Salazar e Simplexidade

10-08-2010
marcar artigo

Deveria ser evidente que a relação entre as direitas portuguesas e o legado salazarista não é assunto fácil. E, no entanto, é cada vez maior a facilidade com que o PS de Sócrates afirma uma suposta continuidade entre Ferreira Leite e Salazar. Mesmo que a primeira ajude à festa, quem leve a sério o problema do salazarismo em Portugal deveria discutir seriamente o perigo do seu regresso, o que obviamente implica exceder a figura de Manuela Ferreira Leite. Possivelmente, o PS de Sócrates não leva a sério o problema do fascismo e limita-se a ver o antifascismo como um tema histórico que lhe permite atalhar caminho na sua recente tentativa de aproximação aos eleitores que têm votado nos partidos à sua esquerda e aos sectores alegristas que pensam vir a fazê-lo. Não sei se este atalho levará o PS de Sócrates a algum lado e, assim de repente, lembro-me apenas da grande cruzada antifascista que embalou a derrota de João Soares às mãos de Pedro Santana Lopes. Mas há uma coisa que o apelo do PS de Sócrates consegue: simplificar as coisas a tal ponto que a política dispensa qualquer análise mais complexa. Com efeito, a simplexidade com que se vem agora estabelecer uma linha de continuidade entre PSD e salazarismo começa por fazer esquecer que, mesmo durante o tempo do fascismo, as análises efectuadas pelos principais sectores da oposição, a começar pelo próprio PCP, não eram assim tão pouco sofisticadas que nos levassem a rotular de fascista todos os seres vivos que não se reivindicavam de esquerda ou de centro-esquerda. Não se compreende, aliás, que o PS de Sócrates se atire ao ar sempre que alguém diz que PS e PSD estão cada vez mais iguais e que, pelo contrário, não hesite um segundo que seja na hora de dizer que PSD e Salazar estão abençoados pelo mesmo espírito.

PS e PSD não são iguais, por certo, mas PSD e Salazar também não são iguais. Isto não quer dizer que daqui se apoie Manuela Ferreira Leite, pois não temos que limitar as nossas opções à dicotomia “Ferreira Leite – Oliveira Salazar”. Tal como reconhecer que PS e PSD são diferentes não significa que tenhamos que limitar as nossas opções à dicotomia “Sócrates – Ferreira Leite”. O boletim de voto tem mais do que duas casas.

Deveria ser evidente que a relação entre as direitas portuguesas e o legado salazarista não é assunto fácil. E, no entanto, é cada vez maior a facilidade com que o PS de Sócrates afirma uma suposta continuidade entre Ferreira Leite e Salazar. Mesmo que a primeira ajude à festa, quem leve a sério o problema do salazarismo em Portugal deveria discutir seriamente o perigo do seu regresso, o que obviamente implica exceder a figura de Manuela Ferreira Leite. Possivelmente, o PS de Sócrates não leva a sério o problema do fascismo e limita-se a ver o antifascismo como um tema histórico que lhe permite atalhar caminho na sua recente tentativa de aproximação aos eleitores que têm votado nos partidos à sua esquerda e aos sectores alegristas que pensam vir a fazê-lo. Não sei se este atalho levará o PS de Sócrates a algum lado e, assim de repente, lembro-me apenas da grande cruzada antifascista que embalou a derrota de João Soares às mãos de Pedro Santana Lopes. Mas há uma coisa que o apelo do PS de Sócrates consegue: simplificar as coisas a tal ponto que a política dispensa qualquer análise mais complexa. Com efeito, a simplexidade com que se vem agora estabelecer uma linha de continuidade entre PSD e salazarismo começa por fazer esquecer que, mesmo durante o tempo do fascismo, as análises efectuadas pelos principais sectores da oposição, a começar pelo próprio PCP, não eram assim tão pouco sofisticadas que nos levassem a rotular de fascista todos os seres vivos que não se reivindicavam de esquerda ou de centro-esquerda. Não se compreende, aliás, que o PS de Sócrates se atire ao ar sempre que alguém diz que PS e PSD estão cada vez mais iguais e que, pelo contrário, não hesite um segundo que seja na hora de dizer que PSD e Salazar estão abençoados pelo mesmo espírito.

PS e PSD não são iguais, por certo, mas PSD e Salazar também não são iguais. Isto não quer dizer que daqui se apoie Manuela Ferreira Leite, pois não temos que limitar as nossas opções à dicotomia “Ferreira Leite – Oliveira Salazar”. Tal como reconhecer que PS e PSD são diferentes não significa que tenhamos que limitar as nossas opções à dicotomia “Sócrates – Ferreira Leite”. O boletim de voto tem mais do que duas casas.

marcar artigo