Contra Capa: a doce anestesia da ignorância.

18-12-2009
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Não nego que em determinados momentos o melhor, e faço-o com frequência, é respirar fundo e brincar com as situações, caso não se adivinhe um caminho que conduza a algum tipo de evolução satisfatória ou tão simplesmente, porque não tendo ao facilitismo no que respeita a dramas.Mas outros há, em que é dificil qualquer réstia de humor ou mesmo indiferença.Isto para dizer que, das notícias que fui apanhando ontem entre um doente e outro, fui-me apercebendo dos temas cruciais que dominaram o dia. E assim, entre a mega operação de marketing sobre a abertura de uma nova hiper unidade de saúde privada que "não é para ricos", dizia-se (os pobres agradecem!), e a lavagem da roupa entre Portas e R.Castro com lexívia fora de prazo (parece que as cuecas voltaram a sair da máquina manchadas) -pronto, às vezes não resisto-........ dizia eu, entre os grandes e cruciais temas da vida nacional, num cantinho do jornal da noite, assim como quem não quer a coisa, ficamos a saber que O PS rejeitou que fosse recomendado ao Governo a inclusão da vacina contra o cancro do colo do útero no Programa Nacional de Vacinação (PNV), proposta pelo Partido Ecologista “Os Verdes”. E, pasme-se!: Por "falta ainda muita informação científica": Os socialistas foram os únicos deputados a votar contra este projecto de resolução, à excepção de duas deputadas do PS que também votaram a favor.Para o deputado socialista de quem não me lembro o nome e sinceramente não me faz diferença esquecer, a vacina, já comercializada nas farmácias portuguesas a um custo de quase 500 euros,"ainda não está suficientemente estudada". Claro. A doce e conveniente anestesia da ignorânca nunca falha e justifica muita coisa.Sendo assim, e não querendo que os nossos deputados permaneçam nas trevas do desconhecimento, acrescenta-se o seguinte....Qualquer pessoa que tenha qualquer tipo de actividade sexual envolvendo contato genital está sujeito a ser infectado por HPV genital e, como explicou o director do serviço de Ginecologia do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Coimbra"Basta que haja contacto; às vezes nem é preciso que haja consumação da relação sexual"; desmistificou ainda a ideia de que o vírus esteja associado a comportamentos de promiscuidade, já que o HPV pode ficar em período de encubação no organismo durante vários anos. Como muitas pessoas portadoras do HPV não apresentam nenhum sinal ou sintoma, podem transmitir o vírus mesmo sem saber. O HPV é altamente contagioso; assim, é possível adquiri-lo com uma única exposição. Dois terços das pessoas que tiveram contato sexual com um parceiro infectado vão desenvolver uma infecção pelo HPV no período de 3 meses, de acordo com a OMS.A origem viral do cancro do colo do útero já foi largamente provada. O DNA do HPV pode ser encontrado em 99,7% de todos os cancros do colo do útero. A infecção por um subtipo HPV é um pré requisito necessário para o desenvolvimento do cancro do colo do útero. A OMS reconhece o HPV 16 e 18 como agentes carcinogénicos para os humanos. Na Europa, o cancro do colo do útero é a segunda causa de morte mais frequente de cancro (depois do cancro da mama) entre mulheres jovens (15-44 anos). Todos os anos, aproximadamente, 33.500 mulheres são diagnosticadas e 15.000 acabam por morrer desta doença só na Europa††. Mata uma mulher a cada dois minutos — uma por dia em Portugal — e destrói a vida sexual, familiar e social das sobreviventes deste carcinoma.Portugal regista a mais alta incidência da Europa deste tipo de cancro, cuja principal causa é o HPV, com 900 novos casos por ano e mais de 300 casos mortais.A vacina foi desenvolvida para prevenir precocemente o cancro do colo do útero, bem como outras doenças provocadas pelo HPV. Em diferentes ensaios clínicos, a vacina demonstrou 100% de eficácia na prevenção de precursores do