ambio: Pinóquio

24-12-2009
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Eu sou inegavelmente favorável às energias renováveis, mas gosto de saber quanto tenho de pagar por isso porque não acredito que haja almoços grátis.Como tinha de desossar uma galinha, uma actividade que ocupa as mãos e liberta o cérebro, deu-me para pensar que se mais de 50% do nosso déficit anual está relacionado com o petróleo, então as energias renováveis devem resolver o assunto e ajudar a pagar as nossas dívidas, libertando crédito para a economia, que bem precisa.Entusiasmei-me com a ideia e deixei correr o argumento, só que logo me lembrei que défice energético e défice de electricidade não são a mesma coisa, portanto pelo menos no que não é electricidade (e é muito) as renováveis não servem para resolver.Mas há o carro eléctrico, pensei. Mas de facto temos de comprar os carros lá fora (ou pelo menos as partes com maior valor acrescentado) e voltei a esmorecer um bocadinho.Para a frente e nada de negativismo, fazer parques eólicos em força para reduzir a dívida. Aqui corei um bocadinho, percebi a infantilidade do argumento, porque não só a construção de eólicos e barragens é actividade de capital intensivo (o que obriga a criar dívida e não a diminuir, pelo menos no curto prazo), como temos de comprar uma boa parte das coisas que precisamos lá fora, o que aumenta o défice com o exterior.Não faz mal, é investimento e paga-se com o retorno da operação desses equipamentos. Ooops, parece que a operação é deficitária, pelo menos para já, e tem de ser financiada com tarifas especiais, mais altas, o que quer dizer que temos de pagar o custo suplementar para a economia através da energia mais cara. E se assim é, os nossos produtos perdem competitividade e os produtos de quem tiver a energia mais barata ganham competitividade em relação aos nossos. Provavelmente importamos mais e exportamos menos, e aumentamos outra vez o défice que queríamos diminuir.Dei graças por estar sozinho, não ter tido a oportunidade de me entusiasmar a explicar a alguém o raciocínio simples e genial de que parti (se o défice é energético, ter energias renováveis é diminuir o défice) e retornei realisticamente à minha posição base:renováveis é bom, com conta, peso e medida, eficiência energética é muito melhor e os dois têm custos que é preciso quantificar em cada momento.Agora percebo porque não passa pela cabeça de ninguém responsável e sério responder que se combate o endividamento com energias renováveis.No fundo, no fundo era o que eu já tinha dito aqui.E nem sei por que razão me lembrei outra vez disto hoje.henrique pereira dos santos


Eu sou inegavelmente favorável às energias renováveis, mas gosto de saber quanto tenho de pagar por isso porque não acredito que haja almoços grátis.Como tinha de desossar uma galinha, uma actividade que ocupa as mãos e liberta o cérebro, deu-me para pensar que se mais de 50% do nosso déficit anual está relacionado com o petróleo, então as energias renováveis devem resolver o assunto e ajudar a pagar as nossas dívidas, libertando crédito para a economia, que bem precisa.Entusiasmei-me com a ideia e deixei correr o argumento, só que logo me lembrei que défice energético e défice de electricidade não são a mesma coisa, portanto pelo menos no que não é electricidade (e é muito) as renováveis não servem para resolver.Mas há o carro eléctrico, pensei. Mas de facto temos de comprar os carros lá fora (ou pelo menos as partes com maior valor acrescentado) e voltei a esmorecer um bocadinho.Para a frente e nada de negativismo, fazer parques eólicos em força para reduzir a dívida. Aqui corei um bocadinho, percebi a infantilidade do argumento, porque não só a construção de eólicos e barragens é actividade de capital intensivo (o que obriga a criar dívida e não a diminuir, pelo menos no curto prazo), como temos de comprar uma boa parte das coisas que precisamos lá fora, o que aumenta o défice com o exterior.Não faz mal, é investimento e paga-se com o retorno da operação desses equipamentos. Ooops, parece que a operação é deficitária, pelo menos para já, e tem de ser financiada com tarifas especiais, mais altas, o que quer dizer que temos de pagar o custo suplementar para a economia através da energia mais cara. E se assim é, os nossos produtos perdem competitividade e os produtos de quem tiver a energia mais barata ganham competitividade em relação aos nossos. Provavelmente importamos mais e exportamos menos, e aumentamos outra vez o défice que queríamos diminuir.Dei graças por estar sozinho, não ter tido a oportunidade de me entusiasmar a explicar a alguém o raciocínio simples e genial de que parti (se o défice é energético, ter energias renováveis é diminuir o défice) e retornei realisticamente à minha posição base:renováveis é bom, com conta, peso e medida, eficiência energética é muito melhor e os dois têm custos que é preciso quantificar em cada momento.Agora percebo porque não passa pela cabeça de ninguém responsável e sério responder que se combate o endividamento com energias renováveis.No fundo, no fundo era o que eu já tinha dito aqui.E nem sei por que razão me lembrei outra vez disto hoje.henrique pereira dos santos

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