da informação e conhecimento estão a criar problemas tão maus ou mais sérios que esses.(...)A nossa sociedade está mais atafulhada de preconceitos que de proteínas, mais intoxicada de lugares-comuns que de hidratos de carbono. As pessoas viciaram-se em estereótipos, juízos apressados, pensamentos tacanhos, condenações precipitadas. Toda a gente tem opinião sobre tudo, mas não conhece nada. Os cozinheiros desta magna “fast-food” intelectual são os jornalistas e os comentadores, os editores de informação e os filósofos, os romancistas e os realizadores de cinema. Os telejornais e telenovelas são os hambúrgueres do espirito, as revistas e romances são os donuts da imaginação.(...)Qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão doentes se comerem apenas doces e chocolates. Não se entende, então, como é que tantos educadores aceitam que a dieta mental das crianças seja composta por desenhos animados, videojogos e telenovelas. Com uma “alimentação intelectual” tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção, é normal que esses jovens nunca consigam, depois, uma vida saudável e equilibrada.(...)O jornalista alimenta-se hoje quase exclusivamente dos cadáveres das reputações, de detritos de escândalos, de restos mortais das realizações humanas. A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular. Só a parte morta e apodrecida da realidade é que chega aos jornais. O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades.(...)Não admira que, no meio da prosperidade e abundância, as grandes realizações do espírito humano estejam em decadência. A família é contestada, a tradição esquecida, a religião abandonada, a cultura banalizou-se, o folclore entrou em queda, a arte é fútil, paradoxal ou doentia. Floresce a pornografia, o cabotinismo, a imitação, a sensaboria, o egoísmo. Não se trata de uma decadência, uma “idade das trevas” ou o fim da civilização, como tantos apregoam. É só uma questão de obesidade. O homem moderno está adiposo no raciocínio, gostos se sentimentos. O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos. Precisa sobretudo de uma dieta mental.”Andrew Oitke, “Mental Obesity” (2001)Diogo Dantas

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