Lauro António Apresenta...: Lauro Corado

22-12-2009
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Carta a meu pai, ainda por causa do SCP auto retrato de Lauro Corado (Museu de Aveiro) Íamos lado a lado, Campo Grande fora, até ao estádio. Eram tardes de domingo. Domingos de sol ou acinzentados de Outono, domingos pingados de chuva miudinha. Levavas contigo uma daquelas almofadas de plástico, acolchoadas, verdes, pois claro, dobrada ao meio, que servia para te atenuar o frio do cimento da bancada. Falávamos de futebol. Do jogo que se adivinhava, do anterior que ainda se digeria. Às vezes, mal: o árbitro que errara, a equipa que jogara mal ou não tivera a sorte do jogo do seu lado (sim, porque há dias em que, por muito bem que se jogue, a bola nunca entra, bate nas pernas, na trave, no poste, vai para fora ou o guarda-redes contrário faz a exibição da sua vida!). Pelas bermas da avenida iam ficando os carros, arrumados à pressa. Mais perto do estádio, os comes e bebes, os coiratos e as cervejolas, as tendas com “souvenirs”, as bandeiras e os cachecóis, os gorros e os portas chaves, uma animação semanal que atravessávamos, curiosos, parando aqui e ali. Depois o jogo, sentados lado a lado, dois companheiros, que ali se uniam ainda mais pela mesma cor, a mesma bandeira, o mesmo emblema, os mesmos ídolos que faziam de homens feitos meninos coleccionadores de cromos da bola. Gritávamos, protestavas com veemência, vivias o jogo com intensidade, sem remorsos. Longe estava ainda o tempo das claques telecomandadas da grosseria colectiva. Naquela altura ofendia-se lealmente o árbitro, de homem para homem, com a inspiração do momento. Lembras-te daquele jogo decisivo em que ficamos literalmente com os pés no ar, comprimidos numa das entradas da bancada, até ao apito final que nos fez campeões? Foi o último campeonato ganho, antes do jejum de 18 anos. Tu, infelizmente, já não já sofreste com essa contrariedade. Mas todas as semanas não esqueço a nossa viagem. Por isso, até domingo, pai. Vamos ganhar! Este ano é que voltamos a ganhar o campeonato! o filho de Lauro Corado, em dois quadros do pintor(Museu de Aveiro)


Carta a meu pai, ainda por causa do SCP auto retrato de Lauro Corado (Museu de Aveiro) Íamos lado a lado, Campo Grande fora, até ao estádio. Eram tardes de domingo. Domingos de sol ou acinzentados de Outono, domingos pingados de chuva miudinha. Levavas contigo uma daquelas almofadas de plástico, acolchoadas, verdes, pois claro, dobrada ao meio, que servia para te atenuar o frio do cimento da bancada. Falávamos de futebol. Do jogo que se adivinhava, do anterior que ainda se digeria. Às vezes, mal: o árbitro que errara, a equipa que jogara mal ou não tivera a sorte do jogo do seu lado (sim, porque há dias em que, por muito bem que se jogue, a bola nunca entra, bate nas pernas, na trave, no poste, vai para fora ou o guarda-redes contrário faz a exibição da sua vida!). Pelas bermas da avenida iam ficando os carros, arrumados à pressa. Mais perto do estádio, os comes e bebes, os coiratos e as cervejolas, as tendas com “souvenirs”, as bandeiras e os cachecóis, os gorros e os portas chaves, uma animação semanal que atravessávamos, curiosos, parando aqui e ali. Depois o jogo, sentados lado a lado, dois companheiros, que ali se uniam ainda mais pela mesma cor, a mesma bandeira, o mesmo emblema, os mesmos ídolos que faziam de homens feitos meninos coleccionadores de cromos da bola. Gritávamos, protestavas com veemência, vivias o jogo com intensidade, sem remorsos. Longe estava ainda o tempo das claques telecomandadas da grosseria colectiva. Naquela altura ofendia-se lealmente o árbitro, de homem para homem, com a inspiração do momento. Lembras-te daquele jogo decisivo em que ficamos literalmente com os pés no ar, comprimidos numa das entradas da bancada, até ao apito final que nos fez campeões? Foi o último campeonato ganho, antes do jejum de 18 anos. Tu, infelizmente, já não já sofreste com essa contrariedade. Mas todas as semanas não esqueço a nossa viagem. Por isso, até domingo, pai. Vamos ganhar! Este ano é que voltamos a ganhar o campeonato! o filho de Lauro Corado, em dois quadros do pintor(Museu de Aveiro)

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