cancro cervical invasivo e de precursores dos cancros da vulva e da vagina devido aos tipos 16 e 18 do HPV. A vacina também demonstrou 100% de eficácia na prevenção de lesões cervicais precoces. É vendida sob receita médica e não comparticipada pelo Serviço Nacional de Saúde.Será suficiente?.Imaginei que o assunto geraria revolta. Imaginei que hoje, iria encontrar por aí, na imprensa e nos blogs, várias posições indignadas com esta resolução. Vinha até preparada para responder que, enfim, talvez não seja fundamental incluir a vacina no programa nacional, que bastaria que fosse comparticipada para quem a quisesse fazer; o que seria uma garantia de que toda a gente seria tratada com igualdade na decisão de se vacinar, já que a não comparticipação, constitui uma real discriminação em função da situação económica de cada mulher, que se consubstancia no facto de só adquirir a vacina quem a pode pagar, como bem consideraram "os Verdes".O que me chocou foi ver a indiferença em relação a uma decisão tomada de forma leviana e mentirosa que exclui claramente uma significativa parte da população do uso de uma vacina que previne uma doença fatal. Comprovadamente. Só mais uma coisinha.... se a lamentável indiferença com que o assunto foi tratado tiver alguma coisa a ver com o facto de a a maioria de quem decide e de quem opina ser constituida por homens, talvez seja bom relembrar mais uma afirmação do director do serviço de Ginecologia IPO de Coimbra:"Os homens não estão isentos deste problema. Sendo eles normalmente os portadores da doença, infectando depois as mulheres, podem igualmente sofrer cancro do pénis e cancro anal devido a este vírus."A prevalência da infecção pelo HPV na população masculina é significativa. Entretanto, a maior parte dos homens infectados não apresentam sintomas clínicos.A cadeia de transmissão está definida e começa a considerar-se a recomendação da vacina aos rapazes..(Já agora, alguém pensou em entrevistar alguns ginecologistas sobre o assunto?)


Não nego que em determinados momentos o melhor, e faço-o com frequência, é respirar fundo e brincar com as situações, caso não se adivinhe um caminho que conduza a algum tipo de evolução satisfatória ou tão simplesmente, porque não tendo ao facilitismo no que respeita a dramas.Mas outros há, em que é dificil qualquer réstia de humor ou mesmo indiferença.Isto para dizer que, das notícias que fui apanhando ontem entre um doente e outro, fui-me apercebendo dos temas cruciais que dominaram o dia. E assim, entre a mega operação de marketing sobre a abertura de uma nova hiper unidade de saúde privada que "não é para ricos", dizia-se (os pobres agradecem!), e a lavagem da roupa entre Portas e R.Castro com lexívia fora de prazo (parece que as cuecas voltaram a sair da máquina manchadas) -pronto, às vezes não resisto-........ dizia eu, entre os grandes e cruciais temas da vida nacional, num cantinho do jornal da noite, assim como quem não quer a coisa, ficamos a saber que O PS rejeitou que fosse recomendado ao Governo a inclusão da vacina contra o cancro do colo do útero no Programa Nacional de Vacinação (PNV), proposta pelo Partido Ecologista “Os Verdes”. E, pasme-se!: Por "falta ainda muita informação científica": Os socialistas foram os únicos deputados a votar contra este projecto de resolução, à excepção de duas deputadas do PS que também votaram a favor.Para o deputado socialista de quem não me lembro o nome e sinceramente não me faz diferença esquecer, a vacina, já comercializada nas farmácias portuguesas a um custo de quase 500 euros,"ainda não está suficientemente estudada". Claro. A doce e conveniente anestesia da ignorânca nunca falha e justifica muita coisa.Sendo assim, e não querendo que os nossos deputados permaneçam nas trevas do desconhecimento, acrescenta-se o seguinte....Qualquer pessoa que tenha qualquer tipo de actividade sexual envolvendo contato genital está sujeito a ser infectado por HPV