O Cachimbo de Magritte: Referendo ao casamento gay

28-12-2009
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(O assunto é o casamento gay e Bacelar Gouveia é o autor do artigo que saiu hoje no Público, “Casamento gay: nas costas dos portugueses?”)"Mas o que é mais extraordinário é que, tendo como principal argumento o facto do assunto não ser prioritário, o senhor Bacelar Gouveia, que acha que os deputados não têm legitimidade para cumprir o programa com o qual foram eleitos há dois meses, propõe a realização de um referendo. Ou seja, propõe que o país se mobilize todo para um tema que ele próprio acha, por causa da crise económica, secundário." Daniel Oliveira no ArrastãoOu seja, o Daniel Oliveira, que acha o assunto prioritário, considera que o Bacelar Gouveia, que não acha o assunto prioritário, é incoerente quando propõe a mobilização do País em torno do assunto. Bem vistas as coisas, então, seguindo a mesma forma sofística de pouco alcance, o Daniel Oliveira, que acha o assunto prioritário, é contraditório quando negligencia a mobilização do País em torno dele.Por outro lado, o Daniel Oliveira mente quando escreve que “o senhor Bacelar Gouveia, que acha que os deputados não têm legitimidade para cumprir o programa com o qual foram eleitos há dois meses….” Na verdade, no artigo do Público, Bacelar Gouveia escreve “sem obviamente questionar a legitimidade do órgão legislativo parlamentar…”, acrescentando de seguida “esta é uma das típicas decisões que numa democracia plena como a portuguesa só podem ser tomadas pelos portugueses em referendo nacional”. É evidente que o “só podem” aqui tem de ser entendido, não como uma deslegitimação do Parlamento, mas antes, e dada a natureza do assunto, como uma subalternização do Parlamento, entendido como conjunto de representantes ligados a partidos, em favor dos portugueses, cada um deles considerado na sua individualidade e posição face ao assunto.Toda a oportunidade do argumento aparece de forma muito transparente quando Bacelar Gouveia chama a atenção para o facto de que, neste assunto e outros de natureza semelhante, os deputados têm liberdade de voto, podendo votar contra quando o seu Partido se manifesta a favor e vice-versa. Quem é que não percebe o motivo e alcance disto? Aliás, precisamente porque o assunto não é uma prioridade, muitos eleitores votaram PS apesar do casamento gay e não por causa dele.Prioridade ou não, o casamento gay é um assunto sério, com implicações sociais relevantes. Os apologistas do casamento gay, dentro do PS e do BE, não querem que os portugueses se pronunciem sobre o assunto porque temem que a maioria seja contrária à lei que o possibilite. O fervor com que pretendem aprovar o casamento gay “nas costas dos portugueses”, como sugere o título escolhido por Bacelar Gouveia, é directamente proporcional à suspeita que têm de que a maioria parlamentar que aparentemente lhes é favorável neste assunto não é um reflexo efectivo do pensamento da maioria dos portugueses.


(O assunto é o casamento gay e Bacelar Gouveia é o autor do artigo que saiu hoje no Público, “Casamento gay: nas costas dos portugueses?”)"Mas o que é mais extraordinário é que, tendo como principal argumento o facto do assunto não ser prioritário, o senhor Bacelar Gouveia, que acha que os deputados não têm legitimidade para cumprir o programa com o qual foram eleitos há dois meses, propõe a realização de um referendo. Ou seja, propõe que o país se mobilize todo para um tema que ele próprio acha, por causa da crise económica, secundário." Daniel Oliveira no ArrastãoOu seja, o Daniel Oliveira, que acha o assunto prioritário, considera que o Bacelar Gouveia, que não acha o assunto prioritário, é incoerente quando propõe a mobilização do País em torno do assunto. Bem vistas as coisas, então, seguindo a mesma forma sofística de pouco alcance, o Daniel Oliveira, que acha o assunto prioritário, é contraditório quando negligencia a mobilização do País em torno dele.Por outro lado, o Daniel Oliveira mente quando escreve que “o senhor Bacelar Gouveia, que acha que os deputados não têm legitimidade para cumprir o programa com o qual foram eleitos há dois meses….” Na verdade, no artigo do Público, Bacelar Gouveia escreve “sem obviamente questionar a legitimidade do órgão legislativo parlamentar…”, acrescentando de seguida “esta é uma das típicas decisões que numa democracia plena como a portuguesa só podem ser tomadas pelos portugueses em referendo nacional”. É evidente que o “só podem” aqui tem de ser entendido, não como uma deslegitimação do Parlamento, mas antes, e dada a natureza do assunto, como uma subalternização do Parlamento, entendido como conjunto de representantes ligados a partidos, em favor dos portugueses, cada um deles considerado na sua individualidade e posição face ao assunto.Toda a oportunidade do argumento aparece de forma muito transparente quando Bacelar Gouveia chama a atenção para o facto de que, neste assunto e outros de natureza semelhante, os deputados têm liberdade de voto, podendo votar contra quando o seu Partido se manifesta a favor e vice-versa. Quem é que não percebe o motivo e alcance disto? Aliás, precisamente porque o assunto não é uma prioridade, muitos eleitores votaram PS apesar do casamento gay e não por causa dele.Prioridade ou não, o casamento gay é um assunto sério, com implicações sociais relevantes. Os apologistas do casamento gay, dentro do PS e do BE, não querem que os portugueses se pronunciem sobre o assunto porque temem que a maioria seja contrária à lei que o possibilite. O fervor com que pretendem aprovar o casamento gay “nas costas dos portugueses”, como sugere o título escolhido por Bacelar Gouveia, é directamente proporcional à suspeita que têm de que a maioria parlamentar que aparentemente lhes é favorável neste assunto não é um reflexo efectivo do pensamento da maioria dos portugueses.

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