ambio: Novo riquismo

20-01-2011
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Por causa deste post aqui, e da discussão que houve sobre a relevância deste assunto na lista, acabei por pedir em concreto quanto gastou a Assembleia da República em águas engarrafadas.Com eficiência e rapidez que se regista, aqui está a resposta:"informo-o de que, por referência ao ano de 2010 e em média, foram consumidas mensalmente na Assembleia da República 3900 garrafas de água (33 cl) e 174 garrafas de água (1,5 l), com um custo mensal total de € 346,80.".Sabemos agora o custo anual (mais de quatro mil euros) e sabemos as quantidades (pouco mais de 1500 litros de água). Sabemos então que a mesma quantidade em preços da EPAL teria custado aos contribuintes qualquer coisa entre os dois e os três euros (fazendo umas contas generosas).Houve quem criticasse a minha classificação do Conselho de Administração da AR como novos ricos com o argumento de que há milhares de pessoas que bebem água engarrafada e nem por isso são novos-ricos.O novo-riquismo não está no facto de só se beber água engarrafada. Há quem não goste da água da torneira, em alguns concelhos com toda a justificação (quando vivi em Rio Maior, durante muito tempo, não bebia água da torneira, mas depois a coisa melhorou).Mas é preciso esclarecer que este tipo de opções são iguais à de quem não quer comer numa cantina e vai ao restaurante do lado, isto é, é um luxo beber água engarrafada.Ora o novo-riquismo está em achar normal que sejam os contribuintes a pagar luxos em vez de achar que o dinheiro dos contribuintes deve pagar o essencial.Dou de barato a iliteracia ambiental que produz a justificação de que as garrafas de água são recicláveis (uma das primeiras medidas emblemáticas de Sócrates, quando foi Secretário de Estado do Ambiente, não foi uma portaria que obrigava ao uso de garrafas de vidro na hotelaria e similares? A Portaria foi revogada? Que nunca foi cumprida sei eu, mas foi revogada?).A Assembleia da República não é um sítio qualquer.As suas opções têm um peso simbólico.E nesta opção que foi feita (e que aparentemente os deputados pretendem reverter, e bem) o que a Assembleia disse foi:1) não é um luxo beber água engarrafada, quando efectivamente é e o seu IVA não deveria ser 6% mas sim 23%;2) não é confiável beber água da torneira, o que está por provar;3) não é fashion nem chique usar jarros de água da torneirra porque pode ser uma porcaria;4) reduzir não é importante se se pode reciclar, um dos maiores equívocos da gestão de resíduos;5) é uma complicação logística inultrapassável não usar produtos embalados6) e por último, gastar ou não gastar 4000 euros por ano do dinheiro dos contribuintes é irrelevante.O Conselho de Administração da Assembleia da República esqueceu-se do seu papel simbólico.Não pode depois queixar-se de que os cidadãos também o esqueçam e deixem de a respeitar.O assunto é mínimo? É.Quer isso dizer que não tem importância? Não.Ele reflecte todo um ambiente de falta de respeito pelo dinheiro dos contribuintes e de falta de atenção aos gestos quotidianos que decidem a maior ou menor sustentabilidade das sociedades.henrique pereira dos santos


Por causa deste post aqui, e da discussão que houve sobre a relevância deste assunto na lista, acabei por pedir em concreto quanto gastou a Assembleia da República em águas engarrafadas.Com eficiência e rapidez que se regista, aqui está a resposta:"informo-o de que, por referência ao ano de 2010 e em média, foram consumidas mensalmente na Assembleia da República 3900 garrafas de água (33 cl) e 174 garrafas de água (1,5 l), com um custo mensal total de € 346,80.".Sabemos agora o custo anual (mais de quatro mil euros) e sabemos as quantidades (pouco mais de 1500 litros de água). Sabemos então que a mesma quantidade em preços da EPAL teria custado aos contribuintes qualquer coisa entre os dois e os três euros (fazendo umas contas generosas).Houve quem criticasse a minha classificação do Conselho de Administração da AR como novos ricos com o argumento de que há milhares de pessoas que bebem água engarrafada e nem por isso são novos-ricos.O novo-riquismo não está no facto de só se beber água engarrafada. Há quem não goste da água da torneira, em alguns concelhos com toda a justificação (quando vivi em Rio Maior, durante muito tempo, não bebia água da torneira, mas depois a coisa melhorou).Mas é preciso esclarecer que este tipo de opções são iguais à de quem não quer comer numa cantina e vai ao restaurante do lado, isto é, é um luxo beber água engarrafada.Ora o novo-riquismo está em achar normal que sejam os contribuintes a pagar luxos em vez de achar que o dinheiro dos contribuintes deve pagar o essencial.Dou de barato a iliteracia ambiental que produz a justificação de que as garrafas de água são recicláveis (uma das primeiras medidas emblemáticas de Sócrates, quando foi Secretário de Estado do Ambiente, não foi uma portaria que obrigava ao uso de garrafas de vidro na hotelaria e similares? A Portaria foi revogada? Que nunca foi cumprida sei eu, mas foi revogada?).A Assembleia da República não é um sítio qualquer.As suas opções têm um peso simbólico.E nesta opção que foi feita (e que aparentemente os deputados pretendem reverter, e bem) o que a Assembleia disse foi:1) não é um luxo beber água engarrafada, quando efectivamente é e o seu IVA não deveria ser 6% mas sim 23%;2) não é confiável beber água da torneira, o que está por provar;3) não é fashion nem chique usar jarros de água da torneirra porque pode ser uma porcaria;4) reduzir não é importante se se pode reciclar, um dos maiores equívocos da gestão de resíduos;5) é uma complicação logística inultrapassável não usar produtos embalados6) e por último, gastar ou não gastar 4000 euros por ano do dinheiro dos contribuintes é irrelevante.O Conselho de Administração da Assembleia da República esqueceu-se do seu papel simbólico.Não pode depois queixar-se de que os cidadãos também o esqueçam e deixem de a respeitar.O assunto é mínimo? É.Quer isso dizer que não tem importância? Não.Ele reflecte todo um ambiente de falta de respeito pelo dinheiro dos contribuintes e de falta de atenção aos gestos quotidianos que decidem a maior ou menor sustentabilidade das sociedades.henrique pereira dos santos

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