genital e, como explicou o director do serviço de Ginecologia do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Coimbra"Basta que haja contacto; às vezes nem é preciso que haja consumação da relação sexual"; desmistificou ainda a ideia de que o vírus esteja associado a comportamentos de promiscuidade, já que o HPV pode ficar em período de encubação no organismo durante vários anos. Como muitas pessoas portadoras do HPV não apresentam nenhum sinal ou sintoma, podem transmitir o vírus mesmo sem saber. O HPV é altamente contagioso; assim, é possível adquiri-lo com uma única exposição. Dois terços das pessoas que tiveram contato sexual com um parceiro infectado vão desenvolver uma infecção pelo HPV no período de 3 meses, de acordo com a OMS.A origem viral do cancro do colo do útero já foi largamente provada. O DNA do HPV pode ser encontrado em 99,7% de todos os cancros do colo do útero. A infecção por um subtipo HPV é um pré requisito necessário para o desenvolvimento do cancro do colo do útero. A OMS reconhece o HPV 16 e 18 como agentes carcinogénicos para os humanos. Na Europa, o cancro do colo do útero é a segunda causa de morte mais frequente de cancro (depois do cancro da mama) entre mulheres jovens (15-44 anos). Todos os anos, aproximadamente, 33.500 mulheres são diagnosticadas e 15.000 acabam por morrer desta doença só na Europa††. Mata uma mulher a cada dois minutos — uma por dia em Portugal — e destrói a vida sexual, familiar e social das sobreviventes deste carcinoma.Portugal regista a mais alta incidência da Europa deste tipo de cancro, cuja principal causa é o HPV, com 900 novos casos por ano e mais de 300 casos mortais.A vacina foi desenvolvida para prevenir precocemente o cancro do colo do útero, bem como outras doenças provocadas pelo HPV. Em diferentes ensaios clínicos, a vacina demonstrou 100% de eficácia na prevenção de precursores do cancro cervical invasivo e de precursores dos cancros da vulva e da vagina devido aos tipos 16 e 18 do HPV. A vacina também demonstrou 100% de eficácia na prevenção de lesões cervicais precoces. É vendida sob receita médica e não comparticipada pelo Serviço Nacional de Saúde.Será suficiente?.Imaginei que o assunto geraria revolta. Imaginei que hoje, iria encontrar por aí, na imprensa e nos blogs, várias posições indignadas com esta resolução. Vinha até preparada para responder que, enfim, talvez não seja fundamental incluir a vacina no programa nacional, que bastaria que fosse comparticipada para quem a quisesse fazer; o que seria uma garantia de que toda a gente seria tratada com igualdade na decisão de se vacinar, já que a não comparticipação, constitui uma real discriminação em função da situação económica de cada mulher, que se consubstancia no facto de só adquirir a vacina quem a pode pagar, como bem consideraram "os Verdes".O que me chocou foi ver a indiferença em relação a uma decisão tomada de forma leviana e mentirosa que exclui claramente uma significativa parte da população do uso de uma vacina que previne uma doença fatal. Comprovadamente. Só mais uma coisinha.... se a lamentável indiferença com que o assunto foi tratado tiver alguma coisa a ver com o facto de a a maioria de quem decide e de quem opina ser constituida por homens, talvez seja bom relembrar mais uma afirmação do director do serviço de Ginecologia IPO de Coimbra:"Os homens não estão isentos deste problema. Sendo eles normalmente os portadores da doença, infectando depois as mulheres, podem igualmente sofrer cancro do pénis e cancro anal devido a este vírus."A prevalência da infecção pelo HPV na população masculina é significativa. Entretanto, a maior parte dos homens infectados não apresentam sintomas clínicos.A cadeia de transmissão está definida e começa a considerar-se a recomendação da vacina aos rapazes..(Já agora, alguém pensou em entrevistar alguns ginecologistas sobre o assunto?)

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