A Cassete

20-05-2011
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Honra seja feita ao Dr. Álvaro Cunhal. Desta vez não se repetiu, repetiram-no. Álvaro Cunhal (Coimbra, 1913-Lisboa, 2005) foi ilustrador acidental, mais empenhado na luta política e na polémica ensaística. Ilustrando a primeira edição de Esteiros, obra seminal do Neorrealismo literário português, estava obviamente mais interessado no conteúdo que na forma. A figuração neorrealista típica estava perto mas só com Manuel Ribeiro de Pavia atingiria o seu esplendor, em meados da década. O traço e a modelação incipientes e a composição e grafismo tímidos, não fazem propriamente uma capa memorável. Mas as caras famélicas e os andrajos dos três rapazes denunciam explicitamente a sua condição de deserdados sociais e as opções políticas do ilustrador. Cunhal trabalhava como regente de estudos no Colégio Moderno, a convite de João Soares, pai de Mário Soares, quando fez a capa para as Edições Sirius, em 1941. Em Dezembro do mesmo ano, acossado pela polícia política, entrou mais uma vez na clandestinidade.

João Carlos (Ílhavo, 1899-Lisboa, 1960) ilustrou a segunda versão. Não sabemos as razões da cópia. Apenas supor que ela foi assumida, embora com outras preocupações artísticas. Entre 1943 e 46, João Carlos assina portentosas capas para a Editorial Gleba, nomeadamente para as duas coleções Romances Célebres e Romancistas de Hoje. Nesta última, em 1946, sai a segunda edição de Esteiros. As diferenças formais são notórias, a encenação é evidente, os contrastes vincados e elementos dramáticos como as nuvens são acrescentados. Os petizes transformam-se em despreocupados aventureiros, o que também não fica mal ao enredo do livro. Não seria João Carlos, atormentado humanista, insensível ao infortúnio dos personagens. Mas a sua gramática gráfica não realista, afirma o primado da forma sobre o conteúdo. E com nova forma, um conteúdo novo.

Honra seja feita ao Dr. Álvaro Cunhal. Desta vez não se repetiu, repetiram-no. Álvaro Cunhal (Coimbra, 1913-Lisboa, 2005) foi ilustrador acidental, mais empenhado na luta política e na polémica ensaística. Ilustrando a primeira edição de Esteiros, obra seminal do Neorrealismo literário português, estava obviamente mais interessado no conteúdo que na forma. A figuração neorrealista típica estava perto mas só com Manuel Ribeiro de Pavia atingiria o seu esplendor, em meados da década. O traço e a modelação incipientes e a composição e grafismo tímidos, não fazem propriamente uma capa memorável. Mas as caras famélicas e os andrajos dos três rapazes denunciam explicitamente a sua condição de deserdados sociais e as opções políticas do ilustrador. Cunhal trabalhava como regente de estudos no Colégio Moderno, a convite de João Soares, pai de Mário Soares, quando fez a capa para as Edições Sirius, em 1941. Em Dezembro do mesmo ano, acossado pela polícia política, entrou mais uma vez na clandestinidade.

João Carlos (Ílhavo, 1899-Lisboa, 1960) ilustrou a segunda versão. Não sabemos as razões da cópia. Apenas supor que ela foi assumida, embora com outras preocupações artísticas. Entre 1943 e 46, João Carlos assina portentosas capas para a Editorial Gleba, nomeadamente para as duas coleções Romances Célebres e Romancistas de Hoje. Nesta última, em 1946, sai a segunda edição de Esteiros. As diferenças formais são notórias, a encenação é evidente, os contrastes vincados e elementos dramáticos como as nuvens são acrescentados. Os petizes transformam-se em despreocupados aventureiros, o que também não fica mal ao enredo do livro. Não seria João Carlos, atormentado humanista, insensível ao infortúnio dos personagens. Mas a sua gramática gráfica não realista, afirma o primado da forma sobre o conteúdo. E com nova forma, um conteúdo novo.

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