PUXAPALAVRA: As sequelas confessionais no Estado laico

20-05-2011
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As sequelas confessionais no Estado laico

Segundo as novas regras impostas nos hospitais pelo ministro da Saúde a assistência religiosa aos doentes passa a depender do desejo deste que deverá ser expresso por escrito.

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Portugal só lentamente se consegue libertar das sequelas do Estado confessional. A Igreja católica foi no passado a par do trono e da nobreza o grande pilar do poder, um poder profundamente opressor da esmagadora maioria da população, de acordo com os estádios civilizacionais de cada época. Sem esquecer que sempre na Igreja houve movimentos, ainda que minoritários e frequentemente em confronto com a hierarquia, defensores empenhados na luta pela justiça social.

A primeira revolução do século passado, em 1910, que substituiu a monarquia pela República, pôs fim a inúmeros privilégios absurdos que castigavam a massa do povo e criou o Estado laico separando a Igreja do Estado. A perda de privilégios e do monopólio sobre os instrumentos de condicionamento cultural e mental dos Portugueses levou a hierarquia da Igreja a desencadear uma luta sem tréguas contra o nosso regime libertador que veio a ter sucesso com o golpe militar de 28 de Maio, de 1926 que abriu o caminho para a ditadura fascista e subjugou o país 48 anos, com a censura à comunicação social, a proibição de partidos e sindicatos livres, com as missas a louvar a santidade do ditador Salazar, com a proibição do direito de reunião, com a criação de uma polícia política. O país foi assim posto ao serviço de uma casta e de uma visão rural-clerical feita de seminário e Santa Comba Dão. A Igreja ou, se se preferir, a sua hierarquia, foi durante a ditadura de meio século, não apenas cúmplice mas, com as forças armadas, o principal pilar, ostensivo e militante, do regime opressor.

A segunda revolução do século XX, em 1974 repôs a democracia e a liberdade, separou de novo a Igreja do Estado e acabou com o monopólio de privilégios de que ela gozava. Mas trinta e quatro anos depois da revolução a Igreja ainda se mantém entrosada no Estado. Os sacerdotes católicos são os únicos que mantém um vínculo laboral com o Estado. Nas forças armadas, nas polícias, nas prisões e nos hospitais. O semanário O Sol revela que, por exemplo, o Hospital da Feira, gerido por regras empresariais, dispensou o capelão poupando o seu ordenado de cerca de 1200 euros. O mesmo Sol diz que os bispos estão indignados com aquela medida do Governo.

Estou de acordo com as medidas agora tomadas. No entanto, para tentar perceber melhor a situação fiz o seguinte exercício, troquei a religião católica pela muçulmana, procurando libertar o juízo acerca da medida governamental da nossa enraizada formação católica. Eis então como ficaria a notícia:

As sequelas confessionais no Estado laico

Segundo as novas regras impostas nos hospitais pelo ministro da Saúde a assistência religiosa aos doentes passa a depender do desejo deste que deverá ser expresso por escrito.

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Portugal só lentamente se consegue libertar das sequelas do Estado confessional. A Igreja católica foi no passado a par do trono e da nobreza o grande pilar do poder, um poder profundamente opressor da esmagadora maioria da população, de acordo com os estádios civilizacionais de cada época. Sem esquecer que sempre na Igreja houve movimentos, ainda que minoritários e frequentemente em confronto com a hierarquia, defensores empenhados na luta pela justiça social.

A primeira revolução do século passado, em 1910, que substituiu a monarquia pela República, pôs fim a inúmeros privilégios absurdos que castigavam a massa do povo e criou o Estado laico separando a Igreja do Estado. A perda de privilégios e do monopólio sobre os instrumentos de condicionamento cultural e mental dos Portugueses levou a hierarquia da Igreja a desencadear uma luta sem tréguas contra o nosso regime libertador que veio a ter sucesso com o golpe militar de 28 de Maio, de 1926 que abriu o caminho para a ditadura fascista e subjugou o país 48 anos, com a censura à comunicação social, a proibição de partidos e sindicatos livres, com as missas a louvar a santidade do ditador Salazar, com a proibição do direito de reunião, com a criação de uma polícia política. O país foi assim posto ao serviço de uma casta e de uma visão rural-clerical feita de seminário e Santa Comba Dão. A Igreja ou, se se preferir, a sua hierarquia, foi durante a ditadura de meio século, não apenas cúmplice mas, com as forças armadas, o principal pilar, ostensivo e militante, do regime opressor.

A segunda revolução do século XX, em 1974 repôs a democracia e a liberdade, separou de novo a Igreja do Estado e acabou com o monopólio de privilégios de que ela gozava. Mas trinta e quatro anos depois da revolução a Igreja ainda se mantém entrosada no Estado. Os sacerdotes católicos são os únicos que mantém um vínculo laboral com o Estado. Nas forças armadas, nas polícias, nas prisões e nos hospitais. O semanário O Sol revela que, por exemplo, o Hospital da Feira, gerido por regras empresariais, dispensou o capelão poupando o seu ordenado de cerca de 1200 euros. O mesmo Sol diz que os bispos estão indignados com aquela medida do Governo.

Estou de acordo com as medidas agora tomadas. No entanto, para tentar perceber melhor a situação fiz o seguinte exercício, troquei a religião católica pela muçulmana, procurando libertar o juízo acerca da medida governamental da nossa enraizada formação católica. Eis então como ficaria a notícia:

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