ambio: As contas do Programa Nacional de Barragens

19-12-2009
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Pasmado com as afirmações do Ministro do Ambiente, no Público, resolvi ler os relatórios que constam do "Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico" com intuito de procurar entender as razões que justificam a construção das 10 novas barragens. Surpreendentemente o meu pasmo não diminuiu.Os dados hidrológicos utilizados para justificar a necessidade de construção de 10 novas barragens e assim aumentar a potencia actual instalada de 5000 MB para 7000 MB consistem em séries hidrológicas observadas e em nenhum momento se consideram os modelos sobre disponibilidades hídricas futuras!Ou seja, ainda que existam previsões que apontem para reduções de 20% da capacidade de produção de energia hidroeléctrica até 2020, que estas previsões estejam reconhecidas pelo Governo Português (Portugal subscreve os relatórios do IPCC) e que os dados produzidos pelos modelos hidrológicos estejam disponíveis, a equipa que produziu o relatório resolveu, inexplicavelmente, assumir um cenário sem alterações climáticas para justificar a necessidade de investimentos hidroeléctricos futuros.Isto quer dizer que, qualquer que seja o investimento necessário para construir as referidas barragens, haverá que descontar 20% de rentabilidade até 2020, 20-30% até 2050 e 50% até 2070. Os 7000 MW de potencia instalada prevista pelo relatório, com a construção de mais 10 barragens, serão, possivelmente, 3500 MB em 2070; menos dos que os 5000 MB actuais!Será um investimento razoável no quadro dos recursos limitados de que dispomos? Não parece.Se o Governo está seriamente preocupado com a questão energética terá, obrigatoriamente, de chumbar este relatório e solicitar um relatório com valores corrigidos pelo efeito da redução de disponibilidade hídrica num contexto de alterações climáticas.Terá também, à luz destes valores corrigidos, oferecer uma comparação que falta e que se impõe para justificar qualquer que seja a opção energética que Portugal deverá adoptar no futuro, i.e., uma análise rigorosa e ampla de alternativas.Visto que uma das justificações centrais para a construção das novas barragens é permitir o armazenamento de energia eólica nos picos de produção de energia eólica, que coincidem com picos de baixo consumo, importa clarificar em que medida não se consegue obter a necessária capacidade de armazenamento com a reconversão de barragens existentes. No caso da resposta ser negativa (ou parcialmente negativa pois nalguns casos estas reconversões já estão a ser planificadas) importa analisar com rigor quais seriam as barragens imprescindíveis para as necessidades de armazenamento de energia eólica.Existem poucos elementos que suportem a ideia de que o investimento em 10 novas barragens para produção de energia hidroeléctrica seja uma aposta racional. Fica por justificar a necessidade de construção de novas barragens para armazenamento de energia eólica. Façam-se as contas de novo, com simulações hidrológicas realistas e estude-se, de forma rigorosa, a viabilidade de alternativas designadamente a energia solar que, como se sabe, será um recurso abundante num Portugal cada vez mais quente.Há muitas perguntas que ficam por responder com o relatório produzido e é preocupante constatar que decisões tão importantes, como seja a construção de 10 barragens novas num País tão pequeno como o nosso, sejam suportadas por estudos que partem de pressupostos errados.


Pasmado com as afirmações do Ministro do Ambiente, no Público, resolvi ler os relatórios que constam do "Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico" com intuito de procurar entender as razões que justificam a construção das 10 novas barragens. Surpreendentemente o meu pasmo não diminuiu.Os dados hidrológicos utilizados para justificar a necessidade de construção de 10 novas barragens e assim aumentar a potencia actual instalada de 5000 MB para 7000 MB consistem em séries hidrológicas observadas e em nenhum momento se consideram os modelos sobre disponibilidades hídricas futuras!Ou seja, ainda que existam previsões que apontem para reduções de 20% da capacidade de produção de energia hidroeléctrica até 2020, que estas previsões estejam reconhecidas pelo Governo Português (Portugal subscreve os relatórios do IPCC) e que os dados produzidos pelos modelos hidrológicos estejam disponíveis, a equipa que produziu o relatório resolveu, inexplicavelmente, assumir um cenário sem alterações climáticas para justificar a necessidade de investimentos hidroeléctricos futuros.Isto quer dizer que, qualquer que seja o investimento necessário para construir as referidas barragens, haverá que descontar 20% de rentabilidade até 2020, 20-30% até 2050 e 50% até 2070. Os 7000 MW de potencia instalada prevista pelo relatório, com a construção de mais 10 barragens, serão, possivelmente, 3500 MB em 2070; menos dos que os 5000 MB actuais!Será um investimento razoável no quadro dos recursos limitados de que dispomos? Não parece.Se o Governo está seriamente preocupado com a questão energética terá, obrigatoriamente, de chumbar este relatório e solicitar um relatório com valores corrigidos pelo efeito da redução de disponibilidade hídrica num contexto de alterações climáticas.Terá também, à luz destes valores corrigidos, oferecer uma comparação que falta e que se impõe para justificar qualquer que seja a opção energética que Portugal deverá adoptar no futuro, i.e., uma análise rigorosa e ampla de alternativas.Visto que uma das justificações centrais para a construção das novas barragens é permitir o armazenamento de energia eólica nos picos de produção de energia eólica, que coincidem com picos de baixo consumo, importa clarificar em que medida não se consegue obter a necessária capacidade de armazenamento com a reconversão de barragens existentes. No caso da resposta ser negativa (ou parcialmente negativa pois nalguns casos estas reconversões já estão a ser planificadas) importa analisar com rigor quais seriam as barragens imprescindíveis para as necessidades de armazenamento de energia eólica.Existem poucos elementos que suportem a ideia de que o investimento em 10 novas barragens para produção de energia hidroeléctrica seja uma aposta racional. Fica por justificar a necessidade de construção de novas barragens para armazenamento de energia eólica. Façam-se as contas de novo, com simulações hidrológicas realistas e estude-se, de forma rigorosa, a viabilidade de alternativas designadamente a energia solar que, como se sabe, será um recurso abundante num Portugal cada vez mais quente.Há muitas perguntas que ficam por responder com o relatório produzido e é preocupante constatar que decisões tão importantes, como seja a construção de 10 barragens novas num País tão pequeno como o nosso, sejam suportadas por estudos que partem de pressupostos errados.

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