Da Literatura: LER OS OUTROS

24-12-2009
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Um livro cada domingo. Não sei se David Sedaris (n. 1956) é muito ou pouco conhecido em Portugal. Quem lê a New Yorker ou a Esquire decerto sabe quem ele é. O seu livro mais recente, When You Are Engulfed in Flames (2008), acaba de ser traduzido por Duarte Sousa Tavares (um sinal de garantia) com o título Diário de um Fumador. Sedaris, diz a crítica mais conspícua, tem como predecessores Tobias Wolff, Flannery O’Connor e Kurt Vonnegut. Naked, talvez a mais famosa das suas colecções de ensaios, saiu em 1997. No mundo anglo-saxónico, Sedaris é um ícone. A New York Magazine não hesita em escrever: «Dramaturgo, escritor, estrela da rádio e duende de Natal reformado, David Sedaris é provavelmente o nova-iorquino mais brilhante e espirituoso desde Dorothy Parker.» Estão a ver a fasquia. A ler, absolutamente.Para irritar os patuscos do costume, esta crónica do Luis Novaes Tito.Jansenista: «Desde que mudou de BCP para Millenium, aquela simpática instituição cambista do Eng. Jardim só tem tido azares. E convenhamos que neste momento precisava tanto de um escândalo como cada um de nós precisa de uma dor de dentes. / Como os tempos são de crise, temos agora administradores a alinharem em falcatruas por 10 mil euros. Onde é que isto vai parar? Burlas a troco de um maço de tabaco? / Fica-se varado com a rasteirice…»José Simões: «O que é que alguém tem alguma coisa a ver com o que duas pessoas queiram muito bem fazer o que muito bem entenderem das suas vidas e das suas relações, para nos ser colocada a questão, pergunto eu. / A propósito, foi referendado no dia 27 de Setembro. Ganhou o “Sim”.»Luís Januário: «Todos os anos , antes do Natal, uma Tempestade, um Relâmpago, uma Face oculta. A PJ mostra que isto é um estado de direito, que os poderosos podem ser investigados. O povo rejubila. Na sociedade do espectáculo, o show da igualdade dos cidadãos perante a lei. Dura um mês. Alimenta umas sociedades de advogados, uns juízes e alguns intermediários. Há um incauto que cai. O Bibi ali, o Faria de Oliveira acolá. Há uns sobrinhos que têm de fazer as malas e uns tios que abandonam a ribalta até uma lua mais favorável. Depois chega o Ano Novo e, no terreno real dos Tribunais, a coisa resolve-se, entre a poeira e os recursos.»Paulo Gorjão: «Manuela Ferreira Leite consome mais de dois terços do espaço da sua crónica no Expresso a contar a história da carochinha. Há algum português que a desconheça? Convido o leitor a ir ver porque contado ninguém acredita. Enfim, no final, consegue escrever um parágrafo e meio sobre algo minimamente relevante, embora sem dizer nada de original ou de muito substantivo. Tem dias em que me parece que até os 29% obtidos nas legislativas foram um bom resultado. Poderia ter sido muito pior…»Rui Bebiano: «Mas alguém duvida de que este homem, como indica com invulgar perspicácia o camarada Fidel, tenha sido capaz de introduzir insidiosamente em Cuba a Gripe A?»Tomás Vasques: «Estava escrito nas estrelas que a direita, quando chegasse o momento, iria pedir que a legislação que permita o casamento entre pessoas do mesmo sexo fosse sujeita a referendo. [...] Jorge Bacelar Gouveia, deputado do PSD, deu o pontapé de saída. Não entendo porque motivo a direita se sente tão incomodada com a liberdade e os direitos dos outros, a não ser por submissão à doutrina do Vaticano. Mas há muito tempo que, por cá, a Igreja se separou do Estado. Os argumentos de Bacelar Gouveia são de uma fragilidade assustadora. Como diria Vasco Pulido Valente, são argumentos de “trolha ou de tipógrafo semi-analfabeto”, o que não fica bem a um professor catedrático. [...] Pedir um referendo sobre o casamento civil de pessoas do mesmo sexo só faria sentido político se tal tema não constasse no programa do partido (ou dos partidos) que vai propor a sua votação na Assembleia da República.» Etiquetas: Blogues, Nota de leitura

Um livro cada domingo. Não sei se David Sedaris (n. 1956) é muito ou pouco conhecido em Portugal. Quem lê a New Yorker ou a Esquire decerto sabe quem ele é. O seu livro mais recente, When You Are Engulfed in Flames (2008), acaba de ser traduzido por Duarte Sousa Tavares (um sinal de garantia) com o título Diário de um Fumador. Sedaris, diz a crítica mais conspícua, tem como predecessores Tobias Wolff, Flannery O’Connor e Kurt Vonnegut. Naked, talvez a mais famosa das suas colecções de ensaios, saiu em 1997. No mundo anglo-saxónico, Sedaris é um ícone. A New York Magazine não hesita em escrever: «Dramaturgo, escritor, estrela da rádio e duende de Natal reformado, David Sedaris é provavelmente o nova-iorquino mais brilhante e espirituoso desde Dorothy Parker.» Estão a ver a fasquia. A ler, absolutamente.Para irritar os patuscos do costume, esta crónica do Luis Novaes Tito.Jansenista: «Desde que mudou de BCP para Millenium, aquela simpática instituição cambista do Eng. Jardim só tem tido azares. E convenhamos que neste momento precisava tanto de um escândalo como cada um de nós precisa de uma dor de dentes. / Como os tempos são de crise, temos agora administradores a alinharem em falcatruas por 10 mil euros. Onde é que isto vai parar? Burlas a troco de um maço de tabaco? / Fica-se varado com a rasteirice…»José Simões: «O que é que alguém tem alguma coisa a ver com o que duas pessoas queiram muito bem fazer o que muito bem entenderem das suas vidas e das suas relações, para nos ser colocada a questão, pergunto eu. / A propósito, foi referendado no dia 27 de Setembro. Ganhou o “Sim”.»Luís Januário: «Todos os anos , antes do Natal, uma Tempestade, um Relâmpago, uma Face oculta. A PJ mostra que isto é um estado de direito, que os poderosos podem ser investigados. O povo rejubila. Na sociedade do espectáculo, o show da igualdade dos cidadãos perante a lei. Dura um mês. Alimenta umas sociedades de advogados, uns juízes e alguns intermediários. Há um incauto que cai. O Bibi ali, o Faria de Oliveira acolá. Há uns sobrinhos que têm de fazer as malas e uns tios que abandonam a ribalta até uma lua mais favorável. Depois chega o Ano Novo e, no terreno real dos Tribunais, a coisa resolve-se, entre a poeira e os recursos.»Paulo Gorjão: «Manuela Ferreira Leite consome mais de dois terços do espaço da sua crónica no Expresso a contar a história da carochinha. Há algum português que a desconheça? Convido o leitor a ir ver porque contado ninguém acredita. Enfim, no final, consegue escrever um parágrafo e meio sobre algo minimamente relevante, embora sem dizer nada de original ou de muito substantivo. Tem dias em que me parece que até os 29% obtidos nas legislativas foram um bom resultado. Poderia ter sido muito pior…»Rui Bebiano: «Mas alguém duvida de que este homem, como indica com invulgar perspicácia o camarada Fidel, tenha sido capaz de introduzir insidiosamente em Cuba a Gripe A?»Tomás Vasques: «Estava escrito nas estrelas que a direita, quando chegasse o momento, iria pedir que a legislação que permita o casamento entre pessoas do mesmo sexo fosse sujeita a referendo. [...] Jorge Bacelar Gouveia, deputado do PSD, deu o pontapé de saída. Não entendo porque motivo a direita se sente tão incomodada com a liberdade e os direitos dos outros, a não ser por submissão à doutrina do Vaticano. Mas há muito tempo que, por cá, a Igreja se separou do Estado. Os argumentos de Bacelar Gouveia são de uma fragilidade assustadora. Como diria Vasco Pulido Valente, são argumentos de “trolha ou de tipógrafo semi-analfabeto”, o que não fica bem a um professor catedrático. [...] Pedir um referendo sobre o casamento civil de pessoas do mesmo sexo só faria sentido político se tal tema não constasse no programa do partido (ou dos partidos) que vai propor a sua votação na Assembleia da República.» Etiquetas: Blogues, Nota de leitura